Solidariedade: após incêndio criminoso, sebo 'da calçada' recebe doação de 4 mil livros

Cinthya Oliveira e Lucas Prates
portal@hojeemdia.com.br
30/06/2020 às 17:54.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:54
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

A solidariedade tomou o espaço deixado pela violência na rua Grão Mogol. Dois dias depois de ver todo o acervo do sebo que mantém a céu aberto ser queimado por causa de um incêndio criminoso, Odilon Tavares recebeu doações de livros de pessoas de diversas partes de Belo Horizonte. Nesta terça-feira (30), o negócio já havia sido retomado. “Acho até que já tenho mais livros agora do que tinha antes”, disse o “livreiro” de 58 anos.

Ex-catador de material reciclável, há seis anos Odilon montou na esquina da rua Grão Mogol com avenida do Contorno, no bairro Carmo, região Centro-Sul de Belo Horizonte, uma banquinha com livros usados garimpados por ele. O sebo foi muito bem aceito por moradores e trabalhadores da região.

Durante a noite, o material era cuidado por José Horácio, parceiro de Odilon na venda de livros. Mas na madrugada deste domingo (28), o parceiro estava na casa da família e ninguém montava guarda no local. Pela manhã, viram que todo o acervo havia sido queimado. Dois carrinhos usados para transportar os livros foram furtados.

O caso gerou comoção entre muitos belo-horizontinos e o sebo de livros por R$ 5 já está recomposto. “Alguns sebos oficiais me procuraram. Quatro já estão fazendo escolhas. Vou fazer uma boa venda”, contou Odilon.

José Horácio faz coro ao parceiro: "agradeço muito a todas as pessoas que estão nos ajudando a recuperar tudo que perdemos". 

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que abriu inquérito para investigar a autoria do incêndio.

Não foi a primeira vez

Catador de recicláveis em situação de rua, Leonardo Rodrigo de Oliveira costuma dormir na esquina onde está o sebo do Odilon. Ele contou à reportagem do Hoje em Dia que há duas semanas também foi vítima de um incêndio criminoso. Havia saído do local para trabalhar no bairro Serra com uma mochila e, ao retornar, viu que tinha perdido tudo.

“Queimaram tudo: meu colchão, minhas cobertas, minhas roupas, meu material de higiene. Fiquei sem nada”, contou Leonardo. Para ele, é possível que a mesma pessoa tenha realizado os dois incêndios criminosos.

 Para Leonardo, é possível que o autor tenha colocado fogo em objetos para despistar furtos. “A pessoa levou os dois carrinhos do Odilon. E os livros não queimam por inteiro, por causa da espessura. Vimos que no que sobrou do incêndio tinha um terço dos livros do Odlilon. Ficou claro que alguém colocou uma parte dos livros no carrinho e roubou”, disse.

Segundo ele, há um bom relacionamento entre as pessoas em situação de rua que dormem no local e a vizinhança. Leonardo contou que vários trabalhadores da região dão alimentos, calçados, roupas e trocados para eles. “A gente não faz mal para ninguém, todo mundo aqui gosta de ajudar a gente”.

A Polícia Militar informou que, verificando a sua base de dados, não foi localizada nenhuma ocorrência acerca de possível crime ocorrido no local, mas que desde os momentos que se seguiram ao fato tem envidado esforços para localizar, com o auxílio de câmeras de vigilância de residências e comércios próximos, imagens que possam levar a identificação dos autores do citado crime.

A corporação solicita a comunidade dos Bairros Carmo e Sion, e a população em geral que avisem a PMMG acerca da presença de pessoas ou veículos suspeitos
rondando residências, comércios e veículos, ligando para o telefone de emergência 190, solicitando ainda que nos casos de ter conhecimento de pessoas
que tenham envolvimento com crimes (inclusive receptação de produtos furtados ou roubados, bem como crimes de dano e incêndio) que façam a denúncia pelo Disque Denúncia 181.

A Prefeitura de Belo Horizonte informa que o primeiro atendimento à população em situação de rua acontece por meio do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), que atua nas nove regionais de Belo Horizonte, nos turnos de manhã, tarde e noite. O SEAS realiza o trabalho de busca ativa, que identifica a presença de pessoas vivendo nas ruas e auxilia no acesso a direitos, que escuta a demanda de cada pessoa com trajetória de rua, respeitando sua individualidade e buscando construir conjuntamente uma proposta de superação dessa situação.


 

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