Teste rápido não garante segurança antes de festa ou churrasco; entenda como funciona

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
07/07/2020 às 18:20.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:57
 (Pixabay)

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Mais facilmente encontrado pela população e com um custo acessível, o teste sorológico para o novo coronavírus vem sendo usado por muitas pessoas antes da realização de encontros presenciais, na tentativa de evitar a transmissão da doença. Há quem acredite que um churrasco, um encontro familiar ou uma reunião profissional estarão seguros se todos fizerem testes rápidos. Mas especialistas avisam: o exame sorológico ( que verifica a presença dos anticorpos IgM e IgG) não é capaz de atestar se um indivíduo está com Covid-19 no momento ou não. Por isso, é ineficiente para evitar a transmissão. O exame é feito através da coleta de sangue e o resultado sai em até 30 minutos.

Oa testes rápidos são indicados para inquéritos e avaliações epidemiológicas para saber quantas pessoas já tiveram contato com o vírus em um determinado grupo, mas não são adequados para verificações individuais. “(O teste) detecta o anticorpo em um período final da infecção ou está diagnosticando algo que aconteceu no passado. E há indivíduos em que se verifica uma demora de 18 dias para aparecer anticorpo”, explicou o hematologista Rafael Jácomo, diretor técnico da Sabin Medicina Diagnóstica, durante um seminário promovido pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) nesta terça-feira (7).

O médico lembra que a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é realizar testes em indivíduos sintomáticos, para que esses possam ser isolados e não transmitam para outras pessoas. Nesses casos, utiliza-se o RT-PCR, que verifica se há material genético do vírus nas vias aéreas do indivíduo. Para fazer o exame, são coletadas amostras de secreções do nariz ou da garganta do paciente com o uso de um cotonete. O laudo sai em alguns dias. 

Mas o desejo de testes, para a retomada das atividades, fez com que a procura por exames fosse motivada por outras demandas. “Parece que virou um sonho de consumo fazer um exame”, disse.

Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, o teste rápido não oferece garantia de nada. “Se der negativo, não é possível descartar o fato de a pessoa estar infectada e transmitindo. Se der positivo, não quer dizer que ela esteja doente no momento. Possivelmente, ela já está curada e não transmite mais”, explicou. O infectologista explica que os testes para Covid (tanto sorológicos quanto de PCR) devem ser feitos com acompanhamento médico.

Confira aqui um vídeo do Hoje em Dia que explica as diferenças entre o teste rápido (sorológico) e o exame RT-PCR. 

 Em empresas

Além de ser usado pelo poder público para mapeamento da epidemia, o teste sorológico também pode ser valioso para empresas, de acordo com Jácomo. Uma possibilidade é planejar o ambiente de trabalho intercalando profissionais que já testaram positivo para a Covid-19 com outros que ainda não tiveram contato com o vírus. Dessa maneira, as chances de haver surtos em áreas com muitos empregados (como fábricas e mineradoras, por exemplo) são mitigadas.

Mas o médico alerta: é preciso levar em conta que os testes podem ter resultados falsos. “Não estou dizendo que um indivíduo que testou positivo está protegido, mas ele tem uma chance maior de ter tido contato com o vírus e talvez esteja imune. Mas isso não quer dizer que ele não pode deixar de usar equipamentos de proteção individual e coletiva, essa preocupação não deve se extinguir em nenhum contexto de testagem”, explicou.

Anvisa

De acordo com a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), os testes rápidos (IgM/IgG) não têm função de diagnóstico (confirmação ou descarte) de infecção por Covid-19. O diagnóstico deve ser feito por testes de RT-PCR, segundo a Agência. Confira um tira-dúvidas publicado pela agência sobre os testes rápidos:

A partir de quantos dias após o início dos sintomas é recomendado fazer um teste rápido?

Como a produção de anticorpos aumenta a cada dia a partir do início da infecção pelo vírus, é preciso que haja uma quantidade mínima de anticorpos que o teste consiga detectar. Este período entre o início dos sintomas e a detecção dos anticorpos em exames é chamado de janela imunológica. Sendo assim, a imunocromatografia para anticorpos (IgM e IgG) é indicada para exames a partir de pelo menos oito dias após o início dos sintomas. A utilização de testes rápidos antes desse período pode levar a resultados negativos mesmo nas pessoas que possuem o vírus e produziram anticorpos, sendo, portanto, um resultado “falso negativo”.

Quando devo fazer os testes rápidos (IgM/IgG)?

Recomenda-se que tais testes sejam realizados em indivíduos que apresentem ou tenham tido os sintomas da Covid-19 há pelo menos oito dias. Os testes RT-PCR devem ser utilizados quando houver sintomatologia compatível ou houver necessidade de confirmação da infecção. Os testes rápidos (IgM/IgG) têm relevante utilização no mapeamento do status imunológico de uma população (que já teve o vírus ou foi exposta a ele). Tal mapeamento pode contribuir de forma positiva no processo de relaxamento das medidas restritivas, ou seja, quando do controle pandêmico, o mapeamento imunológico terá significativa relevância por ocasião do retorno das atividades.

Se o resultado do teste rápido (IgM/IgG) for POSITIVO isso indica que tenho Covid-19?

Não. Testes rápidos (IgM/IgG) NÃO têm função de diagnóstico (confirmação ou descarte) de infecção por Covid-19. O diagnóstico de Covid-19 deve ser feito por testes de RT-PCR. Testes rápidos positivos indicam que você teve contato recente com o vírus (IgM) ou que você já teve Covid-19 e está se recuperando ou já se recuperou (IgG), uma vez que indicam a presença de anticorpos (defesas do organismo). No entanto, os anticorpos só aparecem em quantidades detectáveis nos testes pelo menos oito dias depois da infecção. Ainda assim, o teste pode ser positivo indicando que você teve contato com OUTROS coronavírus e não com o SarsCoV-2 / Covid-19 (falso positivo). Assim sendo, esse teste isolado não serve para diagnosticar (confirmar ou descartar) infecção por Covid-19. O diagnóstico da infecção pelo novo coronavírus deve ser feito por testes de RT-PCR.

Se o resultado do teste rápido (IgM/IgG) for NEGATIVO isso indica que não tenho Covid-19?

Não. Testes rápidos (IgM/IgG) NÃO têm função de diagnóstico (confirmação ou descarte) de infecção por Covid-19. Diversos fatores influenciam os testes, tais como a sensibilidade/ especificidade e a condição do paciente (reposta imunológica). • Testes rápidos (IgM/IgG) negativos indicam que você não tem anticorpos contra a Covid19. Considerando que esses anticorpos somente surgem em quantidade detectáveis alguns dias (pelo menos oito) depois da infecção, o teste somente tem alguma significância após esse período. Se sua carga imunológica (quantidade de anticorpos) for baixa, o teste pode ter um falso negativo. Assim sendo, esse teste isolado não serve para diagnosticar (confirmar ou descartar) infecção por Covid-19. O diagnóstico da doença deve ser feito por testes de RT-PCR.

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