Quadrilha dos caça-níqueis tinha policiais, vereador e movimentava R$ 80 mil por dia

Bruno Inácio
binacio@hojeemdia.com.br
Publicado em 06/03/2020 às 17:11.Atualizado em 27/10/2021 às 02:52.
 (Bruno Inácio )
(Bruno Inácio )

Catorze pessoas foram presas nesta sexta-feira (6) suspeitas de participarem de um grupo criminoso que lucrava com jogos de máquinas caça-níqueis na Grande Belo Horizonte. Dois policiais civis, um deles vereador em Ribeirão das Neves, e cinco policiais militares estão entre os detidos.

Vereador, policiais civis e militares são presos suspeitos de integrar quadrilha de caça-níqueis na

Ministério Público, PC e PM trabalharam conjuntamento na operação

Além do enriquecimento ilícito, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Minas Gerais, que coordenou as investigações, acredita que os suspeitos estavam envolvidos em lavagem de dinheiro e um homicídio ocorrido esta semana, no bairro Saudade, região Leste da capital.

Segundo o promotor Fabrício Fonseca Pinto, a quadrilha já era investigada há cerca de seis meses, e há pelo menos um ano cometia os crimes. O homicídio desta semana fez com que o MP e as polícias antecipassem os mandados de prisão.

“O homicídio a gente acredita que esteja ligado a negócios dessa organização criminosa, possivelmente por não pagamento. Mas ainda é cedo para ligar os suspeitos ao homicídio”, afirmou o promotor.

As buscas foram realizadas em bairros de classe média alta, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, no bairro Vila da Serra, em Nova Lima, e também em Ribeirão das Neves e Contagem, na região metropolitana da capital, e Sete Lagoas, na região Central.

Pelo menos 60 pontos, como bares, restaurantes e botecos faziam parte da rede de lucro do grupo, que segundo o MPMG, era violento e movimentava cerca de R$ 80 mil por dia.

Um empresário conhecido como Danone é apontado como líder da quadrilha. Ele foi preso quando saía de casa, em um condomínio de luxo em Nova Lima, na Grande BH.

“Com ele, apreendemos R$ 75 mil, sendo R$ 60 mil guardados no apartamento dele. Foram apreendidas também drogas sintéticas: LSD, ecstasy e cocaína”, disse o promotor.

Um outro homem que exercia poder de comando na organização foi preso enquanto fugia para o Rio de Janeiro. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) o flagrou na cidade de Congonhas, na região Central de Minas.

A promotoria não acredita que o grupo se assemelha a milícias, que tomam o poder em regiões por uso da força ou extorsão das pessoas. Para o MP não há elementos nesse sentido, mas o grupo agia com violência com organizações rivais de jogos ilegais.

Na época, acreditava-se que o crime se tratava de uma briga de trânsito, mas hoje a polícia já sabe que o tiro que acertou a perna da mulher era para matar o pai dela, envolvido no esquema deflagrado nesta sexta e que seria morto por disputa de regiões com jogos de azar.

Dois dos detidos são investigadores da Polícia Civil. O corregedor geral da PC em Minas, delegado Luiz Carlos Ferreira, disse que um deles agia como pesquisador, antecipando informações sigilosas se operações para o grupo.

“Ele usava do seu cargo para ter acesso aos reds (sigla que se refere ao antigo boletim de ocorrência), operações da polícia e, assim, municiava o grupo, prevenido-o e blindando-o de ações”, afirmou.

O outro investigador é vereador em Ribeirão das Neves, na região metropolitana. A Câmara da cidade ainda não se posicionou sobre a prisão do parlamentar.

Segundo o corregedor da Polícia Civil, um procedimento administrativo-disciplinar foi instaurado para apurar as condutas dos dois investigadores presos.

“Eles foram encaminhados à Casa de Custódia da Polícia Civil. E devem ser exonerados caso as investigações indiquem que são culpados”, disse Ferreira.

Já os cinco policiais militares detidos estão presos em unidades de polícia da Grande BH. Segundo o coronel Emerson Mozzer, corregedor da instituição, eles eram uma espécie de seguranças,o braço armado do grupo, e podem ser exonerados.

“Eles terão direito a ampla defesa, mas caso seja comprovado envolvimento, podem ser demitidos. Já foi aberto processo administrativo, que corre em paralelo ao procedimento criminal do Ministério Público”, comentou o coronel.

O MPMG diz que os investigados serão denunciados à Justiça na semana que vem.Eles devem responder pelos crimes de organização criminosa, exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro.

Uma outra investigação, aberta agora,  tenta relacionar ao grupo o homicídio cometido esta semana no bairro Saudade e a tentativa ocorrida ano passado no bairro Caiçara, além de tráfico de drogas.

Donos de bares, restaurantes e estabelecimentos que disponibilizavam as máquinas caça-níqueis também estão sendo investigados e podem responder por participação nos crimes.

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