PM registra queda no número de roubos no hipercentro da capital

Gabriela Sales - Hoje em Dia (*)
25/06/2015 às 06:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:37
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Enquanto o número de roubos aumenta em Belo Horizonte de maneira geral, conforme dados divulgados pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), referentes aos cinco primeiros meses do ano, uma área específica da cidade registra uma tendência de queda. E justamente numa região que sempre foi associada a crimes contra o patrimônio: o hipercentro.


No perímetro formado pelas praças 7, Raul Soares e Rio Branco e o Mercado Central, o número de ocorrências de roubo caiu 16,5% de janeiro à primeira quinzena de junho, em comparação com o mesmo período do ano passado – ou , em números absolutos, 867 ante 1.038.


Pelo hipercentro, circulam diariamente 2 milhões de pessoas, em média, um atrativo para o “amigo do alheio”. Ao primeiro descuido, ladrões batem carteira, levam celulares ou arrancam correntinhas de ouro.


Segundo a PM, o reforço no policiamento e o mapeamento das áreas de risco explicam a redução no número de casos. “O planejamento para realização de operações mais constantes foi primordial para a queda nos índices. Além disso, tivemos um reforço na equipe, com a formação de novos sargentos, o que otimizou o serviço empenhado”, disse o comandante do 1º Batalhão, tenente-coronel Vítor Araújo.


Migração de violência


Outra característica destacada pela corporação é a migração dos crimes dentro da própria cidade. O comandante esclarece que os criminosos mudam de região quando identificam forte presença do policiamento onde costumam agir. Câmeras do Olho-Vivo – são 309 no Centro – também ajudaram a aumentar a segurança.


Pelo raciocínio da polícia, os bandidos irão fugir de vez do Centro. A partir de julho, a corporação irá utilizar um drone (veículo aéreo guiado por controle remoto) para monitorar a região. “Cada região tem característica diferente, que exige um planejamento específico. Esse trabalho de monitoramento ajuda a alcançar bons resultados”, diz Araújo.


VIGIADOS: Área central é monitorada por309 câmeras; na região, roubos caíram 16,5% de janeiro a junho de 2014 para igual período deste ano


Movimento inverso


Em toda Belo Horizonte, a Seds informou que o número de crimes subiu 11%. O índice engloba crimes violentos, incluindo roubo, que representa o maior volume de casos. Na cidade como um todo, os casos de homicídio caíram 33,8%.


Para especialistas em segurança pública, os índices revelam falta de planejamento e sintonia das polícias. “Em 2008, quando a integração entres as corporações foi implantada, o índice de criminalidade caiu 45%. Vemos um enfraquecimento desse sistema, que acaba refletindo nos números da criminalidade”, afirmou o coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da UFMG, Cláudio Beato.


Definir metas, mapear áreas estratégicas de criminalidade e adotar medidas que tiveram bons resultados podem fazer a diferença. “Regiões que investem em segurança acabam ficam menos visadas pelos criminosos”, diz Frederico Marinho, colega de Beato no Crisp.


Para Marinho, é preciso analisar as características de cada região para realizar o combate à criminalidade com eficiência.


Resposta


A assessoria de imprensa da Seds informou que o trabalho integrado entre as corporações segue normalmente, na tentativa de diminuir os números de delitos em todo o Estado.


Rede de vizinhos protegidos pelo WhatsApp ganha adeptos


Como um todo, a cidade está mais violenta. Em alguns bairros, a rede de vizinhos protegidos foi a aposta dos moradores para tentar garantir proteção. Foi assim no Grajaú, no Gutierrez e no Barroca, região Oeste de BH. A motivação foi o assassinato do estudante de engenharia Matheus de Morais, vítima de dois homens que roubaram o carro dele, no Gutierrez, em fevereiro de 2014.


O sistema de rede de vizinhos protegidos implantado nos três bairros usa a tecnologia como aliada. Inicialmente, cerca de 90 moradores e comerciantes passaram a se comunicar por meio do WhatsApp. Agora já são 800.


A ideia é simples. Ao constatar um crime ou alguma situação de risco, os participantes emitem alertas pela rede, monitorada por policiais militares do 125ª Companhia da Polícia Militar.


Para o comerciante e líder comunitário Wellington Medeiros, de 55 anos, morador do Barroca, a medida trouxe mais segurança. “É para evitar que os crimes ocorram e para as pessoas ficarem mais atentas. A participação de todos é muito importante”, disse.


Resultados


Segundo o comandante da 125ª Companhia da PM, major Sandro Heleno Gomes Ferreira, a rede tem sido bem-sucedida. “Desde o início do ano passado, registramos uma redução tanto do número de crimes de violentos quanto de furtos”. O método também foi implantado nos bairros Jardim América, Nova Suissa, Prado e Calafate, todos na região Oeste.


Casas e comércios participantes são identificados com a placa da rede de vizinhos protegidos. Na terça-feira, 150 pessoas participaram de uma reunião para a entrega de placas a novos integrantes.


Reclamação de insegurança é generalizada nas regiões Leste, Oeste e Barreiro


Presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas), Nadim Donato Filho reconhece que a criminalidade diminuiu no Centro, mas destaca que os bandidos estariam migrando para outras regiões. “Tem ocorrido assaltos a comerciantes em diferentes pontos da cidade”. Entre os bairros mais vulneráveis, ele cita o Alípio de Melo (Noroeste), Horto (Leste), Santa Tereza (Leste) e Sagrada Família (Leste).


Furto de veículos e roubo de celulares, arrombamentos e assaltos são os crimes mais citados por líderes comunitários. No Santa Efigênia (Leste), moradores têm sido alvo de assaltantes, conta o advogado Antônio Carlos dos Santos, de 68 anos, que chegou a escrever ao comando do 1º Batalhão da PM, sediado no bairro, pedindo providências. “A criminalidade está migrando para os bairros em um ritmo terrível. A polícia sempre diz que está apurando, mas não consegue pegar os autores”.


Ele diz que, nos últimos dias, houve quatro roubos de celular nas imediações do Clube Pinheiro, na rua Frutal, e dois assaltos na rua Euclásio.


No Buritis (Oeste), o segundo maior bairro da capital, onde residem 30 mil pessoas, a falta de segurança preocupa tanto que a Assembleia Legislativa realizou audiência pública, nesta quarta-feira (24), para tratar do problema. “A PM afirma que o Buritis é o mais tranquilo dentre os 11 bairros da região e que está dentro da normalidade. A percepção da polícia mostra uma coisa, mas o roubo de carros e celulares tem ocorrido no bairro”, afirma a presidente da associação de moradores Maria Consuelo Arreguy.


Outros locais


Nas duas regiões mais populosas da capital, a crescente onda de assaltos e roubos preocupa. “A sensação de insegurança é grande no Barreiro (300 mil moradores)”, afirma o empresário Wagner Oliveira, de 55 anos.


Em Venda Nova (500 mil moradores), o comerciante Walter Lana, de 52 anos, diz que ocorrem pelo menos dois assaltos por dia em padarias e supermercados. O Hoje em Dia tentou contato por telefone com os batalhões da PM no bairro Santa Efigênia e na região do Barreiro, mas não obteve resposta.


“No comércio, ao menos um funcionário fica na porta para inibir os ladrões” Walter Lana - Comerciante em Venda Nova

4 roubos São registrados a cada hora em Belo Horizonte, em média

800 pessoas fazem parte da rede de vizinhos protegidos nos bairros Grajaú, Gutierrez e Barroca, segundo a Polícia militar


(*) Com Letícia Alves e Ricardo Rodrigues
 

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