Sonhos adiados: quarentena atinge cursos no exterior, viagens pagas e negócios recém-adquiridos

Renata Galdino
rgaldino@hojeemdia.com.br
03/04/2020 às 21:31.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:11
 (Lucas Prates/Jornal Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Jornal Hoje em Dia)

Mais do que paralisar parte das atividades comerciais, a pandemia do novo coronavírus tem adiado sonhos. Abrir um negócio ou conseguir o tão desejado estágio são metas que, prestes a serem realizadas, estão ficando para depois e deixando muita gente frustrada. Apesar do desapontamento, porém, especialistas advertem: respire fundo e tenha consciência de que nada está perdido.

É o que espera a estudante de Gastronomia Viviane Lavarini Dias Martins, de 33 anos. Moradores de Belo Horizonte, ela e o marido venderam casa e o carro para irem para a França em maio. Lá, a mulher já tem estágio garantido em um restaurante bem avaliado no mundo da gastronomia.

Porém, depois de quase um ano se preparando para a viagem, o contrato foi temporariamente suspenso. A região onde Viviane vai trabalhar é uma das com muitos infectados por Covid-19. “Fomos acolhidos pelo meu sogro e ‘boadrasta’, que tem lúpus e é do grupo de risco, até que tudo se resolva. Estamos todos em quarentena há mais de duas semanas”.

Também de “molho” em casa, a microempresária Iasmyn Souza, de 36, não vê a hora de reinaugurar a loja de roupas que comprou em outubro, no bairro Palmares, Nordeste da capital. A expectativa era de reformar o espaço e reabrir as portas com novos nome e coleção ainda no início de abril.

Agora, porém, vai ter que esperar. “Estávamos com o estabelecimento aberto e as vendas já não eram boas. O Natal, as chuvas do início do ano e, quando pensávamos ser possível melhorar, vem esse vírus”, lamenta Iasmyn.

Intercâmbio
Frustrado também está o estudante de Administração André de Melo Viana, de 19 anos, que trancou a faculdade para neste semestre fazer um intercâmbio. A meta era seguir para a Irlanda, na Europa.

Além de não poder embarcar, terá que se reorganizar. A instituição de ensino onde estuda deu prazo até o fim de 2021 para que o jovem faça a viagem. “Comecei a arrumar tudo desde o meio de 2019. É um grande sonho que tenho planejado com muito cuidado”.

Revisar o cronograma, mas sem perder a esperança de que será possível cumprir a meta, é a recomendação de Maura Leão, presidente da Associação Brasileira das Agências de Intercâmbio (Belta). “O que estamos vivendo é uma situação inusitada para todo o mundo”. 

Segundo ela, estudantes nessa mesma situação devem dialogar com a instituição. “Não existe uma cartilha sobre o que deve ou não ser feito. Vale ressaltar que o sonho só foi adiado. Nada está perdido”, frisa Maura.

“Quando algo é feito com sentido e significado pessoais, não importará se as metas serão atingidas um pouco antes ou um pouco depois”, complementa o psicólogo Rafael Rodrigues, palestrante do programa Carreiras, da Universidade de São Paulo (USP). 

Segundo ele, é preciso readaptar o plano para a nova realidade que se apresenta. “Podemos reprogramar metas, usar nosso tempo livre para aprender coisas novas, mas, especialmente, pensar sobre quais caminhos queremos para nosso desenvolvimento”.

Palavra do especialista
“A pandemia é plural, horizontal e democrática, ou seja, existem frustrações em maior ou menor grau e independentemente da natureza, para quase todas as pessoas. Diante disso, o adequado é fazer o que é possível ser feito em vez de investir tempo e energia pensando naquilo que não foi feito ou naquilo que não aconteceu. Não há um culpado por esta pandemia e, em sua grande parte, os adiamentos de projetos têm a ver com fatores externos e não com comportamentos individuais. Se você estava na fase final daquele processo seletivo daquela grande empresa e ele foi suspenso por prazo indeterminado, não significa que você fez algo de errado. Agora é esperar as empresas retomarem as atividades normais e, em seguida, fazer contato com os responsáveis pelo processo seletivo. Se você era um empreendedor em vias de abrir um novo negócio, agora inicia-se um processo de negociação com credores, postergação de projetos e criação de novas perspectivas. A ansiedade trazida deste momento tem relação com uma busca de controle por coisas que não podem ser controladas. Por isso, a melhor forma de encarar o momento é fazer o que pode ser feito e não investir energia pensando no que deu errado ou prevendo um futuro que é incerto para todos nós”.
Rafael RodriguesPsicólogo clínico junguiano da Solução Ativa e parceiro do escritório de Carreiras da Universidade de São Paulo (USP)
 

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