Serra do Espinhaço Meridional reúne 600 cavernas, mas sem estrutura para receber turistas

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
10/06/2016 às 18:02.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:50
 (Luciana Alt e Vitor Moura/Divulgação)

(Luciana Alt e Vitor Moura/Divulgação)

Em cerca de 150 quilômetros da parte Sul da Serra do Espinhaço, entre Santana do Riacho (Serra do Cipó) e Conceição do Mato Dentro, geólogos catalogaram 300 cavernas constituídas por minério de ferro, 200 de mármore e cem de quartzito. O rico patrimônio espeleológico descoberto entre a região Central de Minas e o Vale do Jequitinhonha encanta pela beleza natural. Porém, brilha apenas aos olhos dos especialistas e desbravadores, já que nenhuma gruta tem estrutura que permita a visitação turística.

Com 35 anos de experiência, o pós-doutor em geologia Augusto Sarreiro Auler é um dos privilegiados. Ele fez parte do grupo de geólogos que percorreu a Serra do Espinhaço Meridional à procura das cavernas.

“Pelo menos 90% foram descobertas oficialmente nos últimos seis, sete anos e não estão em áreas de preservação ambiental. Nenhuma gruta é preparada para receber turistas, como ocorre, por exemplo, na de Maquiné (em Cordisburgo)”, afirma Auler.

33,8% das 14.888 grutas catalogadas no brasil estão dentro de unidades de conservação

 A maioria das cavernas fica localizada em propriedades particulares, em áreas isoladas, de difícil acesso e sem a devida proteção. Por isso, o risco de danos ao patrimônio espeleológico é grande.

“São formações rochosas com enorme valor científico e que são muito frágeis. Nelas encontramos faunas, minerais, elementos históricos, pinturas rupestres. Quando alguém consegue ter acesso, infelizmente é comum ocorrer pichações e depredações, como espeleotemas quebrados”, lamenta o geólogo.

Plano de manejo
Transformar os terrenos onde há cavernas em áreas de conservação ambiental ou reservas particulares do patrimônio natural é o caminho para garantir a preservação e facilitar o contato das pessoas com a riqueza natural de Minas.

“É o primeiro passo para a criação do plano de manejo espeleológico. Sem ele, pode acontecer depredação, inclusive inconsciente, com alguém pisando em local inadequado”, destaca o geógrafo Jocy Cruz, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav).

“Cavernas são pouco conhecidas, associadas a morcegos e coisas ruins. Mas têm um rico valor estético e científico. Fazem parte da pré-história e precisam ser preservadas”Augusto Auler, geólogo

 Ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Cecav tem trabalhado para criar formas de conservação compartilhada com municípios, governos estaduais e proprietários das áreas com grutas. “É um dos caminhos, dentro de um conjunto de ações, e tem dado bons resultados. Não podemos esperar que apenas um ente federado (União) tenha essa função”, diz Cruz.

 Luciana Alt e Vitor Moura/Divulgação

GRUTA BOCAINA V – De mármore, fica próxima ao Parque Nacional da Serra do Cipó, em Santana do Riacho, mas não está incluída em área de conservação ambiental

 Conteúdo de livro para compensação ambiental, cavidade natural foi alvo de disputa na Justiça

As “Cavernas da Serra do Espinhaço Meridional” viraram título de livro após cerca de cinco anos de pesquisas na região. “É uma medida compensatória pela atuação da Anglo American”, explica o geólogo Augusto Sarreiro Auler.

A obra foi lançada por meio da parceria entre a mineradora, que explora minério de ferro numa área entre Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, e a Carste Ciência e Meio Ambiente, empresa de consultoria coordenada por Auler.

Uma das cavernas, a CAI 03, fica dentro do terreno da Anglo American. A mineradora informa que ela está em área de proteção criada especificamente para este fim, “onde tem sido feitos relevantes estudos de caracterização e monitoramento do ambiente”.

Em 2012, por solicitação do Ministério Público Federal, a Justiça chegou a barrar a concessão de licença ambiental para obras de implantação do projeto Minas-Rio, da Anglo American. A Procuradoria-Geral da República em Minas Gerais temia impactos na CAI 03, por causa da proposta de redução do raio de preservação da cavidade natural.

A empresa conseguiu reverter a decisão judicial ao apresentar estudos técnicos comprovando que não causaria prejuízos à conservação da caverna. “As mineradoras têm feito esse trabalho de preservação”, atesta Auler.

 Luciana Alt e Vitor Moura/Divulgação

LAPA DO GROTÃO – Localizada no município de Morro do Pilar, tem uma parte formada por mármore e outra por minério de ferro

 Investimento
Na sexta-feira passada, o gerente de Meio Ambiente da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American, Gilcimar Oliveira, agendou entrevista ao Hoje em Dia. Mas, por motivos particulares, não pôde atender a reportagem.

Por meio da assessoria de imprensa, a mineradora informou que foram investidos cerca de R$ 1 milhão na produção do livro. Segundo Auler, o material é mais fotográfico e com informações em português e inglês.

O livro não será vendido. A distribuição gratuita em escolas e bibliotecas já foi iniciada. Em breve, o conteúdo estará disponível para download na internet.

6.198 cavernas são registradas pelo Cecav em Minas Gerais, Estado de maior riqueza espeleológica, seguido do Pará, que tem 2.567

 Diversidade

Além da Serra do Espinhaço Meridional, apenas na Cordilheira dos Andes são encontradas cavernas com três tipos diferentes de rochas.
Nas que foram descobertas nesta parte da região Central de Minas, cada formação rochosa tem sua particularidade.

De mármore: caracterizadas pelos labirintos, são ornamentadas com espeleotemas (formação mineral formada pela ação das águas), como estalactites. São muito bonitas do ponto de vista estético.

De quartzito: constituídas por uma espécie de areia, tendem a ser mais estreitas. Em muitas correm cursos d’água. As rochas, com coloração que varia do branco ao bege, produzem um belo efeito visual, mas não têm ornamentação.

De minério de ferro: são pequenas, desenvolvidas a partir da ação de bactérias que consomem a formação rochosa. É o tipo mais rico em fauna, sobretudo invertebrados, que vivem nos poros das rochas. Ambiente propício para a descoberta de novas espécies, muitas endêmicas.<EM>

Pode acontecer de uma mesma caverna ser formada por dois tipos de rocha.

 Luciana Alt e Vitor Moura/Divulgação

CAVERNA CAI 03 – É constituída de minério de ferro e fica no terreno de uma mineradora com atuação em Conceição do Mato Dentro

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