Retrato social melhora na Grande BH, mas cenário econômico pode frear avanços

Patrícia Santos Dumont e Renato Fonseca - Hoje em Dia
06/10/2015 às 07:07.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:57
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Investimentos sociais e melhoria de emprego e renda fizeram a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) dar um salto na qualidade de vida dos moradores. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a vulnerabilidade social caiu 27,5% entre 2000 e 2010. Avanços que, para serem mantidos, terão que enfrentar a crise pela qual passa o país. O temor é de que a situação econômica atual afete o desenvolvimento dos municípios e comprometa os resultados conquistados.

Para o presidente da Associação dos Municípios da RMBH (Granbel) e prefeito de Vespasiano, Carlos Murta, os cortes previstos pela União e a extinção de programas sociais podem impactar diretamente na qualidade de vida experimentada por quem vive no entorno da capital.

“O que houve até o fim de 2014 e início de 2015 foi um avanço fomentado sobretudo pelo governo federal. O que temos pela frente é uma tendência à redução do desenvolvimento social, resultado da crise econômica e política. Corremos o risco de voltar à vulnerabilidade de anos atrás, com cidadãos na criminalidade, sem emprego e baixa renda”, disse.

EM TODO O PAÍS

Divulgado ontem, o Atlas da Vulnerabilidade Social nas Regiões Metropolitanas Brasileiras levou em consideração informações do censo demográfico do IBGE e reuniu informações sobre 16 regiões metropolitanas. Em todas, houve diminuição no índice de vulnerabilidade. O estudo avalia situações indicativas de exclusão que vão além da identificação da pobreza apenas como insuficiência de recursos monetários.

Na Grande BH, as maiores evoluções estão ligadas à geração de emprego e à melhoria na renda. A vulnerabilidade nesses quesitos caiu quase 45%. A maior variação absoluta foi observada na taxa de desocupação da população com 18 anos ou mais.

Na sequência aparecem resultados ligados à educação e índices de analfabetismo (capital humano) e à infraestrutura urbana, que contabiliza o abastecimento de água e o esgotamento sanitário aos moradores dos municípios.

Pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar) e professor da Faculdade de Ciências Econômicas na universidade, Mário Rodarte diz que é prematuro relacionar a crise à perda imediata dos resultados obtidos em uma década, mas reconhece que o cenário é preocupante e ameaçador.

“Não gosto de fazer muitas apostas em relação à crise, pois não sei se chegamos ao fundo do poço. O estudo reflete avanços e mostra que a crise pode ter resultado em alguns retrocessos, mas que não voltamos ao ponto original, tampouco perdemos o que já foi conquistado”. Ele reforça que a taxa de desemprego atual não atingiu os patamares de 2000.

Investimento em educação reflete diretamente na qualidade de vida

A combinação entre o aumento do percentual de crianças de até 14 anos na escola e a redução do número de meninas que foram mães antes de completarem a maioridade ajudaram a puxar para baixo a vulnerabilidade social ligada ao componente capital humano, na RMBH.

Na avaliação da pesquisadora da Fundação João Pinheiro (FJP) Maria Izabel Marques, o retrato social dos últimos dez anos revela, sobretudo, políticas públicas voltadas para a conscientização da mulher com reflexos importantes nas condições familiares.

“Mais meninas na escola significa mais meninas deixando de engravidar precocemente; uma associação de indicadores que refletem uma nova condição de vida, resultado da melhora nos investimentos voltados às políticas para a juventude”, avalia.

SABARÁ

O investimento em educação foi um dos fatores que contribuíram para a redução dos índices analisados na pesquisa em Sabará, na região metropolitana. A vulnerabilidade social na cidade vizinha à capital passou de “muito alto” para “médio”.

Inaugurada em março de 2009, a Escola Municipal Maria Célia de Freitas, no bairro Roça Grande, é uma das referências no aprendizado dos mais de 13 mil alunos matriculados em toda a rede.

Alguns alunos estudam em período integral, podendo utilizar a biblioteca, sala de informática e quadra de esportes. Com mais de 12 anos dedicados à educação no município, a diretora Rosângela Silva diz que muitos avanços foram obtidos, mas reconhece que o desafio ainda é grande.

“A situação melhorou muito nos últimos anos. Existem vagas para todas as crianças da cidade. Porém, a questão da educação envolve uma série de fatores, principalmente o apoio da família que deve, sempre, incentivar a presença do filho nas instituições”, afirma.

É o caso do aluno Daniel Gomes, de 9, aluno do 5º ano. O menino conta que a mãe, Diléia Gomes de Souza, “fica no pé” dele e dos outros três irmãos na hora dos estudos. “Lá em casa, todos têm que estudar, e muito”, diz Daniel.

Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o projeto para a construção de seis novas creches na cidade, que estava abandonado há quatro anos, será retomado nos próximos meses, segundo a prefeitura.

Em 2000, 15 municípios da RMBH ficaram na faixa classificada como muito alta vulnerabilidade social; em 2010, não havia nenhuma cidade nessa classificação

9% foi a redução nos índices de vulnerabilidade de infraestrutura urbana na rmbh, ou seja, melhoraram saneamento básico e mobilidade urbana

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