Pesquisadores da UFMG alertam para os riscos da presença do coronavírus no esgoto

Lucas Borges
@lucaslborges91
30/03/2020 às 18:58.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:08
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

Uma nota técnica publicada na última semana pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis - sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - e que se dedica a pesquisas e ações relacionadas ao tratamento de esgoto, alerta para a presença do coronavírus na rede de escoamento de dejetos.

O texto do INCT faz referência a um estudo divulgado pela revista britânica The Lancet Gastroenterol Hepatol, em que pacientes com a covid-19 apresentaram em suas fezes o RNA do Sars-CoV-2, o novo coronavírus, causador da doença.

As análises também constataram em cerca de metade dos pacientes investigados, que a detecção do RNA viral se deu por cerca de 11 dias após as amostras do trato respiratório testarem negativo.

De acordo com a publicação, tal situação indica a replicação ativa do vírus no sistema gastrointestinal e a possibilidade da transmissão via feco-oral ocorrer mesmo após o trato respiratório estar livre do vírus.

O estudo da revista britânica afirma que também há evidências da presença de outros coronavírus (como o Sars-CoV e o Mers-CoV) nas fezes e de sua capacidade de permanecerem viáveis em condições que facilitariam a transmissão via feco-oral.

Cuidados

Coordenador do INCT, o professor Carlos Chernicharo destaca a necessidade de cuidado pelos trabalhadores e pesquisadores do setor para evitar a contaminação.

“Os profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam amostras de esgoto, não podem abrir mão de medidas como a utilização de equipamentos de proteção individual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis (partículas finíssimas, sólidas ou líquidas, suspensas no ar), para evitar a contaminação”, completa Chernicharo,

Ainda segundo a nota técnica, medidas de segurança ocupacional, já adotadas como padrão, são eficazes na proteção contra o coronavírus e outros patógenos presentes no esgoto.

Covid-19 nos rios

Outra preocupação dos pesquisadores da UFMG é a possibilidade de uma grande carga viral estar sendo despejada nos rios neste momento de pandemia.

"Como consequência, poderá aumentar a disseminação do Sars-CoV-2 no ambiente e a infecção da parcela mais vulnerável da população, que não tem acesso a infraestrutura adequada de saneamento básico”, afirma a nota técnica, que é assinada por Carlos Chernicharo e pelos colegas de INCT César Mota e Juliana Araújo, também professores da UFMG.

O texto recomenda ações coordenadas urgentes dos profissionais das áreas de saúde, saneamento, universidades e governos no cenário atual de emergência de saúde pública.

A publicação ressalta que cerca de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a serviços de coleta de esgoto e 35 milhões não usam água tratada, também segundo o SNIS 2018. O INCT ETEs Sustentáveis afirma que já foi procurado pelo governo estadual para discutir o assunto.

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