Subnotificação pode esconder números reais da importunação sexual no Carnaval

Mariana Durães e Bruno Inácio
07/03/2019 às 20:30.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:52
 (Flávio Tavares / arquivo Hoje em Dia)

(Flávio Tavares / arquivo Hoje em Dia)

No primeiro ano que o crime de importunação sexual passou a valer no Carnaval, cinco homens foram presos por dia por suspeita do crime no Estado. Ao todo, 41 vítimas procuraram a polícia para fazer denúncias, mas o número de mulheres assediadas pode ser muito maior, devido a subnotificação de casos.

Os números foram divulgados ontem pela Polícia Militar (PM). Para especialistas em segurança pública, a análise pode ser feita em dois sentidos: no da diminuição de casos por uma cultura mais inibidora, mas também na descrença das vítimas na punição efetiva do agressor.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com a estudante Raquel Rodrigues dos Santos, de 22 anos. Ela estava em um bloco de Carnaval na Savassi, região Centro-Sul de BH, no domingo de Carnaval, quando dois rapazes passaram a mão nos seios dela.
“Não denunciei porque nem sabia se eles seriam mesmo presos. Imagina, eu ia ficar um tempão na delegacia e não teria como provar que eles abusaram de mim”, afirmou. 

Cultura

A delegada Kiria Silvia Orlandi, Titular da Delegacia da Mulher, acredita que, assim como a lei ficou mais rígida após um trabalho de conscientização feito por grupos feministas, o caminho agora é fazer com que a legislação seja cumprida. 
“Antes, o suspeito só pagava uma multa. Com a mobilização dos movimentos sociais e até dos blocos de Carnaval, o homem pode pegar até cinco anos de prisão. Mas agora, o que tem de acontecer são as pessoas entenderem a eficácia da lei. Ela tem que pegar para que mais denúncias aconteçam”, disse. 

A professora Carla Silene, membro do Instituto de Ciências Penais (ICP), vê com ressalva os números oficiais, que na opinião dela são subnotificados, mas reforça que, por o assunto estar na pauta da folia, os casos podem ter diminuído. “Quanto mais se fala do tema, menos casos devem acontecer. Infelizmente, o percurso ainda é longo. Mas a punição é o principal inibidor”, afirmou. 
 

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