
Catorze pessoas foram presas nesta sexta-feira (6) suspeitas de participarem de um grupo criminoso que lucrava com jogos de máquinas caça-níqueis na Grande Belo Horizonte. Dois policiais civis, um deles vereador em Ribeirão das Neves, e cinco policiais militares estão entre os detidos.

Ministério Público, PC e PM trabalharam conjuntamento na operação
Além do enriquecimento ilícito, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Minas Gerais, que coordenou as investigações, acredita que os suspeitos estavam envolvidos em lavagem de dinheiro e um homicídio ocorrido esta semana, no bairro Saudade, região Leste da capital.
Segundo o promotor Fabrício Fonseca Pinto, a quadrilha já era investigada há cerca de seis meses, e há pelo menos um ano cometia os crimes. O homicídio desta semana fez com que o MP e as polícias antecipassem os mandados de prisão.
“O homicídio a gente acredita que esteja ligado a negócios dessa organização criminosa, possivelmente por não pagamento. Mas ainda é cedo para ligar os suspeitos ao homicídio”, afirmou o promotor.
As buscas foram realizadas em bairros de classe média alta, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, e também em Ribeirão das Neves e Contagem, na região metropolitana da capital, e Sete Lagoas, na região Central.
Pelo menos 60 pontos, como bares, restaurantes e botecos faziam parte da rede de lucro do grupo, que segundo o MPMG, era violento e movimentava cerca de R$ 80 mil por dia.
Um empresário conhecido como Danone é apontado como líder da quadrilha. Ele foi preso quando saía de casa, em um condomínio de luxo em Nova Lima, na Grande BH.
“Com ele, apreendemos R$ 75 mil, sendo R$ 60 mil guardados no apartamento dele. Foram apreendidas também drogas sintéticas: LSD, ecstasy e cocaína”, disse o promotor.
Um outro homem que exercia poder de comando na organização foi preso enquanto fugia para o Rio de Janeiro. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) o flagrou na cidade de Congonhas, na região Central de Minas.
A promotoria não acredita que o grupo se assemelha a milícias, que tomam o poder em regiões por uso da força ou extorsão das pessoas. Para o MP não há elementos nesse sentido, mas o grupo agia com violência com organizações rivais de jogos ilegais.
Em novembro de 2019, inclusive, a filha de um policial civil aposentado foi baleada na perna por membros do grupo em uma tentativa de homicídio que aconteceu ao lado do shopping Del Rey, no bairro Caiçara, região Noroeste da cidade.
Na época, acreditava-se que o crime se tratava de uma briga de trânsito, mas hoje a polícia já sabe que o tiro que acertou a perna da mulher era para matar o pai dela, envolvido no esquema deflagrado nesta sexta e que seria morto por disputa de regiões com jogos de azar.
Dois dos detidos são investigadores da Polícia Civil. O corregedor geral da PC em Minas, delegado Luiz Carlos Ferreira, disse que um deles agia como pesquisador, antecipando informações sigilosas se operações para o grupo.
“Ele usava do seu cargo para ter acesso aos reds (sigla que se refere ao antigo boletim de ocorrência), operações da polícia e, assim, municiava o grupo, prevenido-o e blindando-o de ações”, afirmou.
O outro investigador é vereador em Ribeirão das Neves, na região metropolitana. A Câmara da cidade ainda não se posicionou sobre a prisão do parlamentar.
Segundo o corregedor da Polícia Civil, um procedimento administrativo-disciplinar foi instaurado para apurar as condutas dos dois investigadores presos.
“Eles foram encaminhados à Casa de Custódia da Polícia Civil. E devem ser exonerados caso as investigações indiquem que são culpados”, disse Ferreira.
Já os cinco policiais militares detidos estão presos em unidades de polícia da Grande BH. Segundo o coronel Emerson Mozzer, corregedor da instituição, eles eram uma espécie de seguranças,o braço armado do grupo, e podem ser exonerados.
“Eles terão direito a ampla defesa, mas caso seja comprovado envolvimento, podem ser demitidos. Já foi aberto processo administrativo, que corre em paralelo ao procedimento criminal do Ministério Público”, comentou o coronel.
O MPMG diz que os investigados serão denunciados à Justiça na semana que vem.Eles devem responder pelos crimes de organização criminosa, exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro.
Uma outra investigação, aberta agora, tenta relacionar ao grupo o homicídio cometido esta semana no bairro Saudade e a tentativa ocorrida ano passado no bairro Caiçara, além de tráfico de drogas.
Donos de bares, restaurantes e estabelecimentos que disponibilizavam as máquinas caça-níqueis também estão sendo investigados e podem responder por participação nos crimes.