A suspensão das atividades do primeiro terminal metropolitano fora do sistema Move, em Sarzedo, na Grande BH, expõe a falta de planejamento na condução dos trabalhos e lança o alerta para o risco de novos transtornos. Além dessa estação, outras quatro estão previstas para ser implantadas em cidades próximas à capital.

Criada para atender a 17 mil passageiros por dia e com um investimento de R$ 8,3 milhões, a unidade de Sarzedo iniciou as operações no último dia 2. Porém, o serviço durou apenas duas semanas. Após protestos e reclamações generalizadas dos usuários, a prefeitura comunicou o retorno das linhas originais, com saídas dos bairros da cidade em direção ao Centro de BH.

Segundo passageiros, não ocorreram campanhas educativas sobre as mudanças, o número de linhas troncais é insuficiente, o tempo gasto no deslocamento aumentou e houve aumento na tarifa para quem não tem o cartão Ótimo.

Professor de engenharia de transporte e trânsito da Universidade Fumec, Márcio Aguiar é categórico. Para ele, uma suspensão em um período tão curto “escancara” erros na condução do processo. “Os indícios são fortes de que o planejamento foi mal conduzido”, afirmou.

Para o professor, novos estudos são necessários. “Quando se pensa em transporte coletivo, é preciso ser mais técnico e menos político. A implantação de um terminal metropolitano deve levar em conta relatórios técnicos precisos, sobre como a demanda pode ser absorvida de forma eficiente”, disse o especialista, que ainda fez questão de reforçar a necessidade de revisão nas tarifas.

Bilhete

Assim como acontece no BRT Metropolitano, os passageiros de Sarzedo são obrigados a adquirir o bilhete recarregável, chamado “Cartão Ótimo”. Caso contrário, têm que pagar duas tarifas para chegar ao Centro da capital.

“Isso nada mais é do que o conflito entre o ideal e a forma como devem ser implantados”, afirmou o consultor em engenharia de tráfego Silvestre Andrade. Para ele, os terminais e a bilhetagem eletrônica são fundamentais, mas é preciso rever os critérios.

“É impossível que todos os bairros das cidades da região metropolitana tenham ônibus direto ao Centro. Terminais como esse de Sarzedo são possíveis soluções, mas é preciso que atendam à população. O mesmo vale para o cartão eletrônico, que precisa ser fornecido gratuitamente ou então deve se pensar na possibilidade de um bilhete unitário”, destacou Silvestre.
 
Paralisação sem data para terminar
 
O terminal metropolitano de Sarzedo conta com 13 linhas alimentadoras e cinco troncais. A estação recebia passageiros de Brumadinho, Mário Campos, Contagem, Belo Horizonte e Betim.

A Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) informou, apenas, que a suspensão estava mantida e que não havia data para acabar. A reportagem solicitou uma fonte para explicar a situação, mas não teve o pedido atendido.

A Prefeitura de Sarzedo também foi procurada e não se manifestou. Em nota publicada em seu site, informou que, devido a impasses, o sistema de transporte coletivo voltaria a funcionar “como anteriormente à inauguração do terminal”.

Compartilhar