Ressocialização pelo trabalho: atividade desenvolvida por detentos de Itajubá é referência em Minas

Da Redação
minas@hojeemdia.com.br
03/03/2017 às 19:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:48

Bicicletas transformadas em cadeiras de rodas, brinquedos revitalizados e uniformes produzidos em escala industrial. Essas são algumas das atividades realizadas no presídio de Itajubá, no Sul de Minas.

A lista, que ainda inclui a lavagem de roupas de postos de saúde, não para de crescer. O trabalho conta com a dedicação dos presos, que trouxeram experiências profissionais de fora ou aprenderam o ofício em cursos oferecidos na própria unidade.

A dupla Donizeti e Damião é sinônimo de esperança e alegria para adultos e crianças da região. Eles já transformaram mais de 300 bicicletas em cadeiras de rodas. As bikes foram apreendidas por roubo ou uso no tráfico de drogas e estavam na Delegacia de Itajubá.

Parceira no projeto das cadeiras de rodas, a empresa Helibras, instalada na cidade, doa materiais e faz a pintura dos aparelhos

Os detentos ainda fizeram renascer brinquedos quebrados de praças públicas e escolas. Os dois são responsáveis também pela manutenção geral do presídio e atuam nas áreas de hidráulica, elétrica, pintura, máquinas e alvenaria.Omar Freire/Imprensa MG / N/ANO PRESÍDIO – Detentos fazem a comida que será servida

O projeto das cadeiras de rodas começou há seis meses e tem o apoio da Helibras, empresa brasileira fabricante de helicópteros, instalada no município. Ela doa as rodas menores, o aro para locomoção, o estofamento e faz a pintura. A firma ainda doou uma máquina de solda profissional para a oficina do presídio.

Damião Pereira dos Santos, de 41 anos, conta que também faz outras reformas em cadeiras de rodas e já participou de algumas entregas. “É um momento emocionante, fico muito feliz. É gratificante poder ajudar as pessoas com o meu trabalho”.

Para o diretor de Atendimento e Ressocialização, Leandro Rodrigues Palma, o projeto das cadeiras de rodas ocupa um lugar especial entre todas as atividades exercidas pelos detentos. “Fiquei impressionado com um documento enviado pela ONG Caravelas, em que relatava problemas sociais na região e pedia ajuda. A partir disso, foram surgindo ideias para auxiliarmos de alguma forma”.

Presos preparam refeições e fazem serviço de lavanderia 

A relação do presídio com a comunidade envolve também alimentação e lavanderia. Semanalmente, cerca de 200 peças de roupas de cama são entregues nos postos de saúde de Itajubá. Dois detentos operam as máquinas.

Na câmara de preparo, os presos lavam, descascam, cortam e embalam verduras, legumes e frutas para a cozinha do presídio. Para o restaurante popular da cidade são enviados, toda semana, cerca de 350 quilos de alimentos.

A refeição dos detentos e servidores é a mesma. Produção e controle de qualidade ficam por conta de uma nutricionista e uma chef de cozinha.

Eles são extremamente cuidadosos e competentes, sabem de suas responsabilidades”, garante a nutricionista Vanessa Nunes de Oliveira. Visitas inesperadas de inspeção são feitas com frequência. “Nunca fui surpreendida com qualquer tipo de erro ou descuido nas quatro refeições servidas diariamente”, diz.

Bobinas

A sigla da nova secretaria de Estado (Seap) já é aplicada nos uniformes dos detentos, fabricados na confecção que funciona no Presídio de Itajubá. São entregues, mensalmente, 2.400 calças femininas e 2.400 camisas masculinas, com 19 presos trabalhando de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

As peças são produzidas integralmente na oficina a partir de bobinas de tecidos. Tudo é cuidadosamente marcado e cortado pelo detento Bruno Fernandes Lamin, de 32 anos.Omar Freire/Imprensa MG / N/A

ROUPA – Uniforme feminino é confeccionado pelos presos

 A experiência dele, que esteve por oito anos em uma confecção em Virgínia, também no Sul de Minas, serviu para que atuasse como um dos principais homens na produção dos uniformes. O rapaz treinou 25 colegas. Alguns deles tiveram a liberdade e montaram o próprio negócio.

“É um prazer ensinar, ver que os colegas se esforçam. Em qualquer cidade existe uma confecção. Então, não falta trabalho. Basta querer”, afirma Bruno Fernandes.

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