'Salvo por Deus e por um passeio no quintal', diz dono de casa destruída por avião

Elemara Duarte - Hoje em Dia
07/06/2015 às 23:07.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:23
 (Hoje em Dia)

(Hoje em Dia)

Depois de passar pelo trauma de ver um avião caindo na garagem da própria casa e sair ileso, na tarde deste domingo (7), o suboficial reformado da Aeronáutica, José Monforte Knupp, 73 anos, retifica: “Não tenho trauma, não, graças a Deus! Eu estava lá no fundo do quintal!” Ele e a mulher, Maria Geralda, sobreviveram graças aos poucos metros de distância que o separavam do fogo na aeronave que caiu no chão da entrada do imóvel em que vivem há cerca de 20 anos, no bairro Minaslândia. Vontade de se mudar dali depois do susto? “Não! Vou continuar a viver aqui até morrer”, avisa destemido, à reportagem do Hoje em Dia. A casa do suboficial e mais três imóveis no entorno estão interditados pela Defesa Civil Municipal. Nesta segunda-feira (8), técnicos voltam ao local, na rua São Sebastião, para avaliar as causas da tragédia e a condição dos imóveis. No acidente, três ocupantes do avião, que decolou do Aeroporto da Pampulha com destino ao município de Capelinha, morreram na hora. Uma mulher que estava em uma das casas vizinhas sofreu ferimentos leves.

O senhor já viu algo parecido com este acidente na Aeronáutica?
José Monforte Knupp - Trabalhei por 31 anos na Aeronáutica, na área administrativa, e nunca vi nada assim. Moro aqui há mais de 20 anos. Trabalhei aqui em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, estou há 22 anos na reserva e acontece isso perto do meu quintal. Eu acho que foi Deus que me salvou. Depois do almoço, chamei minha mulher para ir no quintal (lado oposto da garagem), pois desde antes de ontem que não íamos lá tratar das galinhas. Então, estava cuidando de uma planta que eu tenho que se chama noni – dizem que é uma planta que faz emagrecer, mas não emagrece nada – colocando uma tela em volta dela para as galinhas não comerem. Foi quando vi uma coisa no céu, era um avião que vinha em cima de mim, de bico. Larguei a marreta e saí correndo. Minha mulher gritava: “Meu bem, meu bem, está pegando fogo!” Ela queria vir aqui para ver. Eu a puxei para o fundo do quintal, mais longe possível do fogo. Disse a ela que não podíamos fazer nada.

Quem socorreu vocês?
Chamei meu vizinho para ligar para o Corpo de Bombeiros. Mas ela disse que não precisava pois estava com o telefone. Ela ligou, mas só dava ocupado. Provavelmente a rua inteira já estivesse ligando. Fui no tanque, peguei água e joguei dentro de um dos quartos pois estava pegando fogo no colchão. O pessoal que jogava no campo de futebol pulou o muro, pois a cerca elétrica tinha arrebentado. Meu enteado que estava no campo jogando bola, achava que o avião ia pousar lá. Todos saíram correndo de lá também. Mas quando o avião caiu, ele achou que tinha sido aqui em casa. Uns dez colegas dele entraram aqui, tiraram o botijão de gás e o carro. Olha que eu nem pensei em carro... Pra mim ia acontecer outra explosão.

Como o senhor saiu de casa?
O pessoal da rua de baixo quebrou o muro. Nisso, os Bombeiros chegaram.

Os seus filhos moram onde?
Tenho dois filhos, mas não moram aqui. Todos ligaram. Não entramos em pânico porque não houve problema algum conosco.

Salvo por um passeio no quintal...
É isso mesmo. Uma hora depois que a gente estava lá embaixo, aconteceu (a queda do avião). Acredito que Deus encaminha a gente.

Pensa em se mudar daqui, afinal, é uma área de relativo risco, pois fica perto do aeroporto?
Não! Já ouvi falar de outros acidentes aqui na região, há vinte anos. Os aviões passam aqui, me incomodam para eu ver televisão, tem hora que eu xingo. Mas não tenho medo.

O senhor já voou muito?
Já, sim. Em uma das vezes, vim de Manaus para o Rio de Janeiro em um Búfalo (avião de carga da Força Aérea Brasileira), foram seis horas direto. Foi a primeira vez que vi o dia escurecer no ar.

Pensa em viajar de avião para um passeio?
Claro, por que não?

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por