Polícia investe na identificação de ladrões de carro, mas recuperação ainda é pequena

Gabriela Sales - Hoje em Dia
04/02/2016 às 08:49.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:18
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

A mudança de estratégia da Polícia Civil na identificação e prisão de quadrilhas especializadas em roubo de veículos tem surtido resultado. Em três anos, o número de ocorrências diminuiu 8,3% em Belo Horizonte, passando de quase 9 mil em 2013 para pouco mais de 6.500 em 2015. A média, porém, continua alta, com 18 crimes por dia.

A explicação, segundo a polícia, está na descentralização das investigações e na mudança de metodologia de apuração dos casos. “Dessa maneira, conseguimos identificar a característica de cada quadrilha, a forma de atuação delas e em quais regiões os roubos e furtos são mais frequentes”, explica Luciano Guimarães, chefe da Delegacia de Investigação de Furtos e Roubos de Veículos.

A partir desse serviço de inteligência, é possível também chegar aos receptadores de peças. “Os desmanches alimentam o mercado negro. Quando identificamos e prendemos essas quadrilhas, conseguimos enfraquecer o mercado ilegal”, diz o delegado.

Já o volume de veículos recuperados ainda deixa a desejar. Em quatro anos, enquanto a média de roubos (de 2012 a 2015) foi de 7.400 ao ano, o índice de recuperação girou em 55% (4.185). Ou seja, quase metade dos veículos roubados (cerca de 3.200, ou 45%) não é devolvida aos donos.

ILÍCITO

A identificação desses veículos é um empecilho. “Muitos dos carros são desmanchados e os números de identificação, retirados. A maior parte das peças não tem a identificação do chassi”, explica.

Parte dos veículos que não vão para o desmanche acaba sendo clonada, outro mecanismo que dificulta a recuperação para o dono verdadeiro. Nesses casos, o carro é identificado apenas quando é flagrado como ferramenta de algum crime ou pego em infração de trânsito.

Os carros mais visados pelos criminosos, segundo estimativa das seguradoras de veículos, são modelos populares como Palio, Gol, Ka, Corsa e Uno. O motivo, segundo a polícia, está relacionado à facilidade de comercialização das peças.

DRAMA

A universitária Eduarda Maria de Souza, de 31 anos, teve um Palio roubado há dois anos na porta da faculdade, no Caiçara, região Noroeste da capital. Ela ainda tem esperança de encontrar o veículo. “Fiquei apavorada quando saí da aula e vi que meu carro não estava mais onde havia estacionado. A sensação foi de frustração e impotência”.

A empresária Ana Emilie de Resende, de 43 anos, também teve o carro roubado, mas numa circunstância ainda mais traumática. Em agosto, ela foi rendida no bairro Coração Eucarístico, região Noroeste, por dois homens armados, que estavam de moto. “O pior foi ter a arma apontada para minha cabeça”.

Dois dias após o crime, Ana teve a tão sonhada notícia de que o carro, um Idea, havia sido recuperado pela polícia. “Foi um alívio, porque não tinha seguro”, disse.

Para o especialista em segurança pública Frederico Marinho, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), investir em prevenção e no combate ao desmanche é o caminho para ajudar na diminuição de furtos e roubos de veículos.



Lei do Desmanche permitirá fiscalização mais rigorosa

A expectativa da Polícia Civil agora é quanto à implementação da Lei nº 12.977/2014, conhecida como Lei do desmanche. Uma comissão foi montada no Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) para estabelecer quais serão as formas de atuar na fiscalização de comércio de peças e em ferros-velhos. “A lei irá resultar em um impacto significativo nos índices de furto e roubo no Estado”, explica o chefe da Delegacia Especializada de Investigação de Furtos e Roubos de Veículos, delegado Luciano Guimarães.

A lei federal, que está em vigor em todo país desde maio de 2015, estabelece que todos os Estados determinem formas de fiscalização e controle de peças automotivas originárias de veículos usados. Cada localidade terá de limitar a quantidade de peças, e os automóveis deverão ser originários de sinistros. “Isso significa apenas carros antigos que não possuem condições de transitarem”, reforça o delegado.

Em Minas, cada loja especializada poderá vender 45 até peças. “Dessa forma, iremos controlar a entrada e saída desses itens. O que extrapolar essa quantidade terá de ser comprovado através de documentação”, informa Guimarães.

ENTENDA

Para comercializar as peças, os empresários deverão apresentar um registro com identificação da origem de todas as peças do veículo e as condições em que os automóveis foram adquiridos. “A fiscalização terá condições de identificar o que pertence a carros roubados”, explica o delegado.

Equipamentos considerados de segurança, como freios ABS, por exemplo, não poderão ser comercializados.

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