Quadrilha usa central clandestina de telefone e motoboy para clonar cartões bancários

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
25/09/2016 às 19:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:58
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Investigar clonagens de cartões bancários não é novidade para a polícia. Mas a organização dos criminosos que conseguiram dar o golpe em uma aposentada de 66 anos requer dos investigadores um pouco mais de habilidade. O grupo montou uma central clandestina de telefone e chegou a enviar um motoboy à casa da vítima.

O nome da aposentada, que mora no Barroca, Oeste de Belo Horizonte, será preservado. Ela registrou boletim de ocorrência na 3ª Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) do Terminal JK, no Barro Preto (Centro-Sul). “Os policiais me disseram que há uma quadrilha atuando em BH, e que já fizeram outras vítimas”, afirma.

A aposentada estava em casa, por volta das 14h30 de 8 de setembro, quando o telefone fixo tocou. Do outro lado da linha, um homem se passava por funcionário do Banco do Brasil, perguntando se ela confirmava uma compra no cartão de crédito, no valor de R$ 2.100, no Magazine Luiza.

“Fiz o procedimento correto, mas não consegui escapar do golpe” (Aposentada vítima de estelionato)

Desconfiada, a aposentada, que não fez a compra, encerrou a ligação e decidiu telefonar para a central de atendimento ao cliente. “Usei o mesmo telefone fixo para ligar no número impresso no verso do cartão (4004 0001). Na hora, não me dei conta de que não caiu no atendimento eletrônico. Era uma mulher, dizendo ser funcionária do banco e que se chamava Camila Mendes. Ela ainda falou: ‘Foi bom a senhora ter ligado, por segurança’”, relembra a vítima.

Cara limpa

Depois de convencer a aposentada a digitar a senha do cartão, a golpista deu outras orientações. “Ela foi ditando uma carta, que eu deveria escrever para o banco, não reconhecendo a compra. Falou para eu cortar o cartão ao meio, sem danificar o chip, porque enviaria um motoboy para pegar comigo”, detalha.

Segundo a aposentada, algum tempo depois a golpista ligou de novo avisando que o motoboy estava a caminho. “Disse que o nome dele era Bruno Henrique. Ele chegou à minha casa, se identificou e tirou o capacete, ficando de cara limpa”, diz.

Na noite do dia 8, a aposentada resolveu ligar novamente para o banco para se certificar do cancelamento do cartão. Desta vez, discou o número 0800 7290001. “Foi quando eu descobri que não tinha sido cancelado. Os criminosos tentaram fazer uma compra de R$ 3.200 no crédito, mas não conseguiram por causa do limite. Mas gastaram R$ 800 no débito em uma loja de Contagem (Grande BH)”.

Estelionato

A articulação da quadrilha assustou a aposentada. “Minha estranheza foi o fato de eu ter ligado para o telefone do banco, que é o procedimento correto, e a ligação ter sido atendida por bandidos. Fiz isso para tentar me livrar de um problema, mas não escapei”, lamenta.

O golpe se configura como estelionato, segundo o delegado Hugo Arruda, do Departamento Estadual de Investigações de Fraudes (Deif). “É quando se obtém vantagem ilícita em prejuízo da vítima, mediante artifício fraudulento. A pena é de um a cinco anos de prisão”, ressalta.

Criminosos são bons de convencimento e habilidosos na internet

Embora não seja novidade o uso de centrais telefônicas clandestinas na prática do estelionato, queixas semelhantes à registrada pela moradora do Barroca são incomuns no Departamento Estadual de Investigação de Fraudes (Deif).PCMG/DivulgaçãoALERTA – O delegado Hugo Arruda orienta os correntistas a nunca fornecerem senhas de cartão bancário por telefone

“O que já conferimos aqui são pessoas que pegam números de telefone em sites falsos dos bancos, muito parecidos com os originais”, afirma o delegado Hugo Arruda.

Ele ressalta que a aposentada agiu corretamente ao telefonar para o banco na tentativa de confirmar se algum funcionário tinha feito contato com ela anteriormente. “Esse é o procedimento correto. É preciso investigar se não houve alguma falha, se a vítima não rediscou o número referente à ligação que ela havia recebido”, aponta.

O delegado traça o perfil dos criminosos que atuam na clonagem de cartões bancários: “Eles são habilidosos na fala, têm alto poder de persuasão e muito conhecimento em internet”, afirma.

Hugo Arruda orienta os clientes de banco a nunca fornecerem senhas de cartões em diálogos por telefone. “Não há esse procedimento. Jamais os bancos vão solicitar a senha quando o atendimento não é eletrônico. Se houver, o cliente pode desconfiar”.

Associação criminosa

O Deif investiga casos mais complexos, quando o prejuízo das vítimas é superior a 120 salários mínimos (R$ 105.600). De acordo com o delegado, se além do estelionato ficar configurada a formação de quadrilha ou associação criminosa, a investigação também é conduzida pelo departamento.

Retornos

Por meio da assessoria de imprensa, em Brasília, o Banco do Brasil informou que não comenta golpes aplicados por estelionatários em seus clientes. A assessoria, contudo, admitiu ter sido a primeira vez que chegou ao conhecimento da instituição financeira um caso em que o correntista foi lesado após tentar entrar em contato, por telefone, com a central de atendimento ao cliente.

Por meio de nota, a assessoria informa que o contrato firmado entre o Banco do Brasil e seus clientes prevê que o uso e a guarda das credenciais (senha e cartão) são de inteira responsabilidade do correntista.

O BB acolhe reclamações de movimentações financeiras não reconhecidas pelos clientes para subsidiar processo de contestação.

As denúncias de fraude passam por análise da área técnica do banco, que define qual a responsabilidade das partes na ocorrência.

O Banco do Brasil ressalta que trabalha para inibir ações criminosas investindo em segurança, com novas tecnologias disponíveis no mercado, de acordo com as necessidades identificadas. Também informa que os clientes são orientados a não aceitar auxílio de desconhecidos no autoatendimento e nunca fornecer o cartão e/ou senha pessoal para terceiros.

A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) orienta os correntistas a não escolherem senhas que possam ser facilmente descobertas por terceiros, como datas de nascimento, números de telefone, de documento de identidade, da residência, da placa do automóvel, palavras ou sequências de números, letras ou teclas.

Se receber um telefonema de alguém dizendo que é funcionário do banco, nunca forneça a senha e outras informações sigilosas, e desligue imediatamente. Outra dica é nunca emprestar ou entregar o cartão para terceiros, nem permitir que ele seja examinado por desconhecidos, sob qualquer pretexto.

Em caso de roubo, perda ou extravio do cartão, ligue imediatamente à Central de Atendimento do banco e solicite o cancelamento. Em caso de roubo, registre um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima.

Em caso de retenção do cartão no caixa automático, não digite a senha e aperte as teclas “Anula” ou “Cancela”. Ligue imediatamente para o banco ou procure a ajuda de um funcionário que esteja identificado, se estiver usando o caixa eletrônico de uma agência bancária.

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