Prisão de "gringos" mais que dobra no Brasil

Alessandra Mendes - Do Hoje em Dia
23/07/2012 às 10:56.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:46

“Há dois anos, não vejo ninguém. Minha família não sabe o que aconteceu. Procuro não pensar, mas as grades são reais. Só espero que os dias passem para eu voltar para meu país, meu lar”. A realidade da paraguaia Gabriela*, de 38 anos, mãe de seis filhos biológicos e dois adotivos, não é uma exceção. Assim como ela, outros 3.367 estrangeiros estão presos no Brasil, número que revela um crescimento de 135,6% nos últimos seis anos. O índice resulta da consolidação do país como rota do tráfico internacional de drogas – mais de 90% das prisões decorrem desse tipo de crime.

A busca pela cidadania brasileira também influencia nesse cenário. “O brasileiro não tem ‘cara’, um padrão físico específico. Quem vem de fora se aproveita disso, muitas vezes, com casamentos e uniões para conseguir o passaporte e entrar com mais facilidade em outros países levando drogas”, explica o juiz auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Luciano André Losekann.

Só no ano passado, o Ministério da Justiça recebeu 3.530 pedidos de estrangeiros para permanência no país, sempre em decorrência de casamentos. A quantidade de uniões estáveis, que são equiparadas ao matrimônio pela lei brasileira, também deu um salto. Em 2010 foram 39 pedidos de permanência de estrangeiros por esse motivo, contra 297 solicitações no ano passado.

“Seja por qual forma essas pessoas entraram ou permaneceram no país, sabemos que, na maioria das vezes, são usados pelo tráfico como mulas de transporte de drogas entre os nações”, afirma Losekann. É o caso de Gabriela, condenada a 13 anos e dois meses de prisão por tráfico internacional e associação ao tráfico. Presa desde 2010 no Complexo Penitenciário Feminino Estêvão Pinto, em Belo Horizonte, ela alega ter sido usada por traficantes e até por policiais paraguaios para armar uma emboscada que chegaria a uma quadrilha especializada em agenciar “mulas”, mas, garante, acabou sendo a única prejudicada no fim das contas. “É muita injustiça o que aconteceu comigo. Fui usada e estou pagando um preço muito alto”, alega a paraguaia.

Mulheres

A exploração da mão de obra feminina no tráfico internacional é estratégica. Por normalmente terem a responsabilidade do sustento dos filhos, as mulheres são mais vulneráveis à abordagem dos criminosos, principalmente quando são afligidas pela pobreza e a fome. Apesar disso, os homens ainda são os principais alvos dos agenciadores de “mulas”.

De acordo com o Ministério da Justiça, o Brasil tem 2.535 estrangeiros presos, contra 832 mulheres. Diferença que também é registrada em Minas Gerais, com 26 homens e sete mulheres.

Seja qual for o gênero, a história contada pelos presos costuma ter o mesmo roteiro. “Falam que tinham um amigo que conhecia o agenciador. Sabem apenas o primeiro nome e nada mais, o que dificulta uma investigação mais profunda”, explica a defensora pública federal Letícia Torrano. Na maioria dos casos, afirma ela, são pessoas muito pobres, até analfabetas, que entram no crime para solucionar um problema financeiro, mas acabam atrás das grades dos presídios brasileiros.

* Nome fictício para preservar a detenta

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