(Flávio Tavares)
O temor de se tornar mais uma vítima do Aedes aegypti tem obrigado os belo-horizontinos a aumentar o arsenal de proteção contra o mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika. Além de deixar o quintal limpo, cada vez mais as pessoas lançam mão do uso de repelentes. O artifício, porém, virou uma nova de dor de cabeça. Com o aumento da demanda, prateleiras das drogarias estão vazias e surge na internet um mercado paralelo e inflacionado.
Praticamente todos os produtos disponíveis têm sido consumidos e os estoques repostos com frequência. O mais procurado é o Exposis, do laboratório Osler, recomendado por médicos principalmente para grávidas e crianças. Além de duração mais longa (dez horas) tem a substância Icaricin, menos tóxica.
Basta um rápido giro por farmácias da região Leste de BH para comprovar a falta. Seis dos dez estabelecimentos visitados pela reportagem não tinham o Exposis. Nos locais com o spray, a elevada procura deixa vitrines vazias em questão de horas. “Todos os dias chegam 20 frascos. Ao meio-dia acaba tudo”, conta a vendedora de uma grande rede de medicamentos.
Lucro
Com as restritas opções, algumas pessoas lucram na web. O spray é facilmente encontrado em sites de vendas. Em um deles há mais de 200 recipientes do laboratório Osler oferecidos por terceiros. O preço médio, de R$ 55, chega a ser 45% mais caro (R$ 80).
Durante a gravidez do Mateus, nascido há 15 dias, a funcionária pública Ana Carolina Carvalho, de 36, teve dificuldade para encontrar o produto. O marido dela precisou recorrer à internet. “O primeiro custou R$ 59. Mas já pagamos quase R$ 80”, diz ela, que utiliza o spray duas vezes por dia.
Cuidado
A quantidade é a ideal, afirma a dermatologista Paula de Rezende Salomão. Professora da faculdade Ciências Médicas, ela alerta para o uso indiscriminado. “Todos os repelentes podem ser tóxicos”. O cuidado deve ser redobrado para pessoas com sensibilidade a alergias. “Ele só deve ser aplicado nas áreas da pele expostas. É preciso evitar a região dos olhos, nariz e boca. E nunca se esquecer de lavar as mãos”.
A médica também chama a atenção para a necessidade do uso associado a outras medidas de proteção. “Não basta só passar o produto. A casa deve estar limpa e, quando possível, usar calça e tênis”, acrescenta.
A reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e laboratório Osler, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.