Casa de apoio em BH é refúgio para familiares de pacientes com febre amarela

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
02/02/2018 às 20:58.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:07
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Se a batalha contra a febre amarela é dura para quem está internado à espera da cura, ela também exige muita resistência dos familiares desses pacientes. São pessoas que vêm do interior para Belo Horizonte vestidos somente com a roupa do corpo e com a própria fé.

A maioria chega ao Hospital Eduardo de Menezes – unidade de saúde no bairro Bonsucesso, no Barreiro, que é referência no tratamento da doença – sem sequer saber aonde vai dormir. É nesse momento que descobrem a existência de uma casa de apoio que tem sido o refúgio diante de tanta angústia. 

O espaço foi criado por Ivanilda Cândida, de 49 anos, funcionária do quadro administrativo do hospital. Ela se sensibilizou com a situação em fevereiro de 2017, quando o Estado registrou a primeira epidemia de febre amarela. Naquele mês, eram 251 casos confirmados e pelo menos 91 mortes.

A casa simples, de oito cômodos, alugada por Ivanilda pelo valor mensal de R$ 600, fica localizada em uma rua sem saída nem pavimentação, às margens de um córrego. O imóvel tem capacidade para abrigar confortavelmente 20 pessoas, mas dependendo da demanda, o número de hóspedes pode ser maior.

Organização

No improviso, colchões são estendidos pelo chão quando os quartos ficam cheios e, no fim das contas, todos se acomodam. No dia a dia da residência, a limpeza e o preparo das refeições ficam por conta dos próprios hóspedes. 

Normalmente, há pessoas de todos os cantos do Estado, mas com o aumento dos casos de febre amarela, a presença de moradores de Mariana, Barão de Cocais e Brumadinho – cidades da região Central com casos confirmados da doença – se tornou mais comum. “As pessoas permanecem aqui pelo tempo que for necessário. Tenho uma hóspede que acompanha um parente com tétano e está na casa há seis meses”, explica Ivanilda. 

Apesar de o período de permanência não ter limitação, a seleção dos hóspedes fica a cargo de uma assistente social que verifica se há algum portador de doenças contagiosas entre os pretendentes à vaga. “Alguém com tuberculose, por exemplo, não poderia ficar”, ressalta.

Quem consegue se hospedar passa os dias entre o alívio de ter um local para ficar e a angústia de acompanhar o tratamento do parente internado. É o caso de Walace Oliveira Silva, de 32 anos, que veio de Itaúna, também na região Central, ao lado da mãe, de 56, que aguarda a confirmação do diagnóstico por febre amarela. 

“Como viemos de Samu, eu não trouxe nenhuma peça de roupa. Já estou aqui há mais de sete dias, vivendo um dia após o outro, mas muito grato por esse acolhimento”, afirma o jovem.Flávio Tavares / N/A

ENTREGA – Arlinda largou tudo para acompanhar o irmão internado em BH com sintomas da febre amarela

Quem também está hospedada no imóvel é Arlinda Lourenço, de 49 anos, moradora de Pedras, subdistrito de Mariana. Ela teme pela vida do irmão, de 47, internado há mais de sete dias no hospital Eduardo de Menezes com sintomas da doença. Arlinda relata que ele não se vacinou, apesar de saber do risco. “Meu irmão é esse tipo de pessoa que nem cartão de vacina tem. Mas tenho fé que não voltarei para minha cidade sem ele”, conta.

Gratidão

Quem assiste ao familiar recebendo alta depois de uma semana de internação sob suspeita da febre amarela comemora. É o caso de Simone de Carvalho, que veio de Itabirito, região Central do Estado, acompanhando o marido que sentiu fortes dores na região do fígado pouco tempo depois de ser vacinado. 

Ela conta que, depois de receber a imunização, o esposo passou mal e foi trazido às pressas para capital. Os profissionais de saúde que o atenderam na cidade natal achavam que ele já havia sido picado antes da vacina.

“Cheguei completamente apavorada e sozinha em Belo Horizonte. Passei os primeiros três dias sem dormir. Se não fosse essa casa, nem sei o que seria de nós. Já estamos para receber alta porque o risco de febre amarela foi descartado”, relata Simone. 

Como ajudar

Para contribuir com a casa de apoio que abriga os familiares de pacientes do interior internados no Hospital Eduardo de Menezes basta entrar em contato com Ivanilda Cândida por meio do telefone (31) 985376187. O endereço do imóvel é rua Marselhesa, 312, bairro Bonsucesso.Flávio Tavares / N/AGENEROSIDADE – Ivanilda decidiu agir sozinha para ajudar pessoas que chegavam do interior acompanhando parentes

O espaço, segundo Ivanilda, recebe todos os tipos de doações, como cobertores, lençóis, alimentos, materiais de limpeza, produtos de higiene e até mesmo roupas usadas, já que a maioria dos hóspedes chega desprovida dos objetos pessoais.

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