Remédios ‘naturais’ são vendidos livremente via internet

Aline Louise - Hoje em Dia
08/05/2015 às 06:08.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:56
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

“Milagroso fitoterápico que reduz até 11 quilos em quatro semanas chega ao Brasil”. O anúncio circula amplamente na internet, sobretudo no Facebook, e seduz pela promessa de emagrecimento rápido e fácil. Para convencer os consumidores, o anunciante garante que famosas já usaram o produto e que esse é o segredo para ostentarem corpos tão perfeitos.


Mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faz o alerta: não existe nenhum produto fitoterápico emagrecedor, dito natural, registrado no Brasil. Ou seja, os vendedores desses “medicamentos” estão irregulares. A Anvisa explica que todos os produtos com este apelo, em circulação na web, fazem propaganda enganosa. Muitos são até registrados, em outras categorias, mas não têm liberação para venda como emagrecedores.


“Esses anúncios são ilegais porque afirmam que os produtos possuem uma função terapêutica que não têm ou, muitas vezes, contêm princípios proibidos, como anfetamínicos. Para se divulgarem com esta função emagrecedora precisariam ser registrados nesta categoria e teriam que passar por todos os testes para comprovar sua eficácia”, afirma a agência, em nota.


Experiência


A empresária Alzenir Oliveira Castro se interessou ao ver a propaganda na internet. “Estava no Facebook, falando que artistas estavam usando e a gente entusiasma pelo produto. Então eu comprei. Tomei conforme a orientação e não vi efeito algum. Não atendeu à minha expectativa”, relata.


O presidente do departamento de endocrinologia da Associação Médica de Minas Gerais, Márcio Lauria, alerta para a utilização desses produtos. “A maioria deles, apesar de se dizerem naturais, não passam por qualquer controle de qualidade ou fiscalização. Então, a pessoa vai correr riscos por contra própria. Geralmente, os remédios não funcionam, não há comprovação científica da eficácia, e podem trazer problemas para saúde”.




NUTRIÇÃO – Amanda Diniz observa que não há alimento milagroso que gere perda de peso (Foto: Frederico Haikal/Hoje em Dia)


Produtos


Várias cápsulas vendidas como emagrecedoras são de fato à base de produtos naturais, como café verde e goji berry, mas a nutricionista Amanda Alves de Abreu Diniz reforça que “nenhum alimento por si só tem a capacidade de alterar o metabolismo de uma pessoa para provocar a perda de peso”. A especialista destaca que estes produtos, mesmos naturais, não contêm bula, assim, efeitos adversos são desconhecidos.


Amanda lembra que existem sim alimentos funcionais como o chá verde, que possui componentes que ajudam na quebra da gordura, e gengibre e canela, que são termogênicos. Eles comprovadamente colaboram no processo, mas o consumo adequado deve ser orientado por um profissional da área de saúde e outras medidas devem ser associadas para que a perda de peso aconteça.


“O que realmente leva a pessoa ao emagrecimento é a mudança de hábito alimentar, não adianta acreditar que isso é possível usando um alimento apenas. É preciso praticar atividades físicas também”, ressalta.



Monitoramento e fiscalização de comércio na web são desafios para agência reguladora


“Oi Renata, acabei de ver seu anúncio no Facebook. O que é a Semente Happylife Emagrecedora?”, pergunta a repórter do Hoje em Dia. “É castanha da Índia desidratada no óleo de macadâmia”, responde a vendedora do produto via internet. Questiona a repórter: “E tem um rótulo, um site em que eu possa ver o produto?” Renata: “Não, porque é natural”.


Essa é a reprodução de um trecho da conversa da nossa reportagem com uma vendedora de um tipo de emagrecedor. O produto não tem qualquer tipo de registro e 60 cápsulas custam R$ 99,90. Segundo a vendedora, ela própria perdeu 26 quilos com o remédio, “só controlando a alimentação”. E garante que a demanda é alta: “vendemos para todo Brasil, Estados Unidos, Alemanha e Japão”.


A Anvisa admite que o monitoramento e a fiscalização de comércio e publicidade de produtos na internet “são um grande desafio”, até porque muitos sites não estão hospedados no Brasil.


Criminal


No entendimento do titular da 2ª Delegacia de Crimes Cibernéticos de BH, César Duarte Matoso, o fato de uma pessoa vender um produto natural na internet não configura crime, apesar das possíveis infrações, quanto ao registro e a propaganda enganosa.


Entretanto, ele chama atenção que se o produto for comprovadamente adulterado, ou contiver substâncias proibidas, o suspeito estará sujeito a reclusão de 10 a 15 anos.


Projeto Click Saudável aponta riscos ao consumir produtos falsificados e sem registro


Para tentar cercar o problema da venda de produtos irregulares na internet, além da fiscalização, a Anvisa tem buscado ampliar o acesso a informações relacionadas aos riscos da aquisição e utilização destes itens.


Como parte desta iniciativa, a agência lançou, no último mês, o projeto Click Saudável. Pelo site (clicksaudavel.gov.br), o consumidor encontra conteúdo, com linguagem simples, sobre os riscos associados a produtos sem registro e falsificados. As informações são dispostas em postagens agrupadas em diferentes categorias de produtos e podem ser compartilhadas nas redes sociais.


O projeto ainda prevê a parceria com empresas e instituições que atuam de forma relevante na internet, como sites de busca, de e-commerce e redes sociais, para ampliar a divulgação das informações do Click Saudável, bem como a utilização de ferramentas existentes para aprimorar a fiscalização na web.


Cooperação


A primeira parceria foi celebrada entre a Anvisa e a empresa E-bazar, responsável pelo site Mercado Livre. O protocolo de cooperação contempla, no primeiro ano, a veiculação de 12 milhões de mensagens que alertam sobre riscos associados aos produtos irregulares, direcionando o internauta para o site do projeto, para obtenção de informações mais detalhadas.


O Facebook destaca que todos os usuários têm acesso a links para denunciar qualquer conteúdo que considerar impróprio.

 


“A compra de emagrecedores pela internet geralmente gera frustração. Eles não vão atingir a promessa da propaganda” Amanda Alves diniz - Nutricionista


OLHO: O cidadão que suspeitar de fraude, estelionato ou adulteração de produto vendido na internet, pode procurar a Polícia Civil. Quem comprou um emagrecedor dito natural e se sente enganado, pode fazer denúncias à Vigilância Sanitária e ao Procon


OLHO: De acordo com o delegado de crimes cibernéticos César Duarte Matoso, nas compras pela web, as vítimas, em maioria, são de estelionato, que pagam por um produto que não existe. Neste caso, o autor está sujeito a prisão de um a cinco anos
 

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