Quadrilha aliciava funcionários do aeroporto de Confins para facilitar envio de cocaína à Europa

José Vítor Camilo
26/09/2019 às 16:34.
Atualizado em 05/09/2021 às 21:57
 (PF / DIVULGAÇÃO)

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Uma mala recheada de cocaína era despachada no guichê de uma companhia aérea como se estivesse indo em um voo nacional, mas, após entrar nas dependências do aeroporto, com o auxílio de funcionários de companhias aéreas ou empresas terceirizadas, ela acabava indo parar dentro de uma aeronave com destino à Europa, sem passar pela fiscalização e pelo aparelho de raio-x, procedimentos obrigatórios em bagagens internacionais. Assim funcionava o esquema, desmontado na manhã desta quinta-feira (26) pela Polícia Federal (PF), e que acontecia desde 2018 no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. 

Durante a operação "Iscariotes", foram cumpridos oito mandados de prisão, sendo sete deles preventivos e um temporário, culminando em quatro prisões na Grande BH e quatro na cidade de Guarulhos, em São Paulo, onde existia uma ramificação da quadrilha. Além disso, também foram cumpridos 26 mandados de busca e apreensão, 12 deles na cidade paulista, quatro em Lagoa Santa, três em Pedro Leopoldo e sete no Aeroporto de Confins. Também foi determinado o pessoas físicas e jurídicas. 

O delegado Rafael Machado Caldeira explicou que a investigação teve início em maio deste ano, após a apreensão de uma mala com destino a Lisboa, em Portugal, com pouco mais de 34 kg da droga. Na ocasião, ninguém foi detido. "Além desta bagagem, identificamos pelo menos outras duas que não chegaram a ser apreendidas. Para cada remessa dessas, eles aliciavam os funcionários necessários para o modus operandi que iam adotar. Estes funcionários recebiam valores que variam de R$ 10 a R$ 40 mil para cada mala despachada, valor que dependia da complexidade, dos riscos que esse trabalhador corria", lembra o policial. Divulgação/ PF
​Em maio, 34 kg da droga foram interceptados pela polícia a caminho de Portugal

O cabeça do esquema seria um homem de Guarulhos que se mudou no fim de 2017 para a capital mineira, já visando a aproximação com funcionários do aeroporto. "O aliciamento não é rápido, eles vão ganhando a confiança aos poucos e, com o tempo, fazem a proposta e o funcionário acaba caindo na tentação. Mas, agora, já havia pessoas de dentro do terminal que controlavam o aliciamento de outros colegas e tinham contato com os fornecedores da droga, que vinha de São Paulo", completa o delegado. 

Ainda de acordo com a PF, a estimativa é que cada mala com cerca de 30 kg de cocaína rendia, na Europa, aproximadamente R$ 6 milhões, conforme estimativa de preços divulgadas pelo Escritório para Drogas e Crime da Organização das Nações Unidas (UNODC) e câmbio atual.

Nenhum dos oito presos nesta quinta tinha passagem pela polícia e, agora, poderão pegar até 28 anos de prisão, já que responderão por tráfico internacional de drogas e pelo crime de organização criminosa. 

, a A BH Airport, concessionária que administra o Aeroporto, informou por meio de uma nota que "está à disposição das autoridades".

Rota do tráfico

Devido ao seu tamanho e quantidade de passageiros que embarcam diariamente, cada vez mais traficantes tentam utilizar o Aeroporto de Confins como rota. Para se ter ideia, até julho deste ano, a apreensão de cocaína no terminal já era 81% maior que todo o ano de 2018. O número nos sete primeiros meses de 2019 (44,9 kg) já era maior do que os dois anos anteriores somados - 24,7 kg em 2018 e 18 kg em 2017.

"É fato que Confins é um aeroporto relevante, tanto que a delegacia de entorpecentes mantém uma equipe fixa fazendo fiscalizações diárias. No aeroporto de Confins transitam em torno de 50 mil pessoas por dia (12 milhões por ano) e embarcam 35 mil pessoas com bagagens, despachando malas. Por isso é tão importante termos policiais especializados e com técnica específica de combate ao tráfico", pontua Caldeira. 

As investigações sobre a quadrilha continuam, inclusive para tentar identificar os receptores da mala em Lisboa. "A PF tem um excelente contato com a polícia portuguesa, trocamos informações constantemente. Temos inclusive um intercâmbio de policiais, trazendo agentes de lá e enviando homens nossos para aprenderem sobre como funciona lá no país europeu", completa o delegado. 

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