Prefeito Alexandre Kalil se diz envergonhado por desastre na Vila Bernadete; ao menos dois morreram

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
25/01/2020 às 11:49.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:25
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

O prefeito Alexandre Kalil pediu desculpas e disse estar "envergonhado" ao visitar a Vila Bernadete, na região do Barreiro, em Belo Horizonte. No local, pelo menos cinco pessoas estão desaparecidas após cinco casas desabarem e outras três ficarem parcialmente atingidas durante a forte chuva dessa sexta-feira (24). Dois corpos já foram encontrados.

É a maior ocorrência do período chuvoso desde o início de 2020 na capital. Cinquenta famílias tiveram que deixar as casas no entorno da rua Doze, onde o desastre aconteceu. O bairro não era considerado área de risco, segundo a Defesa Civil.

"Desculpa. Eu peço desculpa porque sou um cara indignado, trabalho feito um cavalo e eu sou o cuidador dessa gente", afirmou Kalil, ao comentar a situação. Ele afirmou, também, estar impressionado com a quantidade de lama no local.

A Vila Bernadete existe há mais de 50 anos e nunca havia registrado problemas do tipo. Segundo moradores, por volta das 16h um muro desabou e às 20h, as casas deslizaram uma em cima da outra, de cima a baixo, em um quarteirão ingrime. Lá, há muita lama sobre escombros, que estão encharcados.

Por volta das 11h, um corpo foi localizado, ainda no trabalho de colocar tapumes na área, já que as buscas continuam paralizadas por risco aos Bombeiros. Oficialmente, são cinco desaparecidos. Porém, outras informações dão conta de que são três membros de uma família e quatro de outra.

"Uma coisa que eu tenho na minha cara é muita vergonha. Eu tô muito envergonhado", disse o prefeito, ao receber críticas de moradores da vila.Mauricio Vieira / N/A

Bombeiros e agentes da prefeitura trabalham nas buscas por vítimas

Vizinhos ouvidos pelo Hoje em Dia reclamaram que, desde o início da madrugada de sexta-feira, tentaram diversos contatos tanto com o Corpo de Bombeiros quanto Defesa Civil e não foram atendidos. A auxiliar de serviços gerais Renata José Silva de Olveira, de 37 anos, disse que houve descaso.

"Foi muita demora para chegar. Tentamos chamar os Bombeiros e Defesa Civil. Ninguém veio. O desabamento foi às 20h e até a madrugada só tinha a Polícia Militar aqui", contou.

O cornel Waldir Figueiredo, coordenador da Defesa Civil de Belo Horizonte, justificou a demora devido ao número de chamados. Foram de 500 desde o início da madrugada. Segundo ele, áreas de risco estavam sendo atendidas primeiro.

"Não viemos em razão do acúmulo de chamados e da priorização, porque nós não temos condição de avaliar simplesmente pela comunicação telefônica a situação de risco", justificou Figueiredo. "Os esforços foram nos locais sabidamente de risco", completou.

Já o prefeito disse que mesmo as equipes chegando antes, não teriam o que fazer. "A máquina não vai fazer nada não. Chegamos aqui hoje e vamos ficar parados, porque simplesmente não pode entrar, não pode mexer", destacou o prefeito.

Ele também justificou o não atendimento dos chamados por falhas em linhas telefônicas. "Nós estávamos no Centro de Comando. Começou a não atender. Houve um problema na Telemar, que é a operadora da Defesa Civil. Nós apuramos isso ontem mesmo", contou.

Para o prefeito, há um problema de ocupação na cidade. Kalil reforçou que as pessoas deixem as casas em sinais de perigo. "Quando se constrói em áreas como essa e um barranco escorrega às 16h e ninguém sai de casa, a Defesa Civil não tem o que fazer. E o mais importante para população e eu tenho que dizer é 'não acabou'", alertou, ressaltando que a capital ainda está sob risco geológico.

Segundo ele, há locais em que as pessoas estão relutando em deixar as residências, mas a prefeitura não pretende tirar ninguém de maneira compulsória, como está ocorrendo em Contagem, onde a Justiça determinou saída de pessoas em áreas de risco. "Não. Nós temos é que conscientizar essa população. Essa população já é muito violentada pelo poder público", opinou.

O prefeito ressaltou que, mesmo com as equipes no local, o mais importante neste momento é a população procurar abrigo . "A Defesa Civil não pode entrar na casa de todo mundo. Nós vivemos numa cidade de 3 milhões de habitantes. Temos abrigo com alimento pra todo mundo", disse.

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