Procura por armas cresce entre as mulheres em BH

Simon Nascimento
31/07/2019 às 20:38.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:48
 (Arquivo Pessoal )

(Arquivo Pessoal )

Aulas de tiro e a compra de revólveres e pistolas despertam cada vez mais o interesse de mulheres em Belo Horizonte. Clubes especializados, despachantes e lojas do ramo asseguram que a procura cresceu consideravelmente entre o público feminino. Em alguns casos, o aumento chega a 60%. A flexibilização da posse de armas foi rejeitada pelo Senado, mas deve voltar a ser debatida até o fim deste ano.

Legítima defesa e até mesmo hobby são os principais argumentos apresentados. Especialistas, no entanto, afirmam que os recorrentes casos de violência doméstica podem ter contribuído para o cenário. De toda forma, tanto os pesquisadores quanto a polícia são unânimes em garantir que ter o armamento não é sinônimo de mais segurança dentro de casa.

Treinamento especializado e autocontrole, além de cumprir todos os requisitos legais para quem deseja ter uma arma, são indispensáveis. É o caso da empresária Marjorie Guimarães, de 31 anos, que frequenta clubes de tiros desde o ano passado. Ela já deu início ao processo para obter a posse do equipamento na Polícia Federal (PF).

A mulher, entretanto, reconhece os riscos e aconselha a procura por cursos. “Se você não souber manusear, pode resultar em um dano grave. O treinamento ajuda justamente nisso”, afirma.

Nutricionista esportiva, Helen Carolina Artur, de 37 anos, realizou aulas e também pretende obter a licença para aumentar a própria segurança. “Acredito que estando armada, e treinada, a chance de defesa, caso uma pessoa coloque uma arma na minha direção, aumenta”. 

Em Minas, foram 1.599 registros de armas em Minas, de janeiro a abril; Estado lidera emissões de licenças no país

Nos clubes

De olho no interesse do público feminino, clubes de tiros abriram turmas específicas. “Quando a gente anuncia as vagas, esgotam rápido. As mulheres não procuravam muito e, agora, temos um aumento de 60%”, garante Sirlei de Moura, presidente do Centro de Treinamento Tático e Segurança (Cettas).

O Attack Clube de Tiro e Caça também registrou crescimento e criou cursos próprios. “O número de homens ainda é maior. Mas a presença das mulheres está aumentando muito”, avaliou a vice-presidente do estabelecimento, Chiara Rodrigues.  Lucas PratesHelen já fez aulas e pretende obter a licença para aumentar a própria segurança 

Treinamento

Pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Frederico Marinho acredita que a violência doméstica é preponderante para a procura das mulheres por armas. O especialista, no entanto, reforça que treinamento e aptidão psicológica são essenciais.

“A pessoa que adquiriu uma arma precisa saber usar. Mas, sobretudo, ter autocontrole e ser acompanhada em testes rigorosos”, opina. Atualmente, o interessado em ter a licença passa por testes psicológico e um curso prático. Sendo aprovado em ambos, a Polícia Federal (PF) emite a autorização para compra. A renovação do registro deve ocorrer a cada 10 anos.

Porta-voz da Polícia Militar em Minas, o major Flávio Santiago disse ser mais prudente comentar a maior procura das mulheres por armas apenas quando houver estatísticas oficiais. Ele não acredita, porém, que casos de violência doméstica tenham despertado o interesse das mineiras por revólveres e pistolas. “Acredito que tem a ver com a flexibilização possibilitada no decreto”, diz.

Legítima defesa e hobby são os principais argumentos dados pelas mulheres; especialistas, porém, não descartam a violência doméstica como um dos fatores do crescimento da procura

Despachantes colocam até anúncios nas ruas de BH

Despachantes de armas têm diversificado a divulgação dos trabalhos para atrair novos clientes. Quem passou nos últimos dias pela avenida Heráclito Mourão de Miranda, no bairro Castelo, na Pampulha, pode ver uma faixa, às margens da via, com os seguintes dizeres: “Aquisição de armas PF; Renovação e transferência; Atirador esportivo; Colecionador e caçador”.

Quem procura por esses profissionais para facilitar o registro do armamento paga, em média, R$ 970 – cerca de R$ 400 a mais se comparado ao procedimento realizado diretamente com a PF. O prazo para obter o certificado varia de 15 a 30 dias.

“É o mesmo período se a pessoa for na Polícia Federal. A vantagem é que dou entrada em documentos, marco os testes de tiro e psicológicos, resolvo as burocracias”, explica o despachante Guilherme Drummond.

Quem também atua no ramo é Graziela Laine. Segundo ela, a média é de cem clientes por semana. “São cidadãos comuns pensando na legítima defesa”, diz. “A gente observou que a mulher tem procurado mais, um aumento de aproximadamente 25%”, acrescentou a despachante.

A reportagem questionou a PF sobre a atuação desses profissionais, mas não houve retorno. Professor do Departamento de Sociologia da UFMG e pesquisador do Crisp, Braúlio Figueiredo não vê problemas na atuação dos despachantes. “Resolver as burocracias é o menos importante. O treinamento e a capacitação da pessoa é que não podem ser deixados de lado”. 

O major Flávio Santiago, da PM, reforçou que a obtenção do registro deve ser feita dentro das bases legais, mesmo se terceirizada. “Para se ter uma arma, a pessoa precisa ter uma tratativa psicológica bem resolvida tanto na hora de utilizar como no armazenamento, para que não caia em mãos erradas”.

Crescimento

Lojas de armas também registram o crescimento na compra. Proprietário de um estabelecimento no Centro de BH, Guilherme Salles diz que há uma grande procura por pistolas e revólveres. Porém, ele se mostrou surpreso com a presença feminina.

“Antes, mulher só vinha para acompanhar o marido. Hoje, vem para comprar e sabendo o que quer”, comenta o varejista, que crava um aumento de 15% nas vendas ao público feminino.

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