Tecnologia na palma da mão para detectar leite adulterado

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
23/11/2015 às 07:44.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:02
 (Stefânia Sangi)

(Stefânia Sangi)

Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na Zona da Mata mineira, desenvolveram um equipamento portátil capaz de identificar produtos adicionados ao leite de maneira irregular. O MilkTech, como foi batizado, faz uma análise quase instantânea do produto e acusa a presença de água e soda cáustica, por exemplo, principais substâncias usadas para fraudar a bebida.

A tecnologia digital, que cabe na palma da mão e permite a avaliação do leite direto na fonte, ou seja, quando ainda está na fazenda, foi testada por quase dez anos e já está pronta para ser comercializada. A expectativa é a de que o produto chegue ao mercado custando cerca de R$ 6 mil.

Fim da fraude

Coordenadora da pesquisa, doutora em física e professora na UFJF, Maria José Bell aposta no equipamento como uma forma simples e de fácil manuseio para frear as constantes situações de fraude em leite, no país. O Brasil é o quinto maior produtor da bebida no mundo. No ranking nacional, Minas Gerais ocupa o topo, respondendo por 27% da produção local.

“O modelo de fiscalização usual pula uma etapa importante, que é a de verificar o leite antes de ele sair da fazenda. Muitas vezes, as substâncias são colocadas no produto no meio do caminho, entre a fonte e o laticínio”, explica a pesquisadora. Ainda segundo ela, há casos em que perde-se carregamentos inteiros justamente por não haver um controle direto na fonte.

O MilkTech é um dos trabalhos que serão divulgados no Inova Minas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A mostra acontece entre hoje e amanhã, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

Processo

O equipamento digital demora menos de dez segundos para indicar o resultado do leite testado. A análise, que pode ser feita em apenas um copo da bebida, indica não só a presença de substâncias proibidas – soda cáustica, açúcar, soro, bicarbonato de sódio, dentre outros – como identifica a acidez do produto.

“Há casos em que são usados reconstituintes para recuperar propriedades do leite que já está estragado. O aparelho vai medir a acidez e dizer se está ou não bom para o consumo”, detalha Bell.

Há seis meses, a Polícia Federal deflagrou mais uma fase da operação Leite Compensado, que revelou adulteração em carregamentos de produção no Rio Grande do Sul. Seis pessoas foram presas.

Fiscalização no Brasil é feita mensalmente e por amostragem

A fiscalização do leite produzido no Brasil é feita por amostragem. Desde 2011, segundo o programa de Qualidade do Leite do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), cada propriedade rural deve fornecer, mensalmente, amostras do produto cru que são analisadas em laboratórios credenciados. A regra é válida apenas para o leite de vaca.

Os estabelecimentos, oito no total, ficam em Goiânia (Goiás), Passo Fundo (Rio Grande do Sul), Curitiba (Paraná), Belo Horizonte, Juiz de Fora, Concórdia (Santa Catarina), Piracicaba (São Paulo) e Recife (Pernambuco).

Já com relação à indústria, a inspeção é diferente. Ao contrário do que ocorre com a carne, por exemplo, que tem um monitoramento constante e diário, produtos lácteos são fiscalizados conforme um cronograma específico determinado pelo Mapa.

De acordo com o ministério, cabe à empresa que fabrica garantir a qualidade do produto comercializado. Sendo assim, as indústrias, incluindo as de leite, devem trabalhar com o conceito de autocontrole e atestar ao consumidor a boa condição dos produtos que estão sendo vendidos.
 

Números

Entre 2007 e 2013, foram adotad[/TEXTO]as 166 medidas cautelares contra empresas de leite que adulteraram produtos – 48 delas eram mineiras, 19 do Rio Grande do Sul, segundo maior produtor da bebida no país, e 15 estavam em São Paulo.


Em 2013, o Ministério da Justiça e o Ministério Público do Rio Grande do Sul deflagraram uma operação e descobriram fraude de leite em quatro grandes indústrias de laticínios. As investigações confirmaram que as empresas transportadoras acrescentavam formol nos lotes durante o processo de transporte, isto é, antes mesmo que o produto fosse envasado.


A substância, tóxica em qualquer quantidade para o organismo, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é usada para aumentar o volume do produto. Ingerido, inalado ou em contato com a pele, o produto é cancerígeno.

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