Pesquisadora mineira identifica ‘evolução’ em jabuti

Letícia Alves - Hoje em Dia
16/09/2015 às 06:51.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:46
 (Aline Fidelix)

(Aline Fidelix)

As enchentes prolongadas na Amazônia mudaram o comportamento do jabuti-amarelo, conhecido como jabuti-tinga em Minas Gerais. Por causa dos longos períodos de cheia, o animal terrestre, ameaçado de extinção, adaptou-se ao ambiente aquático, flutuando e descansando em pequenos galhos por até cinco meses, revelou um estudo inédito liderado pela pesquisadora mineira Thaís Morcatty, formada na UFMG.

A descoberta foi divulgada neste mês pelo Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e publicada na revista científica internacional Oryx, que aborda assuntos sobre conservação da biodiversidade.

Mesmo sendo observações recentes, a pesquisadora considera que provavelmente os jabutis sobrevivam na água há centenas de anos. “Não temos uma justificativa para eles ocuparem essas áreas, mas sabemos que o ambiente de várzea é muito produtivo, com disponibilidade de alimentos”, explica.

O estudo

A pesquisa foi iniciada em março de 2013, com a coordenação de Thaís e do paulista João Valsecchi, além do apoio de 20 assessores locais. Ela foi convidada a participar de uma seleção para o instituto e propôs o estudo sobre os jabutis, que, na época, só haviam sido observados em cativeiro.

A ideia inicial da mineira era observar o comportamento dos jabutis e impacto sobre o ambiente, mas ao longo do estudo verificou que eles passaram a habitar a floresta inundada nas reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã. As áreas alagáveis ocupam um espaço equivalente ao território da Alemanha.

O fenômeno surpreendeu os pesquisadores. “Por mais que a gente esperasse que isso não pudesse acontecer, o jabuti conseguiu se adaptar e viver bem nesse tipo de ambiente mesmo sendo um animal terrestre”, afirma Thaís.

Alterações

Por causa das enchentes, os pesquisadores acreditam que o ciclo reprodutivo dos animais, normalmente de oito meses em cativeiro, tenha sido encurtado para sobrevivência em áreas alagadas. Essa teoria ainda será confirmada em outras etapas do estudo. Também estão sendo analisadas as áreas de utilização dos jabutis nas reservas, a interferência da época do ano e do fluxo dos rios, as fontes alimentares e a capacidade reprodutiva.

De acordo com Thaís, o estudo dos animais, tanto na água quanto na terra, é importante para definição de estratégias para a manutenção da espécie.

O jabuti, animal da família dos quelônios brasileiros, grupo que inclui répteis com carapaça, é comumente comercializado, consumido e criado como animal de estimação.

É classificado como vulnerável à extinção pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) e também faz parte da lista do acordo internacional Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagens).

Alguns jabutis foram encontrados no pico da cheia, quando a profundidade mínima é de dois metros; nesse período, as pesquisas foram realizadas com o auxílio de canoas

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