Adultos sem vacina abrem caminho para novas epidemias

Raul Mariano*
05/05/2019 às 22:40.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:31
 (Gil Leonardi/Imprensa MG)

(Gil Leonardi/Imprensa MG)

Apenas três a cada dez mineiros entre 20 e 29 anos tomaram a segunda dose da tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), referentes à cobertura acumulada de 1997 a março deste ano, e evidenciam a vulnerabilidade dos adultos a essas doenças no Estado.

Hoje, além da tríplice viral, pessoas de 20 a 59 anos devem se vacinar contra hepatite B, febre amarela, dupla adulto (difteria e tétano) e pneumo-cócica 23 valente, que previne contra pneumonia, meningite e outras enfermidades causadas pela mesma bactéria.

A realidade, no entanto, é outra. No Brasil, conforme estimativas do Ministério da Saúde, a única dose voltada para esse público que passa dos 50% de cobertura acumulada é a da febre amarela.

"As pessoas, infelizmente, deixam de se preocupar com as vacinas na vida adulta e isso é preocupante”Isabella BallalaiPediatra

O tema foi amplamente debatido no Seminário Internacional sobre Imunização, realizado recentemente pela biofarmacêutica Pfizer, no Panamá. A baixa proteção entre adultos também é um problema na maioria dos países da América Latina, da Europa e nos Estados Unidos.

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) e palestrante do encontro, a pediatra Isabella Ballalai afirmou que o alerta já foi acionado. Ela ressaltou que muitos dos que têm entre 18 e 50 anos nunca tiveram caxumba ou sarampo, mas também não se vacinaram contra as doenças.

Esse grupo é alvo potencial caso haja novos surtos dessas enfermidades, avalia a especialista. “Hoje, somente os pediatras falam sobre vacinas, o que explica porque a cobertura entre crianças é maior”, afirmou. “Porém, adultos só se imunizam se o médico indicar. Por isso, a importância da orientação de cardiologistas e pneumologistas, por exemplo”, destacou.

A inexistência de uma meta anual de vacinação para os adultos, ao contrário do que acontece com o público infantil, é um dificultador. De acordo com o Ministério da Saúde, brasileiros de 20 a 59 anos “podem se vacinar em qualquer momento da faixa etária para a qual a vacina é ofertada no SUS, não havendo, portanto, um denominador específico para o cálculo do indicador”.

Mitos
A difusão de mentiras sobre as vacinas também é um dos principais desafios. Os mitos criados podem contribuir para que, a cada dia, mais pessoas passem a duvidar dos benefícios da imunização. A afirmação foi reforçada pela infectologista pediátrica Maria Luisa Avila Aguero, que foi ministra da saúde da Costa Rica, de 2006 a 2011.

A médica alertou para a velocidade com que as fake news se difundem com os meios de comunicação digitais e a dificuldade para combatê-las. “Até hoje o mito de que as doses causam autismo, criado em 1998, circula pelo mundo. Apesar de tudo já ter sido esclarecido, ainda há pessoas que acreditam”.

Pouca proteção contra pneumonia, muitas internações 

Uma das enfermidades que podem ser combatidas com vacinas e tem preocupado a América Latina é a pneumonia. A doença é apontada por especialistas como uma forte causa de internação e mortes entre os países vizinhos ao Brasil.

A literatura médica aponta que três a cada dez casos são provocados pela bacteria pneumococo. Só em 2018, cerca de 618 mil brasileiros foram internados nos hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

2,9milhões de pessoasnão receberam a primeira dose da tríplice viral em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde

Em Minas, a cobertura de vacinas de menores de 1 ano é de 90% e para crianças que completaram esta idade é de 84%, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) referentes a março.

Apesar dos números parecerem altos, o percentual ainda está abaixo do que é preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) para essas faixas etárias: 95%

Criança e gestante se blindam contra a gripe

A cobertura vacinal na campanha de imunização contra a gripe em 2018 ficou em 95% em Minas. No entanto, embora o dado supere a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, de 90%, o objetivo não foi alcançado pelo público-alvo formado por crianças, ficando em 83%.

No caso das gestantes, a marca também não foi atingida (85%). Neste ano, a campanha de vacinação já foi iniciada e segue até 31 de maio. 

 * O repórter viajou a convite da Pfizer

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