Recuperação de biomas em Minas não acompanha o ritmo do desmatamento

Da Redação
horizontes@hojeemdia.com.br
17/01/2020 às 21:29.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:20
 (Welington Pedro de Oliveira / Divulgação)

(Welington Pedro de Oliveira / Divulgação)

O desmatamento varreu do mapa de Minas Gerais 241 mil hectares de áreas verdes na última década. No mesmo período, apenas 70 mil hectares foram alvo de restauração ambiental, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). As áreas atingidas incluem mata atlântica, caatinga e cerrado, bioma predominante no Estado e principal alvo da devastação. Welington Pedro de Oliveira / Divulgação

Para se ter uma dimensão do estrago, o espaço destruído de 2009 a 2018 equivale a sete vezes o tamanho de Belo Horizonte ou, ainda, a 13.850 estádios do Mineirão. Tudo consumido por atividades ligadas ao agrone-gócio, ao crescimento urbano ou a atividades industriais como a mineração. 

De acordo com a Semad, desde 2016 mais de 70% do desmatamento ilegal em Minas atingiram o cerrado, sendo que o Norte e o Noroeste são as regiões que concentram as maiores perdas. 

Mestre em Geografia pela UFMG e estudioso do bioma, Evandro Alves explica que os prejuízos do desmatamento podem ser irreversíveis. Ele destaca que o cerrado é a “caixa d’água do país” e abriga nascentes de importantes rios, como o São Francisco. “Quando se destrói essas áreas, direta ou indiretamente você está decretando a morte desses mananciais”, afirma. 

Alves ainda ressalta que, por estar em um fronteira agrícola, o cerrado passou a ser visado como um território que deveria ser ocupado. “Há esforços privados e governamentais para essa ocupação. Até por uma questão estética, por não ter a exuberância da região amazônica por exemplo, o cerrado é visto como algo menos importante, o que é um grande equívoco”. 

A disputa entre preservação de meio ambiente e agronegócio é antiga. Em termos de produção, é uma atividade econômica importante, mas são visíveis os impactos nos recursos hídricos por conta dos desmatamento. Ou seja, há menos retenção de água em áreas sem a vegetação e impactos nos recursos hídricos. Várias cidades entraram em situação de emergência por causa da falta d’água, o que, em partes, está ligado às questões climáticas mas também ao desmatamento. Em todo país, o cerrado e a caatinga são subvalorizados, ao contrário do que acontece com a Amazônia. O fato é que eles são igualmente importantes. Além disso, Minas tem a maior área plantada de eucalipto do mundo e, comumente isso é ‘vendido’ como um modo de reflorestamento. Na verdade, trata-se de uma atividade produtiva, de uma monocultura, ou seja, não pode ser considerada uma área reflorestada. Em suma, é preciso que a sociedade reflita e inicie uma discussão sobre os usos da terra e a preservação das florestas”Lucas Pessoa - Professor do curso de Engenharia Ambiental das Faculdades Kennedy

Destruição 

A devastação da mata atlântica, segundo bioma mais destruído por aqui, também impressiona. De acordo com a Semad, nos últimos dez anos foram perdidos mais de 41 mil hectares da vegetação. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o Estado foi o que mais desmatou essas áreas em 2017 e 2018.

Conforme a entidade, Minas vinha desde 2015 diminuindo paulatinamente os índices, mas voltou ao topo do ranking nacional. No último biênio, o desmate de mata atlântica superou em 60% os índices do Piauí, segundo colocado na lista. 

Subnotificados

Os números oficiais do desmatamento podem estar subnotificados, afirma a superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas. “A tônica da expansão horizontal continua e não há política sólida para a recuperação dessas áreas”, frisa. 

Para a ambientalista, a demanda pela expansão agrícola tem engolido as áreas verdes do Estado e é necessário promover mudanças na legislação para que os ecossistemas nativos sejam preservados. “Queremos discutir uma emenda para que o cerrado vire patrimônio, assim como a mata atlântica é. Isso nos daria uma abrigo legal maior, mas precisamos de apoio do poder público”, defende a superintendente.

Cadeia de restauração

Por nota, a Semad informou que o Instituto Estadual de Florestas (IEF) está “em processo de reformulação de seu programa de fomento, elaborando um planejamento da cadeia da restauração no Estado”, que norteará as ações do órgão “nos anos futuros”. 

Segundo a secretaria, de 2009 a 2019 “foram conservados mais de 3,5 milhões de hectares do bioma mata atlântica e 79 mil hectares de cerrado” por meio de unidades de conservação criadas no território mineiro.

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