Serraria Souza Pinto vira alvo de pichações

Tabata Martins - Hoje em Dia
10/03/2014 às 09:59.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:32
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Uma das principais construções do patrimônio histórico de Belo Horizonte, a Serraria Souza Pinto, no Centro da cidade, virou alvo de vandalismo. Quem passa diante do prédio, inaugurado em 1913, tem a impressão de completo abandono. Afinal, mesmo fechado para reforma desde janeiro, o prédio, principalmente a fachada, está coberto de pichações.  A previsão é de que o imóvel só seja limpo e receba nova pintura em julho, prazo previsto para a conclusão das obras de revitalização do patrimônio tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).   Conforme a Fundação Clóvis Salgado, responsável pela administração da Serraria, as pichações apareceram antes do Carnaval. Assim como a reforma do prédio não tem qualquer relação com os atos de vandalismo, já que foi planejada anteriormente. A assessoria de imprensa da fundação informou ainda que o dever do órgão é “zelar pelo patrimônio público, mas que não faz sentido pintar antes da reforma de revitalização acabar”.   Para quem tem o costume de passar pela região da Serraria, o prazo de limpeza da Fundação Clóvis Salgado não é adequado, já que a Copa do Mundo está próxima e o vandalismo pode passar uma má imagem da capital aos estrangeiros. Para a estudante de magistério Roseane Rodrigues, de 28 anos, a presença das pichações deixa a ideia de que Belo Horizonte é uma cidade suja. “Isso vai acabar com a cara da cidade. Todos irão pensar que BH é um lixo. O mínimo que tinha que ter era vigias no prédio durante a noite, quando, acredito, que os pichadores agem”.    O estudante de direito Wallace Alves, de 41 anos, acredita que a pichação é algo inevitável. “A banalização da pichação fortalece porque ninguém nunca é punido”. Também pensando na Copa, ele arrisca a dizer qual será a reação dos estrangeiros ao se depararem com o ato de vandalismo no ponto turístico: “Será um choque de impunidade”.   Revitalização   A Serraria Souza Pinto está numa área que abrange o projeto de revitalização do viaduto Santa Tereza, em andamento desde o começo do ano. Segundo Ulisses Morato, titular do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte, onde representa o Instituto de Arquitetos do Brasil, o projeto foi aprovado em abril de 2013 e, em março do mesmo ano, foram solicitadas algumas modificações, que incluem a manutenção do grafite presente sob Viaduto Santa Tereza, palco de ocupação de movimento popular este ano.    “A justificativa dada pelo membro Arnaldo Godoy foi de que esse tipo de arte deveria ser mantida, por representar o registro do tempo”, explicou. Quanto ao grande número de pichações feitas na fachada da Serraria, Morato disse que a prática não é aceita nem recomendada pelo conselho. Ele explicou que o sugerido foi a manutenção da arte popular apenas no viaduto e não na Serraria.   Prefeitura tem plano de combate   Tiago Fantini, gerente do projeto “Movimento Respeito por BH”, da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, disse que não tinha conhecimento das novas pichações na Serraria Souza Pinto e que iria entrar em contato com o Governo de Minas para que as providências sejam tomadas e os responsáveis identificados e punidos.    Segundo ele, os casos de pichação são constantes na capital e, por isso, um projeto para inibir e dar fim a esse tipo de vandalismo, dentre outros, será lançado em abril. “Tem o nome provisório de ‘Projeto de Combate à Pichação’, aprovado pela prefeitura no fim de 2013. A ideia principal é dar fim à depredação em geral, com ênfase na pichação”.   O plano foi dividido em três etapas. A primeira é implementar o trabalho preventivo nas escolas municipais e estaduais. Alunos de 6 a 13 anos irão participar de ações de conscientização sobre a gravidade, efeito e punições da pichação. A segunda é promover ação conjunta da prefeitura, Estado e Tribunal de Justiça para acelerar o processo de punição. E o terceiro é tentar fechar parceria com o Estado e a União para que eles possam cuidar de suas propriedades, englobando levantamento dos imóveis e áreas próximas, como passeio, que devem ser mantidos em bom estado.    Segundo Fantini, o problema da pichação é antigo e deve ser tratado com cuidado, uma vez que abrange questão cultural. Alguns autores do vandalismo já são conhecidos das autoridades e a Guarda Municipal chegou até a montar um livro com a identificação de cerca de 300 pichadores. Alguns foram punidos, como o caso de dois universitários que picharam o Viaduto José Alencar no final de 2013.    “Hoje, o pichador não pode ser rotulado, pois esse tipo de depredação atrai pessoas de diversas raças, crenças e níveis sociais. O que queremos é entender essas pessoas, compreender o motivo pelo qual elas picham. E, para isso, a melhor forma é o diálogo e a aproximação das autoridades. O complexo urbano que engloba a Serraria Souza Pinto se transformou em um local natural, espontâneo de agrupamento de pessoas e movimentos culturais. Virou símbolo independente muitas vezes representado pela pichação. A minha obrigação é tentar promover e fortalecer o comprometimento do cidadão com o respeito pela capital e seus bens. O fato de os pichadores quererem dar recado é algo que não pode ser ignorado e tem de ser entendido”, disse Fantini.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por