Suicídio: quais sinais a família precisa perceber?

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
07/09/2017 às 19:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:28
 (Pixabay/Uso livre)

(Pixabay/Uso livre)

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado neste domingo (10), acontece em um momento em que a temática ganha um forte debate midiático. O sucesso da série “13 Reasons Why”, da Netflix, a polêmica sobre o jogo mortal Baleia Azul e a morte de Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park, foram fatos que levantaram discussões sobre as razões que levam pessoas a darem fim às próprias vidas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma pessoa se mata a cada 40 segundos no mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 32 pessoas cometem suicídio por dia. De acordo com o psiquiatra Roberto Vieira de Souza, diretor técnico do Hospital Espírita André Luiz (HEAL), os casos de suicídio no país superam a mortalidade de vários tipos de câncer e de doenças sem cura, como a Aids.

Ele explica que a cada quatro pessoas que tiram a vida, três estavam com quadro clínico de depressão. Ou seja, a melhor maneira de evitar o suicídio é tratar e prevenir a depressão.

Mudança de comportamento

Mas como a família pode verificar que uma pessoa está com depressão e pode vir a tomar uma atitude tão drástica? Souza explica que os familiares e amigos devem sempre estar atentos a grandes mudanças comportamentais.

“É preciso esclarecer para as famílias que qualquer alteração de comportamento em qualquer estágio merece atenção. Uma criança alegre que passa a ficar mais quieta no canto ou passa a ter um menor rendimento na escola, por exemplo. Aquela pessoa que trabalhava bem e começa a não render no trabalho ou deixar de fazer coisas que costumava fazer também merece atenção”, explica o psiquiatra do HEAL, instituição que recebe de três a cinco pessoas por dia que tentaram suicídio.

O médico alerta ainda que 90% das pessoas que vão tentar suicídio avisam antes para a família de alguma maneira. Muitas vezes, a pessoa com depressão tenta conversar sobre seus problemas, mas sem ser direta no assunto. “Dificilmente ela vai dizer que vai se matar. Mas, normalmente, diz que a vida não tem sentido, que morrer é solução para os problemas. Esse tipo de linguajar deve servir de alerta”.

Cuidados especiais

Caso a família verifique que uma pessoa está depressiva e vivencia o risco de atentar contra a própria vida, cuidados especiais devem ser tomados. De acordo com Souza, não é aconselhável deixar a pessoa sozinha nem deixar usá-la banheiro com chave. “Também é importante buscar um profissional especializado para um tratamento. Existem também grupos de pessoas que ajudam nesse caso, como o CVV”.

O médico aconselha ainda que a pessoa diagnosticada com depressão busque uma ajuda espiritual. “Os trabalhos provam que quem tem alguma prática religiosa consegue ter um maior sucesso no tratamento. Esse trabalho é feito no hospital André Luiz. Temos mais de 300 voluntários que atuam na área para ajudar as pessoas a despertarem para a espiritualidade para sair desse tipo de situação. Não é para elas serem espíritas, mas para encontrarem a espiritualidade”, aponta.

Após passar por um tratamento psiquiátrico, a pessoa depressiva deve continuar a ter um acompanhamento psicológico e médico. O mais importante para a recuperação é encontrar um sentido para a vida, de acordo com Souza.

Importante falar

Embora o suicídio seja um tabu na maioria dos países, o psiquiatra acredita que este seja um assunto que merece ser tratado pela sociedade, e não apenas por médicos e psicólogos. Para ele, foi positivo o fato de o assunto ter ganhado a mídia em 2017 após a notícia de que o Baleia Azul havia chegado ao Brasil. Neste jogo criado na Rússia, jovens são desafiados a se automutilarem e tirarem a vida frente a desafios colocados por administradores de grupos em redes sociais.

“Certos escândalos são fundamentais para que o assunto levante um debate. O jogo Baleia Azul foi uma situação criminosa, em que o alvo eram pessoas fragilizadas, mas fez com que as pessoas procurassem mais informações. Uma coisa é divulgar o crime em detalhes, estimulando os mais frágeis. Outra coisa é falar sobre o assunto. Devemos estar abertos a conversar sobre o tema”, diz Souza.

Além do Baleia Azul, a série “13 Reasons Why”, em que uma jovem se mata, mas antes grava fitas para as pessoas que teriam sido a motivação para o suicídio, também levantou muitos debates. Houve quem elogiasse a trama e quem dissesse que ela estimula jovens a tirarem a própria vida.

Após as mortes dos roqueiros Chris Cornell e Chester Bennington neste ano, artistas passaram a realizar campanhas de prevenção ao suicídio nos Estados Unidos. A banda Linkin Park e o ator e músico Jared Leto são alguns que trataram do assunto publicamente.  

Busque Ajuda 

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. O serviço funciona 24 horas por dia pelo telefone 141.

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