Pressão e insegurança dominam as estradas pelo país

Milson Veloso - Do Portal HD
24/08/2012 às 12:27.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:43
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

O difícil dia a dia dos caminhoneiros é marcado por muitos acidentes. Pelas rodovias brasileiras, eles enfrentam a pressão de ter que fazer as viagens dentro do prazo e ainda correr os riscos do trânsito. As longas horas ao volante, associadas à imprudência de alguns condutores, são as principais causas de muitas mortes nas vias.
 
É isso que afirma o presidente da Associação Nacional dos Caminhoneiros (Antrac), Benedito Pantalhão. "A jornada é enquanto ele aguentar, não dormir e estiver vivo. Essa carga excessiva de trabalho e a pressão deixam o motorista muito mais vulnerável, além da vida de terceiros", comenta.
 
O representante da categoria alerta: falta treinamento para que os profissionais saibam como lidar com os veículos. “Hoje nós temos caminhoneiros imprudentes, mas também falta qualificação para que eles consigam se adaptar às ‘máquinas’. Isso transforma o caminhão em uma arma”, pontua.
 
Outro ponto crítico, segundo a Antrac, é a falta de áreas para descanso às margens das rodovias. O caminhoneiro paulista Claudemir Travain, 35 anos, também reclama desse problema. “Como você vai organizar a viagem se não consegue nem estacionar para dormir um pouquinho?”, questiona.
 
A pouca segurança e a situação ruim em que boa parte da malha viária se encontra é mais um dos fatores que precisam de atenção por parte das autoridades, segundo Benedito Pantalhão. Para ele, seria necessário aumentar o número de policiais atuando ao longo das estradas.
 
“São péssimas as condições, com fiscalização precária. Sem polícia, aumenta a marginalidade e isso contribui para o alto índice de criminalidade. Você vê prostituição, tráfico de crianças e outros crimes que acontecem porque não há um policiamento ostensivo”, explica o presidente.
 
Por causa da insegurança, o motorista Claudemir Travain, que já foi assaltado uma vez, pensa em deixar de lado a profissão. Há cerca de 10 anos ele foi rendido por uma quadrilha, em frente à transportadora onde trabalhava, sofreu ameaças de morte e passou por momentos de muita tensão, até conseguir fugir dos ladrões.
 
Traumatizado, o caminhoneiro planeja abrir sua própria empresa para não ter que conviver mais com esses riscos. “Eu não vou ficar dando soco em ponta de faca pelo resto da vida. Você sai de casa, tem como um revólver apontado na cara, pois não há segurança nas rodovias e são muitos os assaltos”, esclarece.


Nem só de saudade e medo vive o motorista

“Já rodei o meu país inteiro, e como bom caminhoneiro, peguei chuva e cerração”. Essa música, imortalizada na voz do rei Roberto Carlos, fala um pouco sobre os sentimentos dos caminhoneiros ao deixar para trás muitas coisas em busca dos sonhos.
 

Fábio da Fonseca passa boa parte do tempo na BR-040, entre Minas e o Rio de Janeiro (Foto: Samuel Costa)

Porém, apesar dos problemas que enfrentam, a vida desses trabalhadores não é só tristeza e saudade. Prova disso, segundo o motorista José Natan, de 62 anos, é que a maioria deles dificilmente conseguiria lidar com outra área e segue na boleia por causa da paixão pelas estradas. “Se eu pudesse nascer de novo, escolheria a mesma profissão”, diz.
 
Então, o que atrai tanto esses trabalhadores para o asfalto? O espírito aventureiro e a sensação de liberdade são os principais fatores para seguir ao volante, afirma o mineiro Fábio Ferreira da Fonseca, 49 anos. Há 30 dentro de um caminhão, ele herdou do pai o gosto pelo veículo e não pensa em parar.
 
Encontramos com Fábio às margens da BR-040, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, enquanto fazia um descanso para seguir viagem para o Rio de Janeiro. Entre uma xícara de café e um pão de queijo, ele nos fala sobre a dificuldade de deixar a família para trás e seguir viagem.
 
Contudo, mesmo com todos as dificuldades, o caminhoneiro diz que o volante é o seu amor maior. “Apesar de ser uma profissão pouco valorizada, o motorista consegue viver muitas aventuras. Imagine o tanto de situação que a gente passa por esse Brasil a fora”, justifica.

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