Sem trégua: mortes dobram, lotes contaminados triplicam e autoridades apertam o cerco

Rosiane Cunha, Cinthya Oliveira e Anderson Rocha
horizontes@hojeemdia.com.br
16/01/2020 às 21:42.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:19
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

O número de mortes investigadas dobrou, o de lotes contaminados triplicou e o de rótulos comprometidos aumentou quatro vezes em apenas 24 horas. A síndrome nefroneural, doença que pode estar ligada ao consumo de cerveja com substâncias tóxicas, segue assustando Minas. Na tentativa de barrar o avanço do surto e esclarecer o caso, as autoridades expandem, também, o leque de ações. Nesta quinta-feira (16), varredura foi feita em fornecedor de monoetilenoglicol à Backer.Maurício Vieira/Hoje em Dia

O produto químico foi encontrado tanto nos taques de produção quanto nas cervejas produzidas pela empresa, assim como o dietilenoglicol, considerado mais tóxico. A Backer nunca negou a utilização do mono.

Na quarta-feira, o Ministério da Agricultura (Mapa) informou que 15 toneladas de monoetilenoglicol foram adquiridas pela cervejaria mineira desde 2018. </CW>O órgão federal apertou o cerco. Agora são oito rótuloscom a presença de substâncias tóxicas – antes eram dois.

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem pela Polícia Civil no galpão da empresa fornecedora em Contagem, na Grande BH. Amostras de produtos e documentos foram recolhidos.

Duas pessoas foram ouvidas: um ex-funcionário da distribuidora de insumos e outro, um ex-trabalhador da Backer. 

Advogados da cervejaria acompanharam os depoimentos. “A ação visa a garantia da realização de um procedimento investigativo moderno, transparente e embasado em preceitos constitucionais”, justificou a Polícia Civil, em nota.

Até o fechamento desta edição, o Hoje em Dia não localizou representantes da fornecedora de produtos químicos para comentar o caso.Editoria de Arte 

Casos

Até o momento, quatro mortes provocadas por síndrome nefroneural foram registradas no Estado. Um homem de Juiz de Fora, na Zona da Mata, que faleceu em 7 de janeiro, teve o dietilenoglicol detectado no exame de sangue. Os demais óbitos, em investigação, são de dois homens de BH, de 75 e 89 anos, e de uma mulher de 60, de Pompéu, no Centro-Oeste.

Em princípio, todos teriam consumido a Belorizontina antes de passar mal e deram entrada em unidades de saúde com quadro de insuficiência renal. Até esta quinta, a SES já recebeu 18 notificações da doença.

Em nova nota enviada à imprensa, a Backer reiterou que estruturou equipe especializada para prestar assistência e fornecer apoio a pacientes e familiares. “A empresa se solidariza com essas pessoas, compartilha da mesma dor que eles vivem nesse momento, e reforça sua atenção e seu compromisso em disponibilizar todo o suporte necessário”.

Substâncias

O monoetilenoglicol e o dietilenoglicol, que teriam contaminado a água usada pela Backer, são substâncias comumente usadas na indústria, em setores que vão do automotivo ao de produção de bebidas. Ambas não poderiam, jamais, ter contato direto com a cerveja no momento da fabricação, já que a aplicação é limitada ao resfriamento externo de dutos e tanques.

Segundo Bruno Botelho, professor do Departamento de Química da UFMG e especialista no assunto, na prática, as duas substâncias são similares na eficiência como anticongelantes. A diferença está no nível de efeitos no organismo em caso de ingestão. 

“O que as diferencia é a quantidade consumida para que haja intoxicação. O monoetilenoglicol precisa ser ingerido em uma dose muito maior para que haja tal efeito”, explica o professor. Segundo ele, essa substância é mais usada nas indústrias por ser menos tóxica e mais barata. O dietileno é feito a partir do mono. Porém, isso depende de condições muito específicas de temperatura, pressão e presença de catalisador.

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