Taxa de internação por Covid entre quem pratica exercícios é menor, alerta cardiologista

Maria Amélia Ávila
mvarginha@hojeemdia.com.br
19/04/2021 às 09:10.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:43
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Todo cuidado é pouco com o coração em tempos de Covid. Se a ordem antes de a pandemia chegar já era praticar atividade física, ter uma alimentação balanceada e manter o check-up em dia, o coronavírus reforçou como tudo isso é importante para blindar o organismo contra doenças. Tornou mais que urgente rever maus hábitos, incentivados sobretudo pelo confinamento em casa: consumo crescente de comida ultraprocessada, cigarros e bebidas, além do sedentarismo. O recado vem do médico cardiologista e diretor da iMEDato Consultas e Exames, Diogo Umann. Ele esclarece que exercícios feitos com regularidade melhoram as funções cardiovascular e imunológica, além de ajudar a saúde mental e reduzir o estresse e a ansiedade. E nem é preciso nada mirabolante: andar rápido pela casa, subir e descer escadas, dançar ou até mesmo fazer as tarefas cotidianas, como lavar louça, arrumar a casa, varrer o quintal e mexer no jardim, por 15 minutos diários, já fazem diferença na saúde do coração.

Um estudo recente publicado no periódico científico Epidemiologia e Serviços de Saúde, disponível na plataforma Scielo, revela que, antes da pandemia, 30% dos homens praticavam atividade física em nível considerado suficiente. Depois, esse percentual passou para 14%. No caso das mulheres, o número passou de 27,3% para 10%. Como você analisa essa pesquisa?
Houve um salto significativo em relação a comportamentos de risco que estão na base da manutenção e surgimento de inúmeras doenças crônicas. A sociedade e a comunidade médica devem estar atentas a isso e procurar atuar na conscientização e na prevenção, principalmente em relação a grupos mais vulneráveis como idosos e pessoas com hipertensão, diabetes e outras. Esse estudo veio para comprovar o que a gente já sabe há muito tempo: a atividade física é essencial para o nosso organismo, independentemente de doença ou de ter uma boa saúde. A atividade física faz parte da nossa imunidade, faz a nossa circulação melhorar, a imunidade melhorar, o coração bate melhor. Então, a atividade física só traz benefícios à saúde, mas é claro que deve ter um acompanhamento porque também tem risco praticar um exercício em excesso sem a orientação de um profissional. 

Os principais sintomas cardíacos relatados por pacientes recuperados da Covid-19 são palpitações, dor no peito, tontura e falta de ar. É preciso ter acompanhamento neste momento

A pandemia, como mostrou a pesquisa, não aumentou apenas o sedentarismo. Quais os outros problemas relacionados? 
A pesquisa mostra que o sedentarismo na pandemia vem acompanhado da má alimentação e isso também faz com que aumentem os níveis de colesterol e de triglicérides, que também favorecem a entrada do coronavírus ou de outro vírus ou bactéria em nosso organismo. A atividade física diminuída diminui também a imunidade.

Quais são os riscos para o coração?
O risco é de hipertensão. A atividade física faz com que o coração bombeie melhor o sangue, ela diminui a inflamação que está dentro da nossa circulação. Os exercícios diminuem os níveis inflamatórios, melhoram o metabolismo do colesterol, da glicose, toda a cascata da digestão. Além disso, evitam riscos de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e controlam o diabetes. Em relação ao coronavírus, o índice de internação de pessoas que praticam atividades físicas é 30% menor. Já as pessoas sedentárias tendem a piorar esses níveis de vitaminas, o que favorece a entrada do vírus na célula, já que a imunidade diminui. 

