Rejeitos de minério de ferro não são tóxicos, mas podem sedimentar rio e matar animais e vegetação

Juliana Baeta
25/01/2019 às 16:59.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:13
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Os rejeitos da barragem da Vale, que se rompeu em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), podem chegar ao rio Paraopeba. O curso tem água captada desde 2015 pela Copasa para o abastecimento da Grande BH. 

Segundo o professor Allaoua Saad, do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, os rejeitos presentes na barragem não são tóxicos. "Trata-se de minério de ferro, mesmo material da lama de Mariana. É um rejeito pesado, que, quando misturado em água, se sedimenta e, por isso, pode matar animais e vegetação", explica. 

Diretor do Projeto Manuelzão, Marcus Vinícius Polignano, diz que o conceito de "toxicidade" é relativo. "Estamos falando de sedimentos. É um material sólido, que vai ocupar o lugar da água, e, gradativamente, causar a morte do rio e de muitos peixes da região. A água também vai ficar imprópria para o consumo", argumenta. 

Polignano teme que a contaminação do rio afete o abastecimento de água na RMBH. "Vai afetar a captação de água da Copasa na bacia do Paraopeba, que é responsável por cerca de 50% do abastecimento da região metropolitana de BH. Além disso, na sequência do rio, há a Usina Termelétrica de Igarapé, da Cemig, onde também há um pequeno embarramento que pode ser comprometido. É um absurdo que depois do que aconteceu em Mariana coisas deste tipo se repitam, é inadmissível", lamenta. 

A solução que poderia ter evitado este tipo de tragédia, segundo o professor Saad, é a reutilixação dos rejeitos da barragem. "E isso não é novidade, já há diversos estudos, pesquisas, livros e experiências sobre isso há décadas. O rejeito pode ser tratado, ele pode ser transformado em cimento, por exemplo, ou pigmento, e existe tecnologia para isso. É uma opção que reduziria muito os riscos de um rompimento, e também é um modo mais econômico e ambientalmente responsável de se lidar com esses rejeitos. Porém, até hoje não houve investimento por parte do poder público e nem da mineradora", conclui. 

Segundo a Copasa, no entanto, o abastecimento na RMBH não deve ser prejudicado. "A Companhia informa que está monitorando a situação e acompanhando no local. Caso seja necessário, o abastecimento da região atendida pelo sistema Paraopeba passará a ser realizado pelas represas do Rio Manso, Serra Azul, Várzea das Flores e pela captação a fio d'água do Rio das Velhas", informou. 

Já a Cemig informou que está "atuando operativamente para garantir a segurança da barragem da Termelétrica Igarapé, localizada no rio Paraopeba" e que a "mesma ação está sendo realizada na Usina Hidrelétrica de Três Marias, localizada no Rio São Francisco, do qual o Paraopeba é afluente".  

Leia nota da Vale: 

"A Vale informa que, no início desta tarde, ocorreu o rompimento da Barragem 1 da Mina Feijão, em Brumadinho (MG). A companhia lamenta profundamente o acidente e está empenhando todos os esforços no socorro e apoio aos atingidos.

Havia empregados na área administrativa, que foi atingida pelos rejeitos, indicando a possibilidade, ainda não confirmada, de vítimas. Parte da comunidade da Vila Ferteco também foi atingida.

O resgate e os atendimentos aos feridos estão sendo realizados no local pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil. Ainda não há confirmação sobre a causa do acidente.

A prioridade máxima da empresa, neste momento, é apoiar nos resgates para ajudar a preservar e proteger a vida de empregados, próprios e terceiros, e das comunidades locais".

  

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