Com a pandemia da Covid-19 e o risco de contaminação pelo novo coronavírus, autoridades e especialistas em saúde passaram a reforçar a importância da higiene. Um reforço que, para pacientes com TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) ligado à limpeza, pode intensificar ou servir de gatilho para os sintomas.
O psiquiatra Tasso Amós explica que a busca pelo controle da situação, no contexto do combate à pandemia, pode piorar o comportamento do paciente. Ansiedade, medo, preocupações exageradas, pensamentos obsessivos e recorrentes são alguns sintomas do transtorno, que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), acomete de 3 milhões a 4 milhões de pessoas no mundo.
“É normal lavar os alimentos ao chegar do supermercado, lavar as mãos e adotar todos os cuidados de higiene básicos, isso não é obsessão. O problema é quando a preocupação exagerada gera compulsões que ultrapassam a necessidade de limpeza”, explica o médico.
A bancária Juliana Moreira (nome fictício) tem TOC ligado à limpeza desde 2017. Antes mesmo de a pandemia chegar ao Brasil, a bancária começou a se precaver. “Eu já tinha um estoque de luvas e quatro ou cinco frascos de álcool em gel para limpeza em casa. Agora, tenho 20”.
De tanto lavar as mãos, Juliana já não tem impressões digitais, o que a impede, por exemplo, de utilizar serviços que necessitam do recurso. Além disso, chegou a apresentar feridas na pele por conta das lavagens constantes e o uso excessivo do álcool em gel.
Arquivo Pessoal
Feridas nas mãos da Juliana, causadas por excesso de fricção, pouco após o ínicio da pandemia
Antes da pandemia, a bancária utilizava 200 ml de sabonete líquido para higienização das mãos em apenas cinco dias. Hoje, gasta 200 ml a cada dia. O medo de contrair o vírus é ainda maior porque Juliana tem pais idosos e com doenças preexistentes. A mãe tem mielodisplasia e o pai é pré-diabético. Por isso, além de precisar ir ao mercado para abastecer a própria despensa, providencia também compras diversas para atender às necessidades dos pais, o que potencializa a preocupação com limpeza.
O eletrotécnico Jhonatan Silva tem o mesmo TOC desde 2014, e classifica o transtorno como uma doença cruel. “Ele te manipula. Os rituais ficam tão intensos que você perde o prazer em fazer atividades do dia a dia. Já passei madrugadas limpando a casa, e tudo já estava limpo. Você fica escravo da obsessão dos pensamentos”, diz.
Problemas para dormir, tendência ao isolamento social e perda de produtividade no trabalho podem ser consequências do TOC. O principal sinal é quando a doença invade o paciente. “As obsessões - um turbilhão de pensamentos repetitivos motivados pela ansiedade -, alteram o comportamento e desgastam os relacionamentos da pessoa. O indivíduo fica detalhista, meticuloso e muito formalizado”, pontua o médico.
Terapia é essencial
O psiquiatra Tasso Amós afirma que ao primeiro sinal do transtorno é necessário procurar ajuda médica. Se não tratado, o TOC pode trazer outras consequências. “O distúrbio ainda pode gerar depressão, por exemplo. Algumas pessoas, para aliviar os sintomas, recorrem ao consumo de álcool, o que as expõe a outros problemas”, alerta.
Não é frescura!
Os portadores do transtorno muitas vezes têm de lidar com o estigma que os envolve. Familiares e amigos devem evitar críticas. Afinal, o assunto é sério, não é frescura. O que deve ser feito é incentivar o portador a procurar ajuda o mais rápido possível. Existe tratamento para a doença, e quanto antes começar, melhor.
Tratamento
O tratamento contra o TOC pode ser medicamentoso ou não. O medicamentoso utiliza antidepressivos, e o não medicamentoso pode incluir, por exemplo, a terapia cognitivo-comportamental, que é o tratamento realizado por Juliana e Jhonatan, devido ao cenário atual, por meio on-line. Felizmente, o tratamento está sendo um sucesso para ambos. Sem tratamento, os sintomas permanecem por toda vida.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para a doença incluem influências genéticas e ambientais. Portanto, ter algum membro próximo da família com diagnóstico de TOC requer mais atenção e cuidado com o corpo e a mente.
*Estagiária do Hoje em Dia, sob supervisão da editora Cássia Eponine
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