Mas a hipertensão é uma doença silenciosa, nem todas as pessoas sabem que são hipertensas. 
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, cerca de 38,1 milhões de brasileiros têm pressão alta. Muitas vezes, as doenças são hereditárias. Se tem histórico na família de hipertensão, de diabetes, de colesterol ato, é preciso procurar um médico e fazer um acompanhamento. Muitas vezes isso já vem desde a infância, mesmo sem sentir nada e, muitas vezes, em adultos jovens, o risco é até maior para a saúde porque o idoso já tem uma dilatação natural das veias e consegue lidar melhor com a doença e o jovem não tem isso. Infelizmente as pessoas só procuram o médico quando sentem alguma coisa e, aí, já pode ter um atingimento de um órgão alvo, como o diabetes que ataca o fígado, os rins e os olhos. A pressão alta ataca diretamente o coração, por isso é preciso fazer o acompanhamento para prevenir. 

Um estudo com pacientes recentemente recuperados da infecção por covid-19 revelou comprometimento cardíaco em 78% deles

Como fazer a prevenção neste momento de pandemia? Só pela teleconsulta?
A telemedicina veio para ajudar, mas é claro que o presencial é muito importante, principalmente quando o médico não conhece o paciente. Mas o paciente que faz um acompanhamento, a telemedicina ajuda neste momento. Mas se a pessoa não sabe que tem alguma doença, mas tem histórico familiar de diabetes, de hipertensão, de infarto ou de AVC, é necessário fazer um acompanhamento anual, com exames básicos, que podem ser feitos neste momento, seguindo todos os protocolos, para prevenir as doenças. 

No caso de quem já teve Covid, qual deve ser o procedimento? 
As pessoas que tiveram a doença precisam fazer um check-up pós-Covid. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alerta que existem acometimentos cardíacos posteriores à doença. Um estudo com pacientes recentemente recuperados da infecção por covid-19 revelou comprometimento cardíaco em 78% deles, e inchaço sugestivo de inflamação do miocárdio em andamento em 60% dos pacientes. As principais doenças são arritmia e taquicardia sinusal, é um tipo de variação da frequência cardíaca que acontece relacionada com a respiração. Quando se inspira, acontece um aumento do número de batimentos cardíacos e, quando se expira, a frequência tende a diminuir. Também foram relatadas a extra-sístole, batida anormal que se assemelha a uma falha ou tranco no coração e miocardite, causada por uma infecção viral que enfraquece o coração. 

Muitos pacientes reclamam de dores nas pernas e problemas respiratórios no pós-Covid. Como proceder neste momento? 
Os principais sintomas cardíacos relatados por pacientes recuperados da Covid-19 são palpitações, dor no peito, tontura e falta de ar. É complicado, mas é preciso ter o acompanhamento neste momento, quanto antes melhor para evitar outras doenças. Não é ir ao pronto socorro para uma queixa inexpressiva, mas os médicos estão atendendo nos consultórios e o paciente com sintomas pós-Covid deve ter mais cuidado. O tratamento precoce para paciente que teve a doença tem que ser individualizado, o médico tem que examinar e avaliar o que deve ser feito.

É aconselhável fazer atividade física para os pacientes pós-Covid, mesmo que dentro de casa neste momento de pandemia, sem acompanhamento?
É fundamental fazer qualquer atividade física, se for em casa e sem acompanhamento, é bom ter mais cautela. Eu falo para os meus pacientes que não é preciso fazer uma maratona logo de início, pode começar com apenas 5 minutos em casa e aumentar gradativamente, acondicionar o corpo. O acompanhamento de um profissional é fundamental, mas dá para fazer em casa com muito cuidado e isso vai fazer a diferença. Além disso, é bom tomar sol e ter uma alimentação balanceada. O estudo publicado na Epidemiologia e Serviços de Saúde mostrou também que as pessoas que antes da pandemia tinham uma alimentação saudável, aumentaram a ingestão de alimentos ultraprocessados depois do isolamento social, o que também é muito ruim para o coração. É preciso ter uma alimentação que tenha proteína, além de legumes e verduras, um prato bem colorido. No caso de pacientes que tiveram Covid é fundamental ter o acompanhamento de um cardiologista por conta das alterações cardíacas tardias e só fazer a atividade física depois que o médico fizer todos os exames. 

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