Seca afeta produção do tradicional queijo Canastra

Ricardo Rodrigues - Enviado especial e Letícia Alves - Hoje em Dia
26/09/2014 às 06:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:21
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

SÃO ROQUE DE MINAS

A estiagem prolongada no Estado já prejudica a agricultura e a pecuária nas cidades da microrregião da serra da Canastra (Sudoeste). Em muitas propriedades, a produção de leite e do tradicional queijo caiu pela metade.

As queimadas que atingiram 40% do parque nacional, onde está nascente do rio São Francisco, também espantaram os turistas. Em São Roque de Minas, a seca começou a interferir no fluxo de visitantes.

Se por um lado a produção do queijo reduziu, por outro, o preço dele triplicou. Quem vendia uma unidade a R$ 7,50, hoje comercializa o produto a R$ 25. “Foi um aspecto positivo da seca”, afirmou o veterinário da Associação dos Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), Johne Castro.

Dono de uma fazenda de 34 hectares, Gilson Batista tinha produção diária de 800 litros de leite. Agora, são 450 litros. Dos 70 queijos produzidos, hoje são fabricados cerca de 40. A situação também não está boa para os 9 mil pés de café da propriedade. “Já era época de estar com a terra arrumada, mas não tem nada pronto. O sol amarelou as folhas do cafeeiro. Em setembro de 2013, a terra já estava arada. Estou esperando a chuva para trabalhar”.

Gilson Batista espera a chuva para poder trabalhar na plantação, cujas folhas estão ficando secas. Foto: Flávio Tavares/ Hoje em Dia

Já na Fazenda Agro-Serra, em São Roque de Minas, a produção diária de 300 litros de leite caiu para 200 litros, afetando a produção de queijo. Atualmente, são fabricados, por dia, três unidades de 6,5 quilos do alimento e outras duas de um quilo, metade da quantidade em época de safra.

TURISMO

A seca atípica também interfere no movimento de turistas em São Roque de Minas. As 30 pousadas da cidade estão com taxa de ocupação entre 30% e 40%. “A falta de chuva transforma as estradas em poeira, afastando os visitantes”, afirma o secretário municipal de Meio Ambiente, André Picardi.

Na Pousada Barcelos, a recepcionista Karla Fernanda Lopes informou que os turistas querem conhecer a nascente do rio São Francisco. Porém, essa parte da reserva está fechada desde a última quinta-feira, por causa de um incêndio que degradou ainda mais a área. “Assim a viagem fica menos atraente”, disse. Ela destaca que os turistas gostam de fotografar e estudar os pássaros e a flora. “A queimada atrapalha todas essas atividades”.

FALTA DE ÁGUA

Em Piumhi, a 80 quilômetros de São Roque de Minas, moradores já enfrentam racionamento. “Vem água na torneira dia sim, dia não”, contou um popular que pediu anonimato. Às margens do Velho Chico, Iguatama e Arcos também têm problemas de abastecimento. Os poços artesianos estão com volume baixo. Em São Roque de Minas, apenas um dos cinco poços instalados pela Copasa está funcionando.

Revitalização do Velho Chico

Propostas de recuperação da bacia do rio São Francisco estão na pauta de uma reunião, na tarde desta sexta-feira (26), na Associação Executiva de Apoio à Gestão de Bacias Hidrográficas Peixe Vivo.

“Vamos dialogar sobre a escassez hídrica e buscar soluções para melhorar as águas em quantidade e qualidade”, disse a secretária nacional do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Sílvia Freedman, que também é coordenadora-geral do Consórcio Municípios do Lago de Três Marias.

Neste sábado (27), representantes do comitê estarão no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas, para analisar a situação da principal nascente do Velho Chico. Eles vão estudar quais ações poderão ser feitas para revitalizar a nascente que, pela primeira vez na história, secou.
A falta de contingente para fiscalizar os mais de 3 milhões de hectares das 318 reservas ambientais localizadas em Minas é um dos desafios para conter incêndios criminosos nessas áreas. Em todo o Estado, a Polícia Militar (PM) conta com 1.200 homens para coibir crimes ambientais de todos os tipos.   Nas 20 unidades de conservação da Grande BH, 128 policiais dividem as rondas rotineiras nesses locais com o atendimento a outras ocorrências na região metropolitana. O efetivo é, na opinião de especialistas, insuficiente.

Neste ano, os incêndios criminosos cresceram 41% em Minas. “Temos usado a criatividade para suprir a necessidade”, disse o comandante da PM de Meio Ambiente da RMBH, Juliano Trant. Somente o Parque Estadual do Rola-Moça conta com dois militares efetivos, em ronda motorizada.

Presidente da Associação Brasileira de Defesa do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas afirma que não há policiais dentro da maioria das reservas ambientais. “A presença é fundamental. Normalmente, há cinco militares para atender cinco cidades. O fiscal do parque não pode autuar infratores”.

No caso do Parque Nacional da Serra da Canastra, onde o fogo já consumiu 40% dos 200 mil hectares desde janeiro, policiais fazem a ronda no entorno da unidade. “Temos seis funcionários com poder de fiscalização. Para mais, dependemos de concurso”, frisou o diretor da unidade, Luiz Arthur Castanheira.

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sisema) não informou o número de fiscais em suas unidades ambientais. No entanto, afirma que, havendo necessidade, conta com a estrutura móvel do Previncêndio para os atendimentos.

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