Tecnologia seria aposta para evitar o desperdício de água

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
18/03/2015 às 08:56.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:23
 (Marcelo Prates / 29-9-2014)

(Marcelo Prates / 29-9-2014)

A meta anunciada pela Copasa de reduzir de 40% para 30%, até 2018, a perda de água tratada é alvo de críticas por especialistas em recursos hídricos, que cobram maior rigor diante de tamanho desperdício, provocado por furos nos canos, redes defeituosas carentes de manutenção e por ligações clandestinas.

Tendo em vista que o percentual de desperdício em Minas Gerais e no Brasil supera o dobro do índice aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – de 15%–, eles consideram modesta a redução pretendida pela estatal no prazo de quatro anos, ao passo que a população foi convocada a reduzir o consumo em 30%, sob pena de racionamento e sobretaxa.

Para quem conhece bem o setor, a companhia deveria investir mais em tecnologia e estrutura para não depender apenas da redução do consumo das pessoas e empresas para escapar da escassez hídrica. “Como empresa de capital aberto, a Copasa não faz investimentos na rede pública”, critica o professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Apolo Heringer Lisboa. “Para compensar as perdas, por que a Copasa não cobra água da indústria, do agronegócio e da mineração? Esses setores pagam um centavo de real por litro”, questiona.

O Sindágua-MG também acredita que é possível reduzir ainda mais o volume do desperdício, desde que a Copasa invista na rede pública. Segundo o sindicato que representa os trabalhadores dos setores de água e esgoto, as perdas aumentaram por falta de fiscalização efetiva dos serviços terceirizados.

“Como a Copasa não fiscalizou, caiu a qualidade dos serviços contratados. A empreiteira usa material de qualidade inferior e não faz a ligação de forma adequada”, destacou o diretor de comunicação do Sindágua-MG, Rogério Matos.

Ele destaca que BH e região metropolitana tinham índices de perda na distribuição entre 21% e 26%. “Os últimos cinco anos foram o período em que mais cresceu a perda de água tratada”, informou.

Países com escassez hídrica perdem menos de 10% da produção

A repercussão da crise hídrica em São Paulo e Minas Gerais já é mundial, de acordo com o professor norte-americano Richard Meganck, ex-reitor do Unesco-IHE Water Education Center, sediado na Holanda. O motivo do reflexo é o fato de o país deter 16% da água doce do mundo e, a princípio, não deveria enfrentar esses problemas.

Meganck destaca que o Brasil é um dos países que mais desperdiça água no mundo, ao contrário de outros que convivem com escassez de água doce, como Japão, Holanda e Portugal, que têm índices de perdas inferiores a 10%. Lisboa, Tóquio e Berlim desperdiçam de 3% a 4% da água que produzem, ou seja, dez vezes menos que a Copasa.

Estudo do Instituto Trata Brasil mostra que a redução de 10% nas perdas no país agregaria R$ 1,3 bilhão à receita operacional com água, equivalente a 42% do valor investido em abastecimento de água em 2010.

Ciente dos problemas de gestão e falta de planejamento do setor hídrico no país, Meganck brinca: “na era da falta d’água, os ‘sortudos’ brasileiros, donos de 16% da reserva potável do mundo, pagarão mais caro por ela”.

Desperdício Entre a oferta de 15 mil litros de água por segundo e um consumo de 9 mil l/s, a empresa tem perda média de 40% na etapa de distribuição na RMBH. "Seis mil litros por segundo é um número de perda escandaloso", reconheceu o diretor de Operações da Copasa, Rômulo Perilli, durante audiência pública na Câmara da capital.    Para atacar o desperdício, a população mineira foi convocada a reduzir o consumo (os índices de economia são de 20% para o consumo humano, 25% para a agropecuária e irrigação, 30% para a indústria), sob pena de racionamento e sobretaxa para moradias com consumo elevado de água. Sobre a crítica à falta de investimentos na rede pública, a empresa não se posicionou.   Dentre os modelos de racionamento que entrarão em vigor a partir de maio, com base nota técnica/declaração de escassez hídrica dada à Copasa pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). estão o rodízio, redução da vazão, manejo interno do fluxo e alternância dos dias de abastecimento por região.   

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