Polícia Federal investiga fraudes cometidas por servidores da UFJF

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
21/10/2014 às 10:22.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:42

Pelo menos 11 aprovados no último concurso da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Campus Governador Valadares, podem ter recebido a prova ou gabarito antes do certame. A fraude é investigada pela Polícia Federal que deflagrou nesta terça-feira (21) uma operação para apurar a responsabilidade de uma associação criminosa, supostamente formada por servidores públicos federais e secretários municipais de Valadares, para aprovar  parentes e amigos.   A “Operação Password” ou “senha” em português, foi deflagrada às 7 horas com 106 policiais para o cumprimento de 23 mandados de busca e apreensão. Destes, 12 foram cumpridos em Valadares, oito em Juiz de Fora, dois em Brasília e um em Belo Horizonte. Também foram cumpridos mandados de afastamento da função pública e proibição de acesso contra dois funcionários da Comissão Permanente de Seleção (Copese) em Juiz de Fora. Ninguém foi preso.    As investigações começaram em maio após denúncias feitas junto ao Ministério Público Federal (MPF) por dois candidatos prejudicados. Segundo o delegado Cristiano Campidelli, após análises das provas e várias diligências, foram identificadas fraudes praticadas por servidores públicos ocupantes de cargos de comando na UFJF, com participação de dois secretários e um ex-secretário de Governo da Prefeitura de Valadares.   “Por uma série de ações ilegais, os investigados encontraram uma forma de institucionalização do nepotismo, tratando a coisa pública como própria, fazendo uso de bens e dinheiro público no interesse particular, inclusive para fins de emperrar as investigações da PF”, explica o delegado contando que existem indícios de fraudes na aprovação de candidatos aos cargos de assistente em administração, auditor, engenharia de segurança do trabalho, produtor cultural, jornalista, odontólogo e de secretário executivo.     Entre os indícios estaria a falta de rascunhos em questões com cálculos e notas destoantes. A PF apurou ainda a prática de falsidade ideológica para viabilizar a posse de um dos investigados, que já era servidor da UFJF. Ele obteve uma declaração ideologicamente falsa, assinada por um professor da universidade, que declarava uma condição que o candidato ainda não possuía, para cumprir requisito do edital. “É um  servidor aprovado no concurso de 2008 que também apresenta indícios de irregularidades”, diz o delegado.   Segundo o delegado Cristiano Campidelli, os servidores da UFJF que figuram como principais envolvidos nos crimes vão responder por associação criminosa, peculato, falsidade ideológica e 11 vezes o crime de fraudes em certames de interesse público, e estão sujeitos penas que vão de 33 anos a 108 anos de reclusão. Já os beneficiados pelo crime de fraudes em certames de interesse público, cuja pena vai de 2 a 6 anos de reclusão.    Detalhes   As buscas foram feitas nas casas e locais de trabalho dos investigados. Um dos objetivos é esclarecer se os aprovados receberam cópia da prova ou o gabarito, como também outras ações dos envolvidos. Segundo o delegado Cristiano Campidelli, apurou-se que os secretários e o ex-secretário são muito próximos a pessoas que foram aprovadas com notas destoantes, além de uma série de indícios de outras irregularidades.   “Verificamos que fizeram uso de uma proximidade grande com servidores da UFJF envolvidos no esquema para fins de beneficiar e privilegiar pessoas próximas ou parentes seus no concurso da UFJF”, explica. No geral, segundo o policial, há casos como o do setor de saúde onde a mãe de uma chefe de departamento; o marido de uma professora, a enteada de uma outra e a esposa de outro coordenador foram aprovados em primeiro lugar nos cargos pleiteados, com notas destoantes.      O delegado alerta que é preciso separar a UFJF, que presta relevantes serviços à sociedade, das pessoas que estão fazendo uso dela para fins ilícitos. Mas reclama que a universidade ainda não instaurou qualquer procedimento administrativo para apurar as fraudes “noticiadas há bastante tempo”. Ao contrário disso, denuncia, servidores da UFJF vieram à Valadares com veículos e recursos públicos para orientar os investigados de como se comportarem durante os interrogatórios na PF.    “Ela (a universidade) será novamente convidada a participar das investigações, principalmente para apurar administrativamente as irregularidades que foram verificadas”, revelou. No início das investigações, à pedido do MPF, dois dos 11 candidatos foram impedidos de tomar posse e hoje mais três pessoas afastadas de suas funções, entre elas os dois funcionários da Copese.   Resposta A UFJF informou por meio de nota que está contribuindo com a investigação e forneceu todos os documentos e informações solicitados; e como estão sendo apurados “indícios de realização de fraudes para aprovação de candidatos”, aguarda a conclusão das investigações para se pronunciar e tomar as atitudes cabíveis, "sem prejuízo das providências internas de averiguação". “Caso haja qualquer tipo de comprovação de irregularidade a UFJF será a primeira interessada em efetivar os procedimentos adequados para o seu devido saneamento”, diz a nota   Atualizada às 17h30

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