Pesquisa revela hostilidade excessiva contra quem pedala por BH

Raquel Ramos - Hoje em Dia
04/09/2015 às 06:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:38
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Deixou de ser mera impressão para se tornar fato: Belo Horizonte é uma cidade pouco amigável aos ciclistas. Cerca de 80% deles já sofreram algum tipo de violência, como fechadas ou ameaças. O dado é uma das conclusões da pesquisa “Descobrindo como #BHPedala”, cujos resultados foram divulgados nesta semana.

À frente da iniciativa, o gestor ambiental Guilherme Tampieri afirma que, em 40 dias, 1.043 pessoas responderam a um questionário on-line, tornando esse o maior estudo sobre o tema já realizado na capital. O Hoje em Dia apoiou a pesquisa.

Na avaliação de Tampieri, foi possível traçar o perfil detalhado de quem anda de bicicleta em BH. A maioria dos que utilizam o veículo é do sexo masculino (71%), tem entre 25 a 39 anos (64%) e mora na região Centro-Sul ou Leste (51%).

Entre os que usam a bike como meio de transporte, mais de 60% fizeram essa escolha nos últimos três anos – indicativo de que, aos poucos, mais pessoas têm escolhido um novo meio de se locomover, e de que muitos ainda estão se acostumando com o trânsito da cidade.

A maior surpresa, porém, diz respeito às dificuldades enfrentadas pelos ciclistas diariamente. Além de uma infraestrutura deficiente, eles ainda têm que lidar com uma série de violências enquanto pedalam. “Não esperávamos que tantas pessoas relatassem já ter sido alvo de ameaças, fechadas, socos e até cusparadas. Isso mostra o quanto ainda temos a evoluir”.

Inconveniência

As taxas de assédio com conotação sexual, especificamente, são bem maiores entre as mulheres. Cerca de 60% das participantes da pesquisa relataram ter vivenciado situações constrangedoras, como cantadas, enquanto andavam de bicicleta. Entre os rapazes, o índice foi de 5%.

Para Amanda Corradi, integrante do BH em Ciclos, o alto percentual de violência justifica, em parte, a tímida presença de ciclistas do sexo feminino nas ruas. “Certamente isso as inibe e desestimula o uso do equipamento”.

A pequena quantidade de mulheres ciclistas também é um indicativo de que Belo Horizonte ainda oferece pouca segurança para quem faz da bicicleta o principal meio de transporte, diz Amanda.

A explicação é simples: mais avessas a riscos em comparação com os homens, já se sabe que apenas nas cidades com boa infraestrutura elas aparecerão com mais frequência nas ruas.

Incentivo

Os resultados da pesquisa serão apresentados a representantes da Prefeitura de Belo Horizonte. A expectativa, segundo Guilherme Tampieri, é a de que os dados subsidiem o poder público no desenvolvimento de campanhas que tenham como principal objetivo estimular o uso da bike na cidade.

“Essa é a tendência em todo o mundo. Andar de bicicleta é uma escolha muito inteligente. Desafoga o trânsito e contribui para a preservação do meio ambiente”.

Nota baixa para os quesitos extensão e conexão das pistas

Numa escala de 1 a 10, os entrevistados puderam avaliar as estruturas cicloviárias de Belo Horizonte. O julgamento da maioria dos ciclistas foi negativo: mais de 90% deram notas de 1 a 5 aos quesitos extensão e conexão das pistas.

Ao que tudo indica, a situação não deve melhorar em curto prazo. Embora a BHTrans tenha prometido, no ano passado, chegar ao fim de 2016 com 240 quilômetros de ciclovias espalhados pela cidade, a meta está longe de ser alcançada.

Trabalho pela frente

Atualmente, a capital conta com 74,42 quilômetros de vias destinadas a bicicletas, informou a autarquia. Até o fim deste ano, mais 20,49 quilômetros de rotas devem ser implantados – a maior parte nas regionais Barreiro (8,1 quilômetros) e Venda Nova (7,3 quilômetros).

Mesmo que as obras em andamento sejam entregues à população dentro do prazo, a BHTrans ainda terá muito trabalho pela frente para cumprir o objetivo: exatos 149,1 quilômetros de ciclovias para serem construídos em apenas um ano. Na prática, significa aumentar em mais de sete vezes o ritmo do trabalho feito em 2015.

Na avaliação do gestor ambiental Guilherme Tampieri, integrante de diversos movimentos de ciclistas, Belo Horizonte está no caminho certo. No entanto, o progresso está sendo feito de forma lenta.

Por outro lado, ele vê uma tentativa da prefeitura em transformar a cidade em um local mais amigável para os que andam de bicicleta. “Faltam mais legislações sobre o tema. Até hoje, por exemplo, somos proibidos de pedalar nos parques da capital. Essa é uma regra que deveria ser desconstruída”.

Hoje, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo contam com 400 e 200 quilômetros de ciclovia, respectivamente

Nova pesquisa voltada para ciclistas já está em andamento; desta vez, os resultados serão comparados com o de outras nove cidades, como Rio, São Paulo e Salvador, que fazem o mesmo estudo; as conclusões serão divulgadas em novembro

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