Presidente da Fhemig destaca a necessidade de mudanças para aprimorar serviço

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
27/06/2016 às 09:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:04
 (CRISTIANO MACHADO)

(CRISTIANO MACHADO)

Exilado político durante a ditadura militar, Jorge Raimundo Nahas, de 70 anos, ficou uma década fora do país. Formou-se em medicina pela Universidade de Havana, em Cuba, e hoje é funcionário de carreira da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), onde está há exatos 34 anos. Já foi cirurgião-geral do Pronto-Socorro João XXIII, ocupou diversos cargos na instituição e, desde o ano passado, está na presidência da rede de hospitais. Em entrevista ao 'Hoje em Dia', Nahas destaca a necessidade de modernizar a administração, dando mais autonomia à Fhemig, principalmente na hora de contratar profissionais.

A Fhemig está presente em nove municípios, tem 20 unidades e faz 70 mil internações ao ano. É possível falar qual o maior desafio da rede?
Do ponto de vista assistencial, é resolver pontos de estrangulamento nas linhas de cuidado para que a Fhemig atinja o seu maior potencial de prestação de serviço. Hoje, existem estrangulamentos que não nos permite ter uma performance compatível com os recursos humanos e com os investimentos feitos. Por exemplo, somos uma fundação de direito público e nós tivemos uma restrição que contribui para a perda da capacidade e da agilidade na contratação de funcionários, sobretudo nas emergências. Isso tem um impacto grande. Às vezes, falta um anestesista ou um pediatra, e a contratação ficou muito lenta.

Que tipo de restrições?
O processo de contratação é muito burocrático. A recomposição de um médico é demorada.

E o que tem sido feito para resolver esse “estrangulamento”?
Só podemos contratar por concurso público ou processo seletivo simplificado. Existe um projeto de lei para agilizar o processo, dentro da legalidade vigente. Foi um longo processo com a nossa participação.

Mas existe dinheiro para fazer essas contratações?
O dinheiro está aí. Só que nós demoramos meses para contratar.

Mesmo em um momento como esse, em que só se fala em crise, cortes no orçamento? Isso não afetou a rede? Até o momento não. Tivemos limitações pela lei de responsabilidade fiscal, o nosso orçamento foi um pouco diminuído. Mas, no geral, a saúde está um pouco fora da restrição orçamentária.

Mas que diminuição no orçamento foi essa? Isso não afetou os atendimentos?
Ainda não. O fluxo financeiro ficou um pouco mais lento. Temos que prestar mais contas.

Há um receio de ter prejuízos futuros no atendimento?
Esperamos que o governo do Estado continue priorizando a saúde, como tem feito. Tivemos alguns estresses, como a epidemia de dengue, e houve uma contribuição importante do Estado para abrir mais leitos, contratar profissionais, oferecer insumos. Em seguida, houve o H1N1 e foi feito um grande esforço. Estamos nos adaptando.

“Um tomógrafo está sendo instalado no Hospital Alberto Cavalcanti. A unidade é muito antiga. Assim, temos que rever toda a parte elétrica. De uma maneira geral, todo hospital está perenemente em obras. Há sempre novas exigências dos órgãos de vigilância”

  

Essa epidemia de dengue, lembrada pelo senhor, foi a maior desde 2013. Como a rede administrou o aumento da demanda?
Tivemos que reforçar os plantões, como por exemplo no João Paulo II. O hospital chegou a ter 500 pacientes por dia, sendo que durante o frio a média é de 200 a 250 crianças. Tivemos a coincidência da dengue com o início da temporada de frio. E isso pesou demais. Foi necessário contratar mais médicos. E, novamente, reforço, contratações difíceis pela questão legal delas. Tivemos que abrir leitos no Hospital Júlia Kubitschek. Lá, foi necessário um centro de atendimento ambulatorial, abrimos um ala nova com 30 leitos.

Além desta necessidade de agilizar o processo de contratação de funcionários, o que mais precisa ser revisto ?
A Fhemig é uma instituição cujo modelo institucional ficou um pouco anacrônico. A fundação de direito público perdeu atribuições. Não só na questão de contratação de funcionários, mas a forma de licitação, de contratos com os fornecedores e prestação de contas. Estamos fazendo um grande esforço de modernização da instituição. Temos centenas de processos e contratos diferentes. Precisamos organizar tudo em um fluxo só.

Como fazer isso?
É preciso se pensar em um modelo de Parceria Público-Privada (PPP) que incorpore todos os processos que hoje são terceirizados na fundação, nas diversas unidades, e fazer um modelo. Unificar os contratos de manutenção de tomógrafo, ventilador, monitor, mesa cirúrgica, dentre outros. Os hospitais e redes desse tipo precisam de uma administração mais ágil, moderna. Os modelos de contrato precisam ser revistos. Estamos investindo em construir um modelo administrativo mais moderno.

O senhor falou do aumento da demanda no João Paulo II e das dificuldades de se fazer reposições imediatas. Há previsão de contratações?
Agora tem um concurso público para o João Paulo II. Haverá uma contratação imediata de 20 pediatras. Claro, ainda precisará ser homologado e há os recursos. Mas esperamos que até o fim do ano já possamos contratá-los.

Isso será suficiente?
Num primeiro momento sim. Mas não podemos garantir se vamos cobrir essa demanda nos anos subsequentes. A pediatria é uma área em falta no mercado. Muitas vezes o profissional passa num concurso, mas não se interessa. Há uma carência por pediatras. Um dos atrativos é o concurso público.

Como o senhor avalia as instalações das unidades de saúde. Algumas não carecem de melhorias?

Boa parte dos hospitais da Fhemig é muita antiga. E as novas exigências sanitárias e tecno-lógicas nos obrigam a fazer intervenções pesadas. Atualmente, existem obras de ampliação no João Paulo II, com a construção de um anexo que vai praticamente dobrar os leitos de terapia intensiva, passando de 16 para 30. Também vamos capacitar a urgência e emergência. Teremos melhorias das condições de atendimento.

Além do João Paulo II, quais outras estruturas físicas passarão por melhorias?
O Júlia Kubitschek tem uma obra que será retomada e passará a ter 40 leitos de terapia intensiva. Já foi iniciado o funcionamento do novo tomógrafo, que era um gargalho no atendimento da unidade. Antes, o paciente precisava se deslocar para fazer a tomografia. Temos intervenções também no hospital João Penido (Juiz de Fora). Lá, vamos dobrar as vagas de terapia intensiva, passando para 20 leitos. Nesse momento, essas obras estão sendo priorizadas. As do João Penido devem ficar prontas até setembro, outubro. No Júlia, em um ano e meio a dois anos. E no João Paulo até no começo do ano que vem.

O déficit de leitos, principalmente em Belo Horizonte, é um problema antigo... A Fhemig faz cerca de 70 mil internações ao ano. Em Belo Horizonte são 50 mil. Ao todo, na cidade, com as demais unidades de saúde, são 250 mil pelo Sistema Único de Saúde. A Fhemig aqui é muito importante. Nesse momento, com a entrada em funcionamento do Hospital do Barreiro, e sobretudo com o aproveitamento da capacidade total dos leitos da Fhemig, após essas obras haverá melhorias. Nós vamos precisar de novos leitos para a terapia intensiva, que tem pacientes graves. Hoje, essa é uma carência tanto em BH quanto na região metropolitana.

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