Pesquisadora da UFMG identifica quatro drogas que podem ser eficientes no tratamento contra a Covid

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
20/07/2020 às 19:36.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:04
 (UFMG/Divulgação)

(UFMG/Divulgação)

Enquanto muitos pesquisadores pelo mundo verificam se a ivermectina e outros vermífugos são eficientes no tratamento contra a Covid-19, um estudo indica que outras quatro drogas têm potencial de inibir a infecção causada pelo novo coronavírus. Trabalhos feitos com softwares e em laboratório indicaram que brequinar, acetato de abiraterona, extrato de Hedera helix e neomicina poderiam ser usados em novos testes.

O estudo, ainda em fase de apreciação para publicação, analisou 65 compostos químicos, por meio de testes in vitro, realizados em culturas de células vivas e in silico, feitos por meio de simulação computacional.

Na UFMG, a professora Ludmila Ferreira, do Instituto de Ciências Biológicas, verificou por meio da bioinformática como cada fármaco reagiria com células infectadas com o RNA do novo coronavírus. “Trabalhamos com um software que mantém um banco de dados com tudo que já foi publicado sobre determinado vírus ou molécula em todo o mundo. A partir disso, é possível analisar como as drogas vão reagir com proteínas do vírus, verificando se a replicação do vírus vai diminuir, aumentar, se vai ter morte celular”, explicou a professora, que coordena o Laboratório de Biologia de Sistemas de RNA.

Desde março, a professora utilizou o software para analisar diferentes ações de drogas e enviou para o professor Lucio Freitas, da USP, que coordena um laboratório de experiências in vitro de ações de fármacos no novo coronavírus. A combinação entre os dois métodos permitiu a verificação de que quatro drogas poderiam ter sucesso no tratamento.

As análises indicaram que os medicamentos brequinar e acetato de abiraterona podem ter “atividade antiviral potente e seletiva” contra o Sars-CoV-2, enquanto o extrato de Hedera helix e a neomicina foram avaliados “com atividade antiviral moderada”.

Ludmila explica que, antes de adotar esses medicamentos, é preciso passar por diferentes níveis de estudos em animais e humanos. “O que acontece in vitro nem sempre será o melhor tratamento. A cloroquina se mostrou muito eficiente em testes in vitro, mas depois se mostrou questionável durante os estudos com pacientes. De dez drogas analisadas com potenciais no tratamento, normalmente apenas uma será realmente adotada para o tratamento”, explicou.

Alerta

Dos quatro medicamentos, o único de acesso mais fácil é o extrato de Hedera helix, presente em xaropes fitoterápicos. “Mas não adianta tomar o xarope para prevenir a Covid. Ele é um expectorante. A pessoa vai começar a tossir sem motivo. Além disso, mesmo que essa substância se mostre eficiente no combate ao coronavírus, não sabemos qual é a dosagem”, avisou a pesquisadora.

Já o brequinar é usado no tratamento de pessoas com leucemia, o acetato de abiraterona no tratamento do câncer de próstata e a neomicina para infecções em mucosas e pele.

Ivermectina

Pelo software, a professora analisou também ivermectina e a nitazoxanida, drogas que vêm sendo usadas no tratamento da Covid-19 mesmo antes de comprovação científica – há estudos in vitro realizados com sucesso, mas ainda sem resultados em análises com pacientes. Ela verificou que esses fármacos não só matam o novo coronavírus, como também as células.

“A ivermectina é um ótimo medicamento de ação antiparasitária, mas é uma droga aprovada para aquela doença, naquela dosagem. Na experiência que fizemos, vimos que a dosagem que seria eficiente para o coronavírus é capaz de matar todas as células. Ou seja diminui a replicação viral, mas provoca a morte celular”, completou a pesquisadora.

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