Saiba quais são e como estão os estudos dos medicamentos usados hoje no tratamento da Covid

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
30/06/2020 às 18:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:54
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

A disseminação do coronavírus  pelo mundo tem sido acompanhada de uma lista crescente de medicamentos que supostamente teriam trazido ganhos no tratamento da Covid-19. Mas o que foi compravado, o que é fake ou trouxe indícios inconclusivos?  Para orientar a população,  a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe com esclarecimentos sobre as substâncias usadas no tratamento da Covid-19 e avaliadas a partir de pesquisa clínica. O objetivo é que o público possa ter um maior esclarecimento sobre o que a ciência sabe  sobre a doença que já acometeu 10,3 milhões de pessoas no mundo.

Dez infectologistas de diferentes Estados brasileiros assinam o documento, que foi publicado nesta terça-feira (30). Para acessar o texto na íntegra, clique aqui

"Esse documento traz o posicionamento da SBI sobre as várias medicações que estão sendo usadas no tratamento da Covid, para esclarecer sobre o que é cientificamente comprovado e o que é empírico. Isso é muito importante em um momento em que fake news são transformadas em verdades absolutas", afirmou Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e um dos responsáveis pela publicação.

Segundo ele, somente um estudo sobre a dexametasona foi realizado com metodologia científica de qualidade sobre a eficiência de medicamentos no tratamento da Covid-19. "Há um estudo que mostra algum benefício da cloroquina e outro aponta que não tem vantagem no uso dessa droga, mas tinham uma metodologia ruim, que não permite tirar uma conclusão definitiva. Em relação a outras drogas, nem há estudos clínicos confiáveis sobre elas", explicou. 

Confira o que a SBI afirma sobre cada medicamento usado até o momento para tratar a Covid-19:

1. Cloroquina/hidroxicloroquina:

Até o momento, os principais estudos clínicos, que são os randomizados com grupo controle, não demonstraram benefício do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes hospitalizados em estado grave. Efeitos colaterais foram relatados. O uso dos medicamentos como prevenção também não demonstrou benefício, mas a utilização em casos de sintomas leves e moderados ainda está sendo avaliada. A SBI, assim como a Organização Mundial da Saúde (OMS), não recomenda o uso dessas substâncias. A associação da hidroxicloroquina com o antibiótico azitromicina também não trouxe benefícios clínicos. Além disso, a associação pode provocar arritmia cardíaca, com grande risco para quem tem doença no coração.

 2. Corticoides:

Um estudo coordenado pela Universidade de Oxford na Inglaterra, que avalia várias terapias em potencial para a Covid-19, demonstrou que o corticoide dexametasona aumenta a sobrevida em pacientes graves que necessitam de oxigênio suplementar ou ventilação mecânica, na dose de 6 mg/dia, com duração de até 10 dias. Mas não há evidências de benefício do uso de corticoides para as formas leves ou moderadas da doença, nas quais não há indicação de oxigenioterapia, nem para prevenção.

 3. Medicamentos antivirais:

A associação dos antirretrovirais lopinavir/ritonavir, usada no passado por pessoas com HIV, foi avaliada em estudo randomizado com grupo controle, publicado em maio/2020, e não demonstrou benefício. A SBI não recomenda seu uso em pacientes com Covid-19. Resultados de estudo randomizado com grupo controle com placebo apontaram que o remdesivir demonstrou redução no tempo de recuperação em pacientes com formas moderadas e graves da Covid, mas esse medicamento ainda não tem registro no Brasil e seu uso foi autorizado no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) somente para estudos clínicos.

 4. Medicamentos antiparasitários:

 Os antiparasitários ivermectina e nitazoxanida parecem ter atividade in vitro contra a SARS-CoV-2, porém ainda não há comprovação de eficácia in vivo, isto é, em seres humanos. Muitos dos medicamentos que demonstraram ação antiviral in vitro (no laboratório) não tiveram o mesmo benefício in vivo (em seres humanos). Só estudos clínicos permitirão definir seu benefício e segurança contra a Covid-19.

 5. Tocilizumabe:

O uso do imunomodulador tocilizumabe foi descrito em séries de casos e estudos observacionais de pacientes com Covid-19 com alguns resultados positivos. Até o momento não há dados de ensaios clínicos randomizados com grupo controle que comprovem seu benefício e segurança. Um estudo deve ser publicado nos próximos dias.

 6. Anticoagulação:

Pacientes hospitalizados com Covid-19 apresentam maior risco de complicações trombóticas, sendo indicado para a maioria deles, na ausência de contraindicação, o uso profilático de anticoagulantes, como heparina e seus derivados. Mas não há indicação do uso de anticoagulante em dose terapêutica de rotina em pacientes hospitalizados com a doença.

 7. Plasma convalescente:

O uso de plasma de pacientes recuperados de Covid pode proporcionar benefício na infecção pelo SARS-CoV-2, mas estudos clínicos randomizados com grupo controle que comprovem seu benefício e segurança estão em andamento. Um estudo deve ser publicado nos próximos dias.

 8. Vitaminas e suplementos alimentares:

Não há comprovação de benefício do uso de vitaminas C ou D, nem de suplementos alimentares, como zinco, exceto em pacientes que apresentam hipovitaminose ou carência mineral.

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