
Quase 90 pedidos para vistorias em locais com possíveis focos do Aedes aegypti, transmissor da dengue, são feitos por mês em Belo Horizonte. São imóveis, lotes vagos, bota-fora ou mesmo ruas e avenidas com lixo que podem favorecer a proliferação do mosquito. A menos de dois meses do verão, o alerta se torna ainda mais urgente para barrar surtos da doença.
Os dias quentes e principalmente a chuvarada das últimas semanas com previsão de mais precipitações reforçam o temor contra a enfermidade, que já 871 pessoas doentes este ano. A capital ainda investiga 330 notificações.
Os dados ainda sugerem uma baixa transmissão, mas que pode se intensificar. “Sabemos que, com esse período de chuvas e temperaturas elevadas, os ovos que foram colocados no período da seca e que tiverem um novo contato com água, poderão retornar ao ciclo. E, dentro de dez dias, temos o mosquito adulto que pode transmitir a doença”, afirmou o subsecretário de Vigilância e Promoção à Saúde da PBH, Fabiano Pimenta.
Dentre os locais que merecem mais atenção, o subsecretário destaca as regiões Nordeste e Noroeste, que concentram as notificações. O alerta, no entanto, vale para todas as regionais, principalmente após a divulgação, há duas semanas, do balanço de focos identificados na metrópole por meio do sobrevoo de drones.
As aeronaves localizaram quase 8 mil possíveis criadouros do mosquito em apenas 106 sobrevoos, desde o fim de 2020. Em 80% dos casos, o risco está no próprio ambiente domiciliar. “Esse é o momento da gente redobrar a atenção para que a população de Aedes na cidade se mantenha em níveis baixos e não tenhamos surpresas desagradáveis no verão”.
Apesar da concentração nas residências, a falta de educação de muitas pessoas cria armadilhas na via pública. Nos últimos dias, o Hoje em Dia flagrou pontos de despejo irregular de lixo na rua Antônio Batista Júnior perto do Anel Rodoviário , no bairro Alto dos Pinheiros, e na avenida Nossa Senhora de Fátima, no Prado. Pneus, garrafas, caixas de remédio e até vasos sanitários dividem espaço com carros e pedestres.
Por nota, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) informou que investiga de quem é a “responsabilidade” da primeira área citada, mas que faz a limpeza sob demanda.
Em relação à avenida, disse que a região é atendida por coleta três vezes na semana, mas que parte da população descarta o lixo, com frequência, de forma irregular. Segundo a SLU, equipes de limpeza vão ao local até seis vezes por semana.
Um novo surto da dengue poderá ocorrer em 2022. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professor do Departamento de Microbiologia da UFMG, Flávio Guimarães da Fonseca, os ciclos epidêmicos da doença acontecem, em média, a cada três anos e, nos últimos dois, os registros foram menores.
Palavra do especialista
“Não dá para cravar que isso vai acontecer, mas a gente já está dentro desse período de padrão de alteração de surtos. Então, isso faz com que a gente tenha que ter uma atenção redobrada esse ano e, se não acontecer, no ano seguinte, porque certamente a gente já está próximo de um novo ciclo”, avaliou.
O virologista ainda explicou o motivo do fenômeno. “A cada vez que a gente tem um surto mais importante da doença, muitas pessoas se infectam e ficam imunologicamente resistentes a uma nova infecção. Com isso, no ano seguinte, menos pessoas são susceptíveis a contaminação. Depois disso pode haver uma alteração no sorotipo que causou um número maior de infecções, chamado de substituição. Isso acontece muito com a dengue e é por isso que a gente tem esses ciclos epidêmicos que variam de surto para surto”, finalizou.
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