Programas públicos não conseguem conter expansão do consumo de crack em BH

Renata Galdino - Hoje em Dia
25/01/2016 às 07:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:09
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Em quatro anos do programa “Crack, é possível vencer”, lançado pelo governo federal em 2011, as ações parecem não ter surtido efeito em Belo Horizonte. A falta de locais para encaminhar os dependentes químicos que querem – ou precisam – se tratar é um dos entraves para que essas pessoas sejam removidas dos espaços públicos, de acordo com a Polícia Militar. Sem ajuda, os viciados se multiplicam nas ruas, onde usam drogas livremente.

Degradação dos espaços públicos, aumento dos furtos e da insegurança para a vizinhança são alguns dos componentes do drama social que se espalha pela cidade. Se antes havia concentração nas imediações do aglomerado Pedreira Prado Lopes, no bairro São Cristóvão (Noroeste), hoje há pelo menos mais três pontos de encontro de viciados na capital.

Na avenida Guaratan, no Prado, Oeste de BH, moradores evitam o trecho onde há uso de drogas a qualquer hora do dia. “Dou a volta pela rua Platina, não entro direto na Guaratan, na parte onde eles ficam. Tenho medo”, conta uma moradora de 46 anos, que pediu anonimato.

Assaltos

Cautela é o que não falta para quem passa pela avenida Antônio Carlos, entre a Américo Vespúcio e o viaduto São Francisco. Depois das desapropriações para a implantação do Move, áreas estão ocupadas por usuários de drogas.

Há 35 anos morando em uma vila nas imediações, uma auxiliar de serviços gerais mudou os hábitos. “Deixei de ir à igreja à noite, na rua Conde Valadares, porque eles ficam lá. Duas vizinhas já foram assaltadas em  plena luz do dia”.

Comerciantes não ficam atrás. O gerente de uma loja de material de construção está fechando o estabelecimento meia hora mais cedo. “Há seis meses aumentou a quantidade deles na nossa porta. As vendas caíram cerca de 40% porque os clientes não param mais aqui”.

Os problemas vão além da segurança pública. Colchões, roupas e restos de materiais usados para o consumo das drogas passaram a compor o cenário urbano. “Todos os dias chegamos mais cedo para limpar a calçada”, disseram funcionários de um estabelecimento na Antônio Carlos.

Ocupação

Para evitar a expansão dos redutos de viciados, especialistas defendem a revitalização de espaços públicos. Locais sem manutenção, destaca o urbanista Sérgio Myssior, são propícios para o surgimento de “cracolândias”. “Quanto maior a vitalidade da área, menor a possibilidade de degradação e ocupação ilícita. Uma área essencialmente comercial, por exemplo, fica sem movimento a partir das 18h e insegura para quem passa ali. Mesclar o uso do espaço, incentivando políticas de habitação, faz com que aquela área tenha vida 24 horas por dia”, explica.

Câmera em ônibus vai monitorar pontos de uso de drogas

Ônibus caracterizados e com videomonitoramento são a aposta da Polícia Militar no combate ao uso de drogas no São Cristóvão e Lagoinha, Noroeste de BH, e no Santa Mônica, em Venda Nova. As câmeras irão monitorar os pontos de encontro dos viciados.

A expectativa é a de começar com a estratégia até junho. A ação ainda não saiu do papel porque depende da compra de equipamentos. “Também trabalhamos para prender os traficantes que abastecem os usuários e reduzir as cenas de uso”, ponderou o comandante de Policiamento da Capital, coronel Winston Costa.

Sobre a situação na avenida Antônio Carlos, o coronel afirmou que policiais estão cadastrando os usuários. “Quando um deles quer se tratar, temos dificuldade para arrumar vaga em unidade especializada”. Nas demais áreas com relatos de uso de drogas, Winston disse que são feitas operações diárias.

Atendimento

Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o atendimento em BH depende do quadro clínico do usuário. Os casos menos graves são atendidos nos centros de saúde e os de intoxicação e de abstinência grave nas Unidades de Pronto-Atendimento. Ocorrências de abstinência leve ou moderada seguem para o Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) e Centro Mineiro de Toxicomania.

Com o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, foram implantadas em BH quatro equipes de Consultório de Rua e uma Unidade de Acolhimento adulto (Barreiro). Também foram abertos Cersams nas regiões Nordeste (dois) e Barreiro e um está em construção na Noroeste.

A Prefeitura de BH informou que a operação consorciada prevista para a Antônio Carlos prevê ocupações comerciais e residenciais nas áreas degradadas

Dentro do "Crack, é possível vencer", BH recebeu incentivo para implantar duas casas de acolhimento transitório para adultos, mas criou apenas uma e não solicitou a habilitação dela, segundo o Ministério da Justiça

Além disso

Edital para novas vagas em comunidades terapêuticas

O déficit, atualmente, gira em torno de 3 mil vagas. De acordo com o subsecretário de Estado de Políticas sobre Drogas, Rafael Miranda, o chamamento deverá ser publicado ainda no primeiro semestre de 2016. Número de vagas e o orçamento disponibilizado estão em estudo. O gestor garante que serão contempladas unidades femininas e para adolescentes, principais gargalos no tratamento de dependentes químicos em Minas.

Grupo intersetorial irá debater projetos para o Estado

A resolução instituindo o grupo, formado por representantes de várias secretarias estaduais, será publicada em breve, segundo Rafael Miranda. O objetivo é efetivar as ações de prevenção e combate às drogas. O gestor considera eficazes os programas e projetos estaduais já implantados.Abandonada, área de lazer vira alvo de usuários.

Bastante degradado, o Parque do Bairro Planalto, Norte de BH, já não é mais frequentado pelos moradores por medo de sofrerem algum tipo de violência por parte dos viciados. Os quatro guardas municipais alocados no espaço foram remanejados para as ações do decreto que instituiu situação de emergência por causa da dengue. De acordo com a Fundação de Parques Municipais, a licitação para revitalização da área verde já tem vencedor, mas concorrentes entraram com recurso. A previsão é a de que as obras sejam finalizadas em até um ano após a assinatura da ordem de serviço.

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