Pesquisa revela que 74% das mulheres da área da segurança já sofreram assédio no trabalho

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
10/10/2020 às 15:39.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:46
 (Rede Social Exército Brasileiro)

(Rede Social Exército Brasileiro)

Uma pesquisa feita por dois juízes com quase duas mil mulheres que atuam nas instituições de Segurança Pública e Forças Armadas, em todo o país, revelou que 74% delas já sofreram assédio sexual no ambiente de trabalho. 

O objetivo do levantamento é expor a realidade enfrentada pelas profissionais das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal e Penal, além do Corpo de Bombeiros, Guarda Civil, Exército, Marinha e Aeronáutica.

Os resultados da pesquisa foram apresentados neste sábado (10),  data em que se comemora “Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher”.

Na oportunidade, os juízes e professores Mariana Aquino e Rodrigo Foureaux, idealizadores do estudo, lançaram a campanha nacional  "10 Medidas contra o Assédio Sexual", que visa a propor soluções para a conscientização e combate à violência sexual nessas instituições. 

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Eles também vão apresentar um anteprojeto de lei cujo objetivo é criar mecanismos para combater o assédio na área. "As instituições devem adotar, como política institucional, medidas que conscientizem os servidores, policiais e militares sobre a necessidade de prevenir, coibir e erradicar o assédio sexual dentro das instituições. Até porque elas, dentre as suas diversas finalidades, tratam da prevenção e combate à violência na sociedade, mas não cuidam dessa questão em âmbito interno",  afirma Rodrigo Foureaux.

Para a juíza federal Mariana Aquino, da Justiça Militar, a pesquisa foi realizada em função da necessidade de levantar dados e informações sobre o assédio sexual nas instituições de segurança pública e Forças Armadas do Brasil. "Nosso objetivo macro é engajar a população e o Poder Público nessa importante causa e fomentar a adoção de medidas preventivas e de combate a esse tipo de violência no país", destaca. 

Alto índice de assédio

Os dados apontam que 83% das mulheres assediadas não denunciaram, principalmente por "não acreditarem na instituição", "medo de sofrer represália", "medo de se expor ou "de atrapalhar a carreira".

A pesquisa revelou ainda que a maioria das pessoas que denunciaram sofreu represálias e o assediador não foi punido. "As instituições ou não adotam política de prevenção e combate ao assédio sexual ou o que fazem é insuficiente", destaca Foureaux.

O estudo abrangeu 700 casos, por escrito, de mulheres em todas as regiões do país. "Há relatos de estupro que 'não deram em nada', além de inúmeros relatos absurdos e chocantes, muito difíceis de serem escritos e lidos. Há várias mulheres que disseram ter tido depressão e pensamentos suicidas; inclusive, uma das nossas entrevistadas afirmou que pensou em matar o assediador. Várias mulheres relataram sequelas e a realização de tratamento médico e psicológico. Há um alto número de relatos de que chefes e superiores hierárquicos pedem favores sexuais para concederem privilégios e benefícios para as mulheres na carreira", explica Mariana Aquino.
 
Grande parte dos assediadores ( 85,5%) são superiores hierárquicos das profissionais. "Durante uma reunião, um coronel pôs a mão na minha perna por baixo da mesa; eu me afastei, olhei com cara feia e os outros oficiais da reunião (todos homens) olharam pra mim sem entender. Eu fiquei com medo de dizer o que havia ocorrido (pois sempre dizem que estamos exagerando) e me calei. Depois, o coronel veio dizer que foi sem querer e pedir desculpas, disse realmente não percebeu", relatou uma vítima.

Sobre as consequências após a denúncia, 36,9%  das vítimas informaram que nada ocorreu após a denúncia e 51% das mulheres disseram que sofreram represálias após a denúncia.

Já em relação à sensação de proteção para denunciar o assédio sexual  (78,7%) revelaram que não se sentem seguras, enquanto 60,5% responderam que nunca foram assediadas se sentem seguras para fazer a denúncia.

Além disso, a grande maioria das instituições (92%) não possui campanha de prevenção e combate ao assédio sexual. Entre as principais formas de assédio, as mulheres citaram propostas indecentes, insinuações e cantadas e contatos físicos. "O oficial ficou me chamando para sair, para ir com ele em uma festa para a gente beber muito e se divertir, eu disse que não bebia e saí de perto, ele me seguiu e disse que me ensinaria e que a gente ia se divertir muito. Uma outra vez, outro oficial me chamou no canto e disse que eu estava muito bonita, muito sexy de maquiagem, que havia gostado de mim daquele jeito é ficou me olhando com desejo."

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