SUS avalia adotar técnica mais barata e pouco invasiva contra varizes

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
23/12/2016 às 22:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:12

Veias azuis, roxas, verdes, algumas finas, outras espessas. As varizes podem deixar marcas profundas nas pernas de quem sofre com a doença. E não é somente uma questão estética; os vasos dilatados não têm cura definitiva e trazem sérias complicações para a saúde. As pessoas que convivem com eles sofrem com dores locais, cansaço, coceira, inchaço, edemas e até feridas, nos casos mais graves.

As varizes são veias dos membros inferiores que já não cumprem bem a função de realizar o retorno do sangue das pernas para o coração. Para remover os vasos incômodos, muitas pessoas recorrem até a cirurgias. Entretanto, a fim de evitar procedimentos que podem ser desgastantes para o paciente, o Sistema Único de Saúde (SUS) estuda a inclusão de um tratamento de baixo custo e que pode desafogar as filas cirúrgicas da rede pública: a retirada das veias com a técnica de escleroterapia com espuma.

O procedimento consiste em aplicar diretamente nas veias dilatadas um medicamento chamado Polidocanol, em formato de espuma, capaz de destruir quimicamente o vaso, que será absorvido pelo próprio corpo, explica a angiologista Solange Evangelista, especialista pelo Hospital das Clínicas da UFMG. A médica, que já realizou muitas cirurgias ao longo da carreira para a retirada de varizes, adota somente a nova técnica há cerca de seis anos, por ser um tratamento “mais seguro” para as pessoas.

Ao contrário da cirurgia de remoção de varizes, na escleroterapia com espuma não há cortes na pele, aplicação de anestesia ou necessidade de internação. “Após o procedimento, a pessoa já levanta e vai trabalhar”, diz Solange. A inclusão da técnica dentre os tratamentos oferecidos na rede pública será avaliada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) em janeiro, a pedido do ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Efetividade

A aprovação da técnica na Conitec está condicionada à análise da efetividade do procedimento, além dos custos e dos benefícios para a saúde pública. Para Solange, a inclusão do procedimento no SUS reduziria os gastos com o tratamento de varizes e poderia ter aplicação mais abrangente que a cirurgia. “Não teria afastamento do trabalho, poderia atender um número maior de pacientes em um mesmo período de tempo do que a cirurgia, não haveria ocupação de leitos, além da diminuição de custos porque não há anestesia”, afirma.

No entanto, a técnica pode trazer complicações semelhantes às da cirurgia: é possível trombose venosa, embolia e alergia ao medicamento, mas as chances são muito pequenas. “Como todo procedimento médico, a escleroterapia com espuma não está isenta de complicações. Por isso, é importante que ela seja feita por um profissional angiologista e após um estudo das condições que o paciente apresenta para passar pelo tratamento”, diz Solange. 

Pacientes comemoram

O aparecimento de varizes nas pernas está diretamente relacionado à predisposição familiar e pode ser desencadeado por alguns fatores de risco, como a idade – quanto mais idosa, maior a chance de ter a doença, –, obesidade e número de gestações, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. As mulheres também são maioria. 

Maria Edna Diniz, de 51 anos, sempre conviveu com as veias dilatadas, assim como as demais mulheres da família. Ela, que trabalha há mais de 30 anos com vendas, acredita que a profissão possa ter impulsionado o aparecimento das varizes. “Tenho que colocar salto alto e preciso ficar muito tempo em pé. É difícil porque deixa a perna toda marcada”, diz. 

Ela realizou a cirurgia há alguns anos, mas o pós-operatório foi complicado. “Fiz cinco operações, mas ficava muito roxo e dolorido, deu hematomas e sangramento”, conta. Depois disso, Maria Edna encontrou a técnica de escleroterapia com espuma.

O procedimento já faz parte da vida de Patrícia Pettersen, 53, há dois anos. A maquiadora comemora, pois não sente dores e ficou livre das marcas. “Não é uma questão de estética para mim, é de saúde. Seria ótimo se todas as mulheres pudessem realizar o tratamento, se fosse mais disponível. Minha pernas hoje são maravilhosas, fico muito feliz”, diz. 

Médico destaca redução de fila e ganho social em Salvador

Embora o Ministério da Saúde, através da Conitec, só deva analisar a inclusão da escleroterapia com espuma no SUS no próximo ano, alguns municípios já oferecem o tratamento gratuitamente. No Rio de Janeiro, a aplicação é testada em quatro hospitais. Em Salvador, primeira capital do Brasil a fornecer a técnica no sistema público, a população tem acesso ao procedimento desde 2013. A oferta do procedimento na Bahia foi uma batalha quase pessoal do atual coordenador do Programa de Escleroterapia com Espuma da Secretaria Municipal de Saúde e do Hospital São Rafael, em Salvador, Marcelo Liberato de Moura. Antes de garantir que a prefeitura bancasse o programa de atenção ao paciente com doença venosa crônica, o angiologista realizava ações sociais sem custo para a população.

"Há uns anos eu fazia um trabalho de pesquisa com pessoas pobres e as tratava gratuitamente com a técnica, bancando do meu bolso e, depois, em 2011, comecei a dar cursos de capacitação para angiologistas de todo o Brasil e neles tratava pacientes também”, explica. O médico procurou, então, a Secretaria de Saúde do município para que ela tomasse conhecimento do procedimento e pudesse assinar um contrato para oferecê-lo aos moradores de Salvador.

Resultados

Moura ressalta que os resultados da cirurgia e da escleroterapia com espuma são semelhantes, mas destaca que o tratamento sem operação é mais abrangente e permite atender um número maior de pessoas.

Com a adoção da técnica as filas de atendimento para varizes via rede pública de Salvador sofreram uma redução, afirma Marcelo. Mas, segundo o angiologista, a procura é ainda maior, porque a população agora busca uma alternativa que não tenha que passar por cirurgia.

“Conseguimos atender a milhões de pessoas que carregam consigo uma doença que não mata, mas traz sofrimento por décadas. Esta técnica traz resultados sociais e econômicos, já que ajuda mais gente a um custo menor”, afirma. (Colaborou Mariana Durães)
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