Rainha do Carnaval de BH é chamada de 'macaca'; assista ao vídeo com o desabafo

Anderson Rocha
@rochaandis
02/09/2020 às 15:10.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:26
 (Reprodução/ Redes sociais)

(Reprodução/ Redes sociais)

Dois casos de injúria racial foram registrados pela polícia em Belo Horizonte e Contagem, na Região Metropolitana da capital, em menos de uma semana. A Rainha do Carnaval de BH de 2020, Lais Lima, de 26 anos, foi chamada de 'macaca' por um homem que havia lhe contatado via WhatsApp. A jovem, que também atua como enfermeira, modelo e atriz, procurou a Polícia Civil, que instaurou um inquérito sobre o caso.

De acordo com Lais, o homem a procurou, na semana passada, pelo aplicativo de mensagens e demonstrou interesse em conhecê-la. Sem foto que o identificasse no perfil, o suspeito teceu elogios à jovem, iniciou perguntas sobre a rotina dela e começou a ligá-la frequentemente. 

Incapaz de identificar quem era a pessoa que mandava mensagens e ocupada no plantão de um centro médico, a jovem ignorou o contato do homem. Diante da negativa, o suspeito teria se irritado e afirmado que ela estava "demorando a responder". Na noite de sexta-feira (28), ele iniciou os ataques.

"Me chamou de burra e vadia. E disse 'tinha que ser preta'. Eu bloqueei o contato imediatamente. No dia seguinte, ele me mandou outra mensagem, normalmente, de outro número. Me perguntou como eu estava e disse que queria me conhecer", informou a jovem. 

Lais respondeu com um áudio, informando que não o conhecia e que gostaria de saber quem era e pediu que ele enviasse uma foto. Nesse momento, o homem retrucou com um áudio ainda mais agressivo que as mensagens do dia anterior. 

"Ele disse que eu estava me achando demais, que a única coisa que homens querem comigo é sexo para satisfazer o prazer. Disse que eu não passava de um fetiche. Me chamou de macaca e perguntou quem eu achava que era para querer saber quem ele era", relatou a vítima. Lais bloqueou o contato.

Nesta semana, a jovem procurou a Polícia Civil e foi orientada a reunir registros dos contatos e levá-los até a Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Racismo, Xenofobia, LGBTfobia e Intolerâncias Correlatas, que acompanha o caso. A identidade do homem ainda é desconhecida.

De acordo com a corporação, um inquérito policial foi instaurado e detalhes da investigação serão divulgados "em momento oportuno".

"Fui ofendida, constrangida, humilhada, também por saber que não é o pensamento exclusivo daquela pessoa. A gente sente na pele [o racismo]. Nas profissões que eu tenho, sofro muito e perco trabalhos por causa da cor da minha pele", declarou.

Injúria em Contagem

Outro caso de injúria racial foi registrado em boletim de ocorrência pela Polícia Militar nessa terça-feira (1) em Contagem. O caso teve início após um desentendimento entre dois homens sobre a posse de um lote vago localizado na avenida dos Trompetes, no bairro Tropical.

De acordo com a PM, a advogada, de 41 anos, foi acionada ao local por um jovem de 28 anos, que alegava ser proprietário de um terreno que estaria sendo invadido por um homem de 48 anos, que também afirmava ter a posse da terra.

Segundo os militares, houve desentendimento no local e o homem que fazia o cercamento e a limpeza do terreno não teria ficado satisfeito com a presença da advogada. Em determinado momento, ele teria afirmado que a mulher era 'advogada negrinha' e 'pretinha comedora de feijão cru'.

Ainda segundo a PM, a vítima chegou a acionar o apoio do marido, que seria agente da Guarda Municipal da cidade, para ajudar no caso. A Polícia Militar também foi chamada e nove pessoas foram levadas para a Delegacia de Polícia Civil de Contagem. 

Injúria racial

Conforme o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a injúria racial é caracterizada, geralmente, pelo uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor de uma pessoa, com a intenção de ofender a honra da vítima.

"A injúria racial está prevista no artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que estabelece a pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la", informou o órgão.

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