Testes com vacina chinesa começam em BH e resultados serão acompanhados ao longo de 12 meses

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
31/07/2020 às 16:56.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:10
Imunizantes serão aplicados em crianças de 3 a 4 anos (TV UFMG/CEDECOM/Reprodução)

Imunizantes serão aplicados em crianças de 3 a 4 anos (TV UFMG/CEDECOM/Reprodução)

A UFMG deu início nesta sexta-feira (31) à terceira fase de testes do CoronaVac, uma das vacinas em estudo contra o novo coronavírus, mas será preciso ter paciência para verificar a eficiência do produto desenvolvido na China. De acordo com Mauro Teixeira Martins, coordenador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), o estudo será realizado ao longo de 12 meses, que começam a ser contados a partir da aplicação da dose no último voluntário.

Segundo Martins, não é possível adiantar se os pesquisadores terão dados suficientes para atestar a eficácia da CoronaVac. “É possível para janeiro? Possível. Provável? Difícil estimar”, afirmou Martins, durante coletiva on-line. “Por protocolo, temos que acompanhar por 12 meses. O que vai definir a velocidade dos resultados é o quanto [a vacina] vai se mostrar eficaz durante o estudo”.

O pesquisador explicou que há diversos dados referentes a cada voluntário que devem ser levados em conta antes do teste e durante o monitoramento. Ele garantiu ainda que, embora todo o trabalho esteja sendo feito em uma velocidade maior do que o normal para a produção de vacinas, as empresas envolvidas e as agências regulatórias (Anvisa, no caso brasileiro) estão seguindo todos os protocolos de segurança.

Primeiros vacinados 

A fase 3 da vacina chinesa conta com 9 mil voluntários de diversas partes do país. Em Belo Horizonte, as doses duplas serão aplicadas em 852 profissionais de saúde que atuam na linha de frente do tratamento de pacientes com Covid-19. Até o momento, mil pessoas já se voluntariaram para participar do estudo.

Os testes estão sendo realizados no Centro de Saúde do bairro Jardim Montanhês, na região Noroeste de Belo Horizonte. A equipe responsável por esse trabalho em Minas conta com 30 pessoas, entre médicos, enfermeiros, técnicos, entre outros.

Segundo Martins, o estudo é randômico, ou seja, parte dos voluntários receberá a candidata vacinal, enquanto outro grupo ficará com o placebo, mas os profissionais não sabem qual será a dose aplicada. No momento em que um número considerável de casos positivos de Covid for constatado entre os voluntários, os pesquisadores poderão avaliar quantos dos doentes receberam a CoronaVac e quantos ficaram com o placebo, chegando asssim a conclusões sobre a eficácia da vacina.

Enquanto os testes são realizados, o Instituto Butantan já se prepara para produzir mais de 100 milhões de doses. A intenção é imunizar rapidamente a população brasileira assim que a eficácia da vacina for comprovada. Na última segunda-feira, o governador de São Paulo, João Doria, afirmou que a CoronaVac poderá ser distribuída gratuitamente para grande parte da população brasileira a partir de janeiro. 

Segurança

O pesquisador também explicou que as duas fases de estudo realizadas na China (com animais e poucos indivíduos) indicaram que a vacina é segura, mas as reações raras só poderão ser detectadas no momento em que houver o monitoramento de um grande número de pessoas que receberam a CoronaVac.

“Até chegar aqui, essa vacina passou por várias etapas, como qualquer outra candidata vacinal. Tudo aconteceu muito rápido, numa velocidade que chamo de velocidade pandêmica, mas todo ensaio clínico visa a segurança em primeiro lugar”, explicou o pesquisador. “Se chegou até aqui, é porque houve indicação de segurança, mas os efeitos raros só são vistos quando o estudo é feito em milhares de pessoas. Se estamos fazendo, é porque o risco é baixo e o benefício é muito maior do que o risco”.

Como há um contrato de sigilo entre biofarmacêutica Sinovac Biotech e os parceiros brasileiros (coordenados pelo Instituto Butantan, em São Paulo), Martins não pode passar detalhes sobre a CoronaVac. “Mas posso dizer que ela utiliza vírus duas vezes inativado, para garantir que realmente esteja inativo na vacina”.

Voluntários

A CoronaVac está sendo testada entre os profissionais de saúde, porque este é um grupo mais exposto à pandemia de Covid. Além de ter de ser um agente com contato intenso com pacientes diagnosticados com a doença, os voluntários devem seguir alguns requisitos:

• não ter sido contaminado pelo novo coronavírus

• não participar de outros experimentos

• ausência de gravidez

• não ter intenção de engravidar nos próximos meses

• não apresentar doenças crônicas

• não fazer uso de medicamentos contínuos

• ter registro ativo no conselho profissional de seu ofício.

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