Reintegração de posse em Campo do Meio tem quatro detidos; MST denuncia violência

Da Redação*
portal@hojeemdia.com.br
15/08/2020 às 12:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:17
 (FACEBOOK/MST/DIVULGAÇÃO.)

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Quatro pessoas foram presas por resistir ao despejo do acampamento Quilombo Campo Grande, na cidade de Campo do Meio, no Sul de Minas. De acordo com a Polícia Militar, o quarteto desobedeceu as diversas ordens para desobstruir a via e desocupar o local. Além disso, conforme a corporação, os moradores foram hostis com os militares.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no entanto, afirma que a PM foi truculenta e agiu com violência durante a reintegração de posse. A ação de despejo, que durou três dias, foi marcada por tensão. Fogos, barricadas e bombas de gás foram utilizados pelos militares e manifestantes.

Os quatro detidos na noite de sexta-feira (14), sendo três homens e uma mulher, resistiram. Com eles, conforme o boletim de ocorrência, foram apreendidos duas caixas de fogos de artifício, com seis unidades cada, além de três estilingues, um galão com 20 litros de combustível, duas bandeiras do MST e quatro celulares. Uma criança que estava com a mulher foi deixada com uma conselheira tutelar da região.

Os presos foram levados para a Santa Casa de Alfenas e, depois de atendidos - segundo a PM não apresentavam lesões -, foram transferidos para a delegacia de plantão da cidade. 

Embate

A ação de despejo foi determinada pelo juiz Roberto Apolinários de Castro, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A ordem começou a ser cumprida na quarta-feira (12) e concluída na sexta. O MST diz que o despejo se concretizou com um ataque violento da polícia às famílias organizadas. Chefe da sala de imprensa da PM, a capitão Layla Brunella garante que não houve truculência, mas admite que foi preciso ações enérgicas e proporcionais "dentro da legalidade".

"Não houve qualquer excesso. A ação foi em razão do cumprimento da determinação legal", disse. Ainda segundo a representante da PM, os manifestantes arremessaram pedras e atearam fogo em direção aos policiais, sendo que alguns se machucaram. "A ação do Batalhão de Choque só ocorreu depois de mais de 50 horas de negociação e sem uso de força. Todo o processo foi pacífico e filmado. As imagens foram encaminhadas ao poder judiciário", declarou.

Risco 

A Defensoria Pública de Minas Gerais avalia que a execução da ordem de reintegração de posse durante a pandemia colocou em risco os moradores do acampamento. “Fizemos todos os esforços para tentar suspender essa operação. Não é possível considerar, do ponto de vista até constitucional, com o princípio da dignidade humana, que, em um tempo dessa natureza, com mais de 100 mil mortos pela Covid-19, uma crise sanitária de alta gravidade, seja realmente sensato fazer uma operação policial dessa natureza”, disse a defensora pública Ana Cláudia Alexandre Storch, da Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais. Segundo ela, é “inconcebível” imaginar que tenha havido urgência que justificasse a ação. 

O MST também criticou a ação realizada durante a pandemia. "A mobilização do aparato policial promoveu aglomeração expondo não somente as famílias sem terra, mas também toda a população da região à propagação do coronavírus, inclusive grávidas, idosos e outras pessoas do grupo de risco".

O governo de Minas informou que a PM cumpriu uma determinação judicial e que, antes da reintegração de posse, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) enviou ao Judiciário, na terça-feira (11), manifestação coletiva junto a outros órgãos para que a reintegração de posse na gleba da Fazenda Ariadnópolis não fosse realizada durante a pandemia da Covid-19. No entanto, houve resposta negativa do judiciário. "As famílias foram encaminhadas para locais disponibilizados pela Prefeitura de Campo do Meio. A Sedese presta apoio técnico aos gestores da assistência social do município para atendimento às famílias", informou o governo.

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