Quinze casas modernas da Pampulha na mira do tombamento municipal

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
13/07/2016 às 19:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:17
 (CRISTIANO MACHADO)

(CRISTIANO MACHADO)

A mansão foi projetada na década de 1950 pelo arquiteto Oscar Niemeyer

Os traços arquitetônicos são característicos da modernidade brasileira com uma marquise sinuosa em concreto armado. Parte das paredes é envidraçada e outra revestida com azulejos em tons de azul, resgatando o uso histórico do período colonial. 

Erguida em terreno mais elevado, uma mansão do bairro São Luiz, na Pampulha, em BH, não deixa de incitar a comparação com as curvas de outros monumentos da região, como a Casa do Baile e o Museu de Arte (MAP).

Assim como os ícones do conjunto moderno da Pampulha – que concorre ao título de patrimônio cultural da humanidade, pela Unesco – a residência construída em 1954 também leva a assinatura do arquiteto Oscar Niemeyer (1907 – 2012). 

O imóvel está em uma lista de 15 casas modernistas na mira do tombamento municipal. A blindagem é avaliada pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. Relevâncias cultural e histórica motivaram a indicação pela maior proteção dos bens.CRISTIANO MACHADOINTERIOR – Traço curvo de Niemeyer também pode ser visto em escada da casa Dalva Simão

História

A casa foi projetada por Niemeyer para a família Dalva Simão. Fica em um lote de aproximadamente 6 mil metros quadrados, na Alameda das Palmeiras. O portão principal se liga à entrada por meio de uma leve rampa. Na área externa, onde uma piscina ondulada salta aos olhos, é possível admirar também a Lagoa da Pampulha.

Filha dos proprietários, a produtora de eventos Flávia Dalva Simão, de 43 anos, conta que passou a infância, adolescência e parte da vida adulta na residência. O avô dela era amigo de Juscelino Kubitschek (1902 – 1976) e Oscar Niemeyer.

Atualmente, porém, só há um caseiro morando por lá. A mansão está à venda. Flávia evita informar os valores, mas não restam dúvidas de que as cifras são milionárias.

767 imóveis têm tombamento municipal em Belo Horizonte; outros 1.475 estão com indicação de proteção que será avaliada

Dossiê vai apontar características das edificações

O endereço das outras 14 casas modernistas erguidas na Pampulha na mira do tombamento é guardado a sete chaves. O motivo é simples: os proprietários ainda não foram oficialmente comunicados. 

Um inventário dos imóveis a serem protegidos está em andamento, mas não há prazo para a conclusão dos trabalhos.

Se a indicação de tombamento for aprovada pelos órgãos de proteção da cidade, será iniciada, posteriormente, a elaboração de um dossiê de tombamento. Data da edificação, microfilme da planta, fotografias e levantamentos com as características arquitetônicas e históricas constarão no documento.

O inventário é executado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. “A mudança cria diretrizes específicas com normas a serem seguidas em caso de intervenções, sempre no sentido de preservar a originalidade do imóvel”, explica a chefe do Departamento de Gestão e Monitoramento da Diretoria de Patrimônio Cultural, Mariana Guimarães Brandão.

Segundo ela, a Pampulha é uma referência do modernismo e precisa de um olhar diferenciado. “Nesses imóveis existem elementos muito característicos. São lotes maiores com grandes áreas de lazer. Há também características próprias do estilo (modernismo). Elas podem ser percebidas facilmente. Por exemplo, a separação do setor íntimo (quartos) do pessoal (sala, copa)”.

Mariana Brandão destacou ainda que famílias contrárias poderão recorrer do tombamento quando a medida for anunciada.

Proprietários dos imóveis contrários ao tombamento poderão apresentar impugnação do processo quando forem informados pelo órgão de proteção; o prazo para o protesto é de 15 dias após o recebimento do comunicado

 Bom, mas com ressalvas

Há exatos 45 anos, Claude René Camille Mines reside na região da Pampulha. Vice-presidente da associação dos moradores dos bairros São Luiz e São José, ele vê com bons olhos o processo de tombamento. No entanto, faz algumas ressalvas. “A preservação da história, do povo é o que torna um país grande, como existem muitos na Europa. Porém, é preciso parar com os excessos”, afirma.

Para Claude Mines, a sociedade precisa ser ouvida no processo. “Muitas vezes, as famílias ficam reféns de qualquer intervenção futura devido ao tombamento. Às vezes não se pode mexer nem num banheiro. Fica inviável. Claro que os argumentos técnicos precisam ser respeitados, mas, nós (população), temos de ser ouvidos”.

Existem hoje 12 imóveis tombados na Pampulha, sendo quatro residências privadas; demais são equipamentos culturais

Expectativa

O anúncio sobre o reconhecimento, ou não, do conjunto como patrimônio da humanidade deve ocorrer no sábado. Antes, a previsão era para amanhã. O adiamento se deve ao andamento da pauta na 40ª sessão do comitê do patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco). O evento acontece em Istambul, na Turquia. 

A decisão está nas mãos de técnicos de 21 países. O título é concedido a monumentos, trechos urbanos e ambientes naturais que tenham valor histórico, estético, científico, dentre outros. Conforme o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, houve atraso nas discussões anteriores, que acontecem desde o último domingo. “O encontro debate o patrimônio mundial como um todo. A pauta da Pampulha precisou ser postergada, mas não há problema. Seguimos confiantes”.

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