Quem passou mal após beber cervejas da Backer deve procurar hospital, recomenda SES

Hoje em Dia - Belo Horizonte
17/01/2020 às 16:46.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:20
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Quem ingeriu a cerveja Belorizontina - ou rótulos fabricados pela Backer -, e passou mal em um prazo de até 72 horas, deve procurar uma unidade de saúde para saber se foi intoxicado pelo dietilenoglicol (DEG), substância química encontrada em bebidas da empresa. A recomendação foi feita, nesta sexta-feira (17), pela força-tarefa montada para investigar o caso. O alerta vale para todos os consumidores que fizeram a ingestão desses produtos desde outubro do ano passado. 

Infectologista da Unidade de Resposta Rápida de Minas Gerais, Virgínia Andrade explica que há chances de os usuários terem sofrido algum dano. "Esse pedido para que as pessoas sejam notificadas é que, às vezes, elas apresentaram algum dano renal leve, mas desconhecem isso e precisam ser acompanhadas", disse.

Conforme a médica, os sintomas não vão progredir para a versão mais grave da intoxicação, já que a doença avança rapidamente. Porém, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) precisa "documentar se entra ou não como suspeita", explicou. "Nossa investigação passou também para os casos mais leves, para que possa ser feito o tratamento adequado", acrescentou o Superintendente de Vigilância Sanitária, Filipe Curzio Laguardia.

Os primeiros sintomas da intoxicação do DEG são náuseas, vômitos e dores abdominais. Nos casos mais severos, as vítimas param de urinar e podem sofrer com alterações neurológicas, como cegueira, paralisia facial e da cabeça para baixo, além de borramento visual.

Alerta

Diretora de Vigilância Epidemiológica de Belo Horizonte, a médica Lúcia Paixão refroça que a recomendação só vale para aqueles que tiveram manifestações gastrointestinais em até três dias. "Se houve a ingestão do agente tóxico é importante que cada um perceba as manifestações. E, se tiverem tais manifestações, é importante lembrar daquelas 72 horas. Nesse caso, deve procurar o serviço de saúde para melhor orientação", completou Adebal de Andrade Filho, coordenador do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Minas

Na capital mineira, os consumidores podem procurar as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou as Unidades Básicas de Saúde (UBS). "O fluxo no atendimento de possíveis casos será determinado a partir da orientação do CIEVS BH em articulação com a Toxicologia do hospital João XXIII”, explicou Lúcia.

Consequências

A intoxicação por DEG ainda é um mistério para a sociedade médica, uma vez que é rara e há poucos estudos. No entanto, conforme o nefrologista Vinicius Colares, membro e diretor da Sociedade Mineira de Nefrologia (SMN), há possibilidade de, na versão mais leve da doença, a vítima apresentar microlesões nos rins.

"O dietilenoglicol lesa os túbulos renais (uma parte dos rins) e existe chance dele não regenerar, deixando uma cicatriz, com uma leve alteração. Neste caso, a pessoa pode ter o funcionamento do órgão dimuido e ter, por exemplo, mais chance de apresentar pressão alta", descreveu.

Mas o nefrologista acredita que a recomendação da SES é por questão de segurança. "É mais por prudência. Talvez, a pessoa não tenha tido os rins afetados. Por via das dúvidas, um exame de creatinina é capaz de fazer essa detecção", disse.

Nesta sexta-feira (17), a SES realizou a primeira coletiva para esclarecer sobre os casos de intoxicação que, desde o início do ano, estavam sendo tratados como "doença misteriosa". Confira abaixo o que cada especialista disse: 

  

Homens x Buritis

A força-tarefa esclareceu que uma série de fatores pode explicar por que algumas pessoas que ingeriram a cervejas contaminadas foram infectadas e outras, não. O primeiro é se ela estava com o estômago cheio. Nesse caso, absorve menos álcool e, consequentemente, tem uma menor dose ingerida. Quem consumiu outras bebidas alcoólicas também pode ter sido "blindado". 

"O álcool (etanol) é o antídoto. Se esse indivíduo ingeriu uma quantidade significativa de álcool, isso tem um efeito protetor”, esclareceu o infectologista Andrade Filho. Há, também, questões individuais. "Cada pessoa reage de uma forma e tem manifestações mais importantes que outras", pontuou o médico.

Sobre a maior parte dos intoxicados terem frequentado o bairro Buritis, na região Oeste da metrópole, os especialistas declararam que os casos não têm relação com a localidade. "Provavelmente (isso aconteceu) pela distribuição dos lotes, em que os estabelecimentos (da região) receberam o maior volume dessas cervejas que continham esse tóxico", disse Lúcia Paixão.Maurício VieiraAlgumas cervejas da Backer estão contaminadas com produto químico

Balanço

Até o momento, a SES foi notificada de 18 casos suspeitos. Desse total, quatro morreram. Exames laboratoriais já atestaram a intoxicação por DEG em quatro vítimas, incluindo em uma das que faleceram. Os resultados dos outros pacientes devem ser divulgados nos próximos dias.

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