Hospital de BH é o primeiro em Minas a usar pele de tilápia para reconstruir canal vaginal

Vivian Chagas (*)
@vivisccp
13/12/2021 às 07:57.
Atualizado em 14/12/2021 às 00:38
 (Divulgação)

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O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, é o primeiro centro de saúde do Estado a utilizar a pele de tilápia para reconstruir o canal vaginal de mulheres portadoras de uma doença rara, que provoca alterações na formação do útero e da vagina.

Segundo a instituição, a chamada “síndrome de Rokitansky” afeta uma em cada 5 mil nascidas e faz com que os órgãos se encontrem pouco desenvolvidos ou ausentes.

“Além da impossibilidade de a mulher engravidar pela ausência do útero, elas podem não menstruar e ter dificuldades durante as relações sexuais”, explica a cirurgiã e coordenadora do Setor de Uroginecologia do HC-UFMG, Marilene Vaz Monteiro.

De acordo com ela, há mais de 30 anos são realizadas cirurgias para este caso na unidade de saúde com uso de enxertos de pele da própria paciente ou material sintético. Com a pele de tilápia, foram dois procedimentos realizados com sucesso no final de novembro, após dois anos de desenvolvimento da técnica. 

No Brasil, 15 mulheres ainda foram beneficiadas pelo procedimento que é realizado no Ceará desde 2017, e traz vantagens em relação ao tratamento convencional. 

“A pele da tilápia contém grande quantidade de colágeno tipo 1, que a torna tão forte e resistente quanto a pele humana. Além disso, o processo de manufatura é rápido e barato”, afirma Leonardo Bezerra, professor, médico e idealizador da técnica ginecológica.

Outra grande vantagem destacada por Bezerra é o baixo risco de rejeição. Ele explica que, por se tratar de um animal aquático, não existe cruzamento de infecções entre os seres humanos e a tilápia, diferentemente do que acontece com as próteses industriais, que utilizam materiais bovinos e suínos. 

O procedimento

A coordenadora do Setor de Uroginecologia do HC-UFMG explica que a cirurgia, considerada de média complexidade, consiste em abrir um espaço entre a bexiga e o reto, através de uma incisão ou corte na entrada da vagina. O procedimento dura cerca de uma hora. 

“O cirurgião abre um espaço como se fosse um túnel e recobre com a pele de tilápia. Um molde em formato de vagina é então colocado nesse local para impedir que as paredes da “nova vagina” se juntem enquanto as células dos tecidos da paciente e as células e fatores de crescimento liberados pela pele de tilápia se transformam em um novo tecido com células iguais à de uma vagina real”, explica.

Sobre a recuperação, Marilene Vaz explica que é relativamente tranquila, mas um pouco dolorosa na primeira semana, na região perineal. “Durante esse período, as mulheres precisam ter cuidado com a higiene da região e usar o molde vaginal por vários meses, diariamente”, conta.

Para chegar ao bloco cirúrgico, as peles são extraídas e passam por um processo de limpeza e higienização exaustiva. Depois, elas são congeladas a -8º C por pelo menos 16h, liofilizadas – desidratadas – até atingirem umidade satisfatória, embaladas a vácuo e irradiadas para esterilização completa.

A técnica ainda está em fase de pesquisa clínica – ou seja, sem uso comercial.

Caminho para a cirurgia 

Após o diagnóstico da agenesia – ou ausência de vagina – , o médico da unidade básica de saúde do município deve emitir a AIH (autorização de internação hospitalar) com os dados da paciente e do tipo de cirurgia (neovaginoplastia ou reconstrução de vagina). Assim, ela será encaminhada para o hospital de referência da região, mas a paciente pode solicitar que a guia seja encaminhada pelo Hospital das Clínicas.

Dependendo do fluxo da secretaria de saúde da cidade, acredito que deve levar em média de três a seis meses para a mulher passar pela operação”, estima.

Regenerador natural

A pele de tilápia também vem sendo utilizada com muito sucesso, no Ceará, no tratamento de queimados, como regenerador natural da pele humana. A técnica foi implantada em 2015 pelo pesquisador e cirurgião plástico Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), vinculado ao Instituto Dr. José Frota (IJF), na capital cearense.

Na área ginecológica, além de auxiliar no tratamento da síndrome de Rokitansky, a pele de tilápia também é aplicada em cirurgias de redesignação sexual e reconstrução vaginal após radioterapia para câncer de vagina.

(*) Especial para o Hoje em Dia

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