Pichação, uma das várias mazelas do Centro de BH

Raquel Ramos - Hoje em Dia
21/07/2014 às 06:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:27
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Ponto de encontro da alta sociedade, com variadas opções de lazer, ruas bonitas e arborizadas. Pode ser difícil de acreditar, mas a descrição se refere ao Centro de Belo Horizonte, porém, nos longínquos anos 50 e 60. Um cenário que em nada se assemelha aos dias atuais, quando a sujeira e a pichação predominam. Somam-se a isso o domínio do espaço por moradores de rua, o uso e tráfico de drogas e o comércio ambulante, evidências da ausência do poder público

Degradado também pela ação do tempo, o coração da capital mineira aparenta estar fora da lista de prioridades da prefeitura. Em uma série de reportagens, o Hoje em Dia mostra alguns dos problemas que afligem o Centro.
As pichações são um dos maiores desafios. Estão espalhadas por viadutos, fachadas, equipamentos públicos e até pelo patrimônio tombado.

Apenas a legislação é insuficiente para inibir os autores. Desde 1993, a comercialização de tintas spray só é permitida mediante apresentação de identidade e CPF, mas a regra é desconhecida. “Aqui, só não vendemos para menores”, disse a funcionária de uma loja especializada na rua da Bahia.

Com acesso fácil ao produto, a cidade fica à mercê dos vândalos, e uma verdadeira queda de braço é travada entre pichadores e as autoridades.

Em 2013, seis faxinas foram realizadas apenas no obelisco da Praça 7, segundo a Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização. Neste ano, outras limpezas foram realizadas no mesmo ponto, bem como na sede da prefeitura. O serviço é rotineiro e, de acordo com a secretaria, só é feito quando há demanda.

Mãos atadas

A corrida para tirar as marcas do Centro da capital tem sido em vão. A própria prefeita reconhece estar longe de conseguir frear a ação dos vândalos.

“É uma questão muito complexa, difícil de ser enfrentada”, afirma Tiago Fantini, gerente do projeto Movimento Respeito por BH. Embora não haja classe social ou faixa etária específica dos que cometem o crime, todos têm em comum uma motivação ideológica. “Por trás de cada (rabisco), há uma denúncia. Isso faz com que os pichadores não se enxerguem como vândalos ou cidadãos sem consciência. Ao contrário, acreditam que o comportamento é positivo”, diz.

Para dar um fim definitivo à prática, explica Fanini, não basta criminalizar a pichação, como já ocorre. “É necessário também dialogar com os grupos e tratar o assunto sob o ponto de vista antropológico e sociológico”.

Consequência direta do abandono e esquecimento

Para especialistas, a decadência do Centro de Belo Horizonte está associada ao esquecimento e abandono, tanto pela população quanto pelas autoridades. “A região perde vida após as 18h. Com as lojas fechadas e ruas vazias, vândalos sentem-se livres para agir”, afirma Sérgio Myssior, membro do Conselho Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-MG).

Segundo ele, o dever do poder público é garantir a conservação dessa área. No passado, explica Myssior, acreditava-se que pouco adiantava investir nos locais abertos, que fatalmente acabariam se deteriorando pelo uso indevido.

Porém, experiências recentes mostram que a população tende a retribuir o cuidado. “Os projetos de revitalização devem contar com a participação da sociedade. É um fator-chave para que criem o sentimento de pertencimento e de corresponsabilidade”, aconselha.

A última grande intervenção na Praça 7 foi realizada em 2003, quando esse cartão-postal da cidade passou a integrar o acervo operacional do Museu Histórico Abílio Barreto.

Na reforma, cada um dos quatro quarteirões foi fechado, conforme previa projetos desenvolvidos por diferentes grupos de arquitetos. Rebatizados, os espaços ganharam nomes de tribos indígenas que vivem em Minas Gerais.

 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